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Ano 2010

Violência doméstica abrange todas as classes sociais

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A violência doméstica é um problema transversal a todas as classes sociais. Variam os motivos, as idades e a freguesia onde acontece, mas é uma realidade em todo o concelho da Trofa.

A 4 de Novembro, “Manuela” (nome fictício), de 53 anos, foi detida pela GNR da Trofa depois de ter ferido o companheiro na garganta, com uma faca de cozinha. A mulher terá reagido aos dois murros que diz ter levado do companheiro, que chegou ao quarto alcoolizado. Por precaução, “Manuela” foi transportada para uma instituição que presta apoio à vítima, mas o tribunal decretou que se apresentasse periodicamente no posto mais próximo da sua residência.

Este foi o desfecho de um caso de violência doméstica, na freguesia de Alvarelhos, que era já conhecido dos vizinhos. Nunca ninguém denunciou a situação, mesmo sendo a violência doméstica um crime público.

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Numa outra situação, “João” (nome fictício) bateu na filha menor “Adriana” (nome fictício) fez queixa do progenitor no posto da GNR local, acusando-o de agressões físicas.

Ao contrário do caso anterior, esta é uma família de posses e os pais terão levado a filha a uma unidade hospitalar privada, onde terá recebido tratamento. De acordo com fonte policial, os responsáveis do hospital terão, ainda, colocado alguns entraves ao decorrer do processo, nomeadamente ao não entregar, de forma imediata, um documento onde constasse que a menor foi tratada devido a agressões.

Estes foram apenas dois dos casos que deram entrada no posto da GNR da Trofa ao longo deste ano. O sargento Emídio Rodrigues, da GNR local, explicou ao NT que “a violência doméstica abrange todas as classes sociais” e “esse é um dos principais problemas”. “Há aquela violência doméstica encoberta, geralmente em classes mais favorecidas, e depois há violência doméstica mais denunciada e espalhafatosa, que é mais comum nos estratos da sociedade desfavorecidos”, esclareceu.

Também as origens destes problemas são diferentes consoante o nível social: “Problemas económicos e álcool, agravados pela baixa escolaridade e pela ausência de estruturas sociais” são as principais causas da violência doméstica nas classes mais baixas. Já na alta sociedade, “a vergonha” leva a que a denúncia seja sempre o último recurso. “Certos luxos e vícios” reservados a quem tem poder económico e “a convivência entre o casal como, por exemplo as saídas de cada um” são as principais causas para a violência doméstica. E na Trofa há todas estas situações, ainda que “a vergonha” dite que as queixas surjam maioritariamente de pessoas com menos posses.

O militar evidencia, ainda, que parte das queixas por violência doméstica no concelho são feitas “sem grande alarido”, pois “envolvem pessoas que estão inseridas de forma activa na sociedade” e que não querem que o caso seja conhecido.

Embora S. Martinho de Bougado apresente o maior número de denúncias, “não se pode dizer que na cidade há mais violência, porque, nas freguesias rurais, as pessoas também denunciam menos, devido à vergonha e ao facto de todos se conhecerem entre si”.

Verão é época mais propícia à violência

O pico de denúncias por violência doméstica, tanto na Trofa como a nível nacional, acontece no tempo quente. “Neste período, as pessoas estão mais desinibidas, saem mais, consomem mais álcool, as cenas de ciúme aumentam”, esclareceu Emídio Rodrigues, atestando que, no Verão “há aumentos brutais” do número de casos, quase todos relativos a situações em que a mulher é a vítima.

Na Trofa, ainda são ínfimas as denúncias em que os homens são o alvo. “Prevalece a mentalidade do ‘homem da casa’, como principal fonte de rendimento da família. No entanto, a nova geração de raparigas e mulheres já começa a despertar e a mudar essa ideia”, esclareceu o sargento.

Normalmente, a violência física e a psicológica estão associadas e as denúncias surgem em casais com idades entre os 25 e os 40 anos. Também durante o período de namoro, em faixas etárias mais novas, as queixas têm aumentado. 

Filhos batem nos pais por causa da droga

A violência sobre idosos e os casos de filhos que batem nos pais também são uma realidade no concelho da Trofa. A causa é quase sempre a mesma: “Tráfico de estupefacientes”. O militar explicou que os filhos “querem dinheiro e muitos não trabalham, tendo os pais de os sustentar”. “O grande problema da juventude são os estupefacientes, o que acaba por arrastar toda a família”, alertou.

Nunca é demais lembrar que a violência doméstica é um crime público e quem tiver conhecimento de alguma situação pode e deve denunciar o caso no posto da GNR da Trofa. A denúncia pode ser feita de forma anónima e Emídio Rodrigues garante que “são tomadas medidas imediatas para proteger a vítima”. Para fazer denúncia, pode contactar o posto da GNR através do número de telefone 252 499 180.

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