Crónicas e opinião
Folha Liberal | União de Freguesias em Portugal: Uma análise das Vantagens e Desvantagens
” Parece-me, por isso, natural que muitos, especialmente os Bougadenses de Santiago, tenham o anseio de voltar a ser uma freguesia distinta, o que não me causaria nenhum problema caso viesse a acontecer.”
A reforma administrativa que levou à união de freguesias em Portugal, em 2013, gerou um debate intenso sobre os seus impactos. Muitos foram contra a união das freguesias, sobretudo pela forma como a reforma foi implementada, sem considerar a vontade das pessoas das próprias freguesias. Embora tenha sido apresentada como uma medida para otimizar a gestão territorial e reduzir custos, a realidade no terreno revelou um quadro muito mais complexo, com vantagens e desvantagens que persistem até aos dias de hoje.
Em teoria, são várias as vantagens da união de freguesias, nomeadamente:
Eficiência e economia de escala: A concentração de recursos humanos e financeiros em menos freguesias pode levar a uma gestão mais eficiente e à redução de custos operacionais, como, por exemplo, na manutenção de infraestruturas;
Melhoria na prestação de serviços: Com mais recursos, as novas freguesias podem, em teoria, oferecer uma gama mais ampla e de melhor qualidade de serviços aos cidadãos;
Planeamento estratégico mais abrangente: Um olhar mais amplo sobre o território permite um planeamento estratégico mais coerente e integrado, considerando as especificidades de cada zona.
Por outro lado, existem também muitas desvantagens da união de freguesias, principalmente:
Perda de identidade local: A união de freguesias pode levar à perda de identidade local e de um sentimento de pertença à comunidade mais próxima;
Distanciamento dos serviços: Em freguesias com grandes extensões territoriais, a distância até aos serviços pode aumentar, dificultando o acesso para alguns cidadãos;
Dificuldade de representação: A representação dos interesses de cada núcleo populacional pode tornar-se mais complexa, especialmente em freguesias com grande diversidade de características;
Resistência das populações: A imposição da reforma sem uma ampla discussão com as populações locais gerou, em muitos casos, resistência e desconfiança em relação ao processo.
Devemos também ter em atenção que a união de freguesias pode afetar a participação dos cidadãos, uma vez que as assembleias de freguesia tendem a ter um número menor de membros e as distâncias a percorrer para participar nas reuniões podem ser maiores. Da mesma forma, sabemos que a união de freguesias com realidades socioeconómicas muito diferentes pode acentuar as desigualdades existentes, beneficiando mais algumas zonas do que outras.
Passados pouco mais de 10 anos sobre esta reforma administrativa, a avaliação dos resultados da união de freguesias é muito complexa. Parece-me indesmentível que a reforma trouxe algumas vantagens em termos de eficiência e gestão. Sou, por isso, favorável à união de freguesias, de forma geral.
Mas, como tudo na vida, também teve impactos negativos, nomeadamente, em algumas freguesias, a perda de identidade local e o aumento das desigualdades, que não podem ser ignorados.
Parece-me que esse pode ser o caso na União de Freguesias de Bougado. Lembro-me bem da “rivalidade” que sempre existiu entre as duas freguesias Bougadenses, e até entre as duas paróquias. Parece-me, por isso, natural que muitos, especialmente os Bougadenses de Santiago, tenham o anseio de voltar a ser uma freguesia distinta, o que não me causaria nenhum problema caso viesse a acontecer.
A solução ideal passa por uma análise caso a caso, tendo em conta as especificidades de cada território e as necessidades das populações locais. É fundamental garantir uma participação efetiva dos cidadãos no processo de tomada de decisão e promover uma gestão territorial mais próxima das realidades locais.
De qualquer forma, não me parece razoável que, de repente, se volte à situação anterior a 2013, até porque, em algumas situações, não tenho dúvidas de que apenas se esteja a tentar “dividir para reinar”.
Crónicas e opinião
Escrita com Norte | Febre de sábado à noite
“Já passou uma eternidade desde os meus tempos de “morcego”… já não sei aonde ir! Tinha que perguntar.”
Logo vou jantar com a A, com a B, com a C, com a D e com a E. Queres vir? Não queres pois não?
Não. Vai tu! – respondo.
A pergunta a condicionar a resposta, poderia ser apenas a transmissão do facto, “Logo vou jantar com as minhas amigas e tu não vens.”.
Nos últimos tempos as minhas noitadas de sábado são no máximo até às sete e meia da tarde, quando prolongo um pouco mais o meu treino no ginásio, mas hoje, só hoje, seria diferente e a noitada seria de arromba, quem sabe até à meia noite!
Depois de jantar vou para o quarto de vestir onde me preparo: cinto castanho, da cor dos sapatos com fivela, calças de ganga de modelo bonito, camisa e blazer azul.
Olho-me ao espelho, a cara brota um sorriso e sinto-me em modo “pito”.
Vou sair. – digo a mim mesmo e de imediato pergunto-me – Mas como é que se sai?
Já passou uma eternidade desde os meus tempos de “morcego”… já não sei aonde ir! Tinha que perguntar.
Telefono ao meu amigo Miguel, solteiro, que não me atende, mas mais tarde envia-me uma mensagem a dizer que está numa festa em Santo Tirso. De seguida telefono ao meu amigo Nando, divorciado e a morar em Famalicão… não atendeu e iria telefonar-me no dia seguinte, não lhe atendi! Deveria querer saber aonde se vai ao domingo à tarde, vou-lhe dizer amanhã, segunda-feira!
Saio de casa e ao entrar no carro decido ir a Santo Tirso, ao fundo da minha rua mudo de ideias e, decidido, corto para Famalicão e ao cimo da estrada faço inversão de marcha e retomo a estrada para Santo Tirso.
Chegado à cidade estaciono o carro no sítio do costume, quando lá vou durante o dia, e dirijo-me para o centro, uma zona de bares e esplanadas. O tempo estava agradável e muita gente passeava na rua, novos, velhos, grupos de amigos e casais, alguns a correr num jogging nocturno e outros a passearem os cães. Decidi-me por uma esplanada, dirijo-me ao balcão e peço um café à menina que me atende, que sorriu… e eu sorri e sentia-me… bem… tinha vinte anos outra vez e a aliança no dedo anelar era mais um acessório como o cinto castanho!
Paguei e saí… depois de cinco passos, bem contados, olhei para trás e a miúda estava a atender outra pessoa, de perfil para mim, quase que olhou… a noite era minha!
De regresso à Trofa e com o ponteiro das horas quase a bater as doze, passo no café/bar Malte, que fica a caminho de minha casa e que apenas conheço na dimensão “café”, quando lá passo durante o dia para tomar… café.
Havia um concerto acústico e pela primeira vez, neste espaço, peço uma cerveja. Encontrei gente amiga que não encontro durante o dia e que os conheci, há muitos anos, depois das vinte e três horas. Ao balcão e convicto que elas não me queriam ver só de costas olhei para as mesas… as miúdas estavam felizes, bem acompanhadas pelos namorados e amigas!
Num momento em que olhava para as minhas mãos, sinto um chapadão nas costas acompanhado por um viçoso:
CALHEEEIIIIIROSSS!
Era o meu amigo Mário Velhote, personagem que conheço há mais de trinta anos e já na altura tinha este nome. O Mário é simpático, nas discotecas passava o tempo na pista a dançar (para mim a tentar não cair) e sempre que o encontro, desde o dia que o conheci, está bêbado.
Na conversa possível, entre alguém sóbrio e um amigo bêbado, o Mário diz de forma bem audível para quem quisesse ouvir:
O Calheiros era o rapaz mais bonito da Trofa!
Com a frase fiquei mais embriagado que o próprio Mário e, como um adolescente numa saída de sábado à noite, digo-lhe:
Queres curtir comigo?
O Mário, que só gosta de cervejas, vira-me costas e vai-se embora!
Esqueci-me que além de meu amigo, o Mário só é bêbado! Olho para o relógio e é meia noite e quinze.
Crónicas e opinião
Memórias e Histórias da Trofa: Diest – o homem que iria revolucionar o futebol do Clube Desportivo Trofense
“Uma personalidade de feitio “complexo”, habituado a outros palcos, nomeadamente mais mediáticos, era visto pelos seus pupilos como um visionário, mesmo como um revolucionário, conferindo novos métodos de trabalho ao clube, colocando-o na rota do sucesso. “
Ao longo da sua história, o Clube Desportivo Trofense teve sempre vários treinadores que se foram destacando no desempenho das suas funções, conseguindo conquistar importantes títulos para a história desta coletiva.
O primeiro treinador do grémio foi o célebre jogador do Futebol Clube do Porto, Júlio Cardoso que era natural de Lisboa e que anos antes tinha trocado o Sport Lisboa e Benfica pelo referido clube da cidade invicta e que após terminar a sua carreira assumiu o cargo de treinador do Trofense.
Os anos foram-se passando e após uma travessia no deserto que durou até aos anos cinquenta, poucos seriam os treinadores que teriam igual destaque no futebol do Trofense
Contudo, a situação mencionada no parágrafo anterior iria mudar com a chegada do treinador Diest, que tinha nacionalidade espanhola e entraria para a história desta instituição desportiva porque foi no seu comando que iria ascender o Clube Desportivo Trofense, duas vezes consecutivas de divisão, deixando de jogar na 3ª. e última divisão distrital para rapidamente atingir o patamar máximo do futebol distrital.
Uma personalidade de feitio “complexo”, habituado a outros palcos, nomeadamente mais mediáticos, era visto pelos seus pupilos como um visionário, mesmo como um revolucionário, conferindo novos métodos de trabalho ao clube, colocando-o na rota do sucesso. Os seus métodos de treino terminavam com tudo o que era realizado até ao momento e que possivelmente eram os causadores dos falhanços desportivos, até porque eram várias as tentativas de promoção que não se confirmavam.
Originalmente, Diest foi contratado para ser jogador-treinador, ocupando as duas funções caso fosse necessário, todavia, acabaria por se distinguir como treinador.
O clube anterior à sua chegada ao Clube Desportivo Trofense, foi o Sport Club Vianense que disputava a 3ª Divisão do Campeonato Nacional.
A sua contratação deveria ter sido barata, atendendo a transitar dos escalões nacionais para o futebol distrital, porém, foi uma decisão acertada dos dirigentes trofenses que conseguiram elevar o futebol da sua instituição para um nível até então desconhecido.
As suas primeiras contratações para preparar a época 1965/66 seriam as seguintes: Amarante, Cabrita e David (ex: Tirsense), Octávio (ex: Rio Ave) e Fonseca (ex: Boavista).
Um Rio Ave Futebol Clube que estava longe da realidade que nos presenteia hoje em dia, como também o Boavista Futebol Clube que caminhava pelos campeonatos distritais naquele seu momento da história.
Contudo, não deixa de ser relevante a capacidade de “roubar” jogadores a clubes de outros escalões e até mesmo aos rivais.
Os seus treinos funcionavam através do prévio planeamento, – não se tomavam decisões arbitrárias – e assentavam em dois formatos, nomeadamente os treinos físicos e os treinos com bola.
Introduzindo mais elementos relativamente aos treinos físicos que eram bastante intensos, eis que na pré-época, os atletas realizavam quatro treinos semanais, sendo que três deles privilegiavam a componente física, nomeadamente às terças, quartas e sextas-feiras, deixando o contacto com a bola para a quinta-feira.
Ouvindo alguns dos seus antigos atletas que, infelizmente, já partiram, eram comuns os reparos à carga física que incutia nos seus treinos, sendo normais os “crosses” até S. Gens, indo e vindo a correr até ao estádio. A sensação que com um treino mais intenso, ocorreria uma melhor preparação e obviamente uma melhor resposta nos jogos.
Um apontamento também deve ser referido à carga psicológica que ele colocava nos seus jogadores, um elevado nível motivacional, transmitindo sempre que possível uma dose elevada de confiança.
Não existem receitas mágicas no futebol, contudo, uma verdade deve ser bem clara, os resultados apareceram e como foi explicado anteriormente, em duas épocas apenas, ocorreram duas subidas de divisão, fazendo com que este timoneiro ficasse na história do clube.