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Edição 587

Uma ponte com que valor?

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A Câmara Municipal e a Metro do Porto estão do mesmo lado na hora de responder sobre a valia patrimonial e arquitetónica da ponte. Argumento não comungado por muitos trofenses, como o historiador Moutinho Duarte e o empresário Eurico Ferreira, que foram duas das vozes que se levantaram em defesa da ponte.

A autarquia, em comunicado publicado na internet, afirmou que consultou “os serviços competentes”, que “concluíram” que “não encerra qualquer valor patrimonial arquitetónico ou cultural, sendo que o próprio Plano Diretor Municipal da Trofa não o qualifica como salvaguarda patrimonial classificada ou em vias de classificação”.
Já a Metro do Porto, em resposta às questões enviadas pelo NT, afirmou que “a infraestrutura não tem – nunca tal foi formal, oficial ou sequer academicamente documentado -, qualquer tipo de valor patrimonial ou arquitetónico” e que “há mais de 14 anos -, esta infraestrutura tornou-se desnecessária e inútil, constituindo apenas um pesado encargo, dados os custos da sua manutenção, uma responsabilidade e um risco”.
Esta posição choca com as declarações de Conceição Campos, membro do executivo da Junta de Freguesia do Muro, na noite da demolição, que afirmou que falou “com a arqueóloga da Metro do Porto, que fez um estudo que apresentou à empresa, no qual referia que a ponte deveria ser considerada património cultural e que não deveria ir abaixo, mas sim fazer-se uma intervenção, uma vez que uma alteração à estrada daria para solucionar o problema” da circulação rodoviária e que foi um dos argumentos da Metro do Porto para justificar a demolição.
Por outro lado, houve outras vozes que se levantaram e que exaltaram a valia patrimonial, histórica e arquitetónica da infraestrutura. Algumas fizeram-se ouvir há já muitos anos, quando se colocou em cima da mesa, pela primeira vez, a possibilidade da demolição. O historiador Moutinho Duarte, do Muro, foi um dos rostos da defesa da ponte, que já em 2007, em artigo publicado no antigo Jornal da Trofa, defendia que esta – nascida em propriedade do avô materno – era uma “obra de arte emblemática da freguesia de S. Cristóvão do Muro”, com “vão de 19 metros e arco de 89 aduelas”. “Inutilidade futura? E o aqueduto de Vila do Conde, ainda serve para abastecer de água o Convento das Clarissas? Ameaça ruir? E a ponte da Carriça, sob a qual passava o comboio, que foi à pressa – e ainda está! escorada?”, argumentava.
Naquele artigo, publicado a 15 de junho de 2007, Moutinho Duarte temia que a ponte, tendo precedido ao seu nascimento, também lhe precedesse na morte. Foi o que aconteceu.
Outro dos “gritos de alerta” foi dado pelo trofense Eurico Ferreira que, na Assembleia Municipal de dezembro de 2015, considerava a demolição “um crime” e apelava a que não se fizesse “a mesma coisa” que se fez à Ponte Pênsil. “(A Ponte da Peça Má) é uma obra de arquitetura, não tem uma fissura nem uma pedra deslocada, tem é agressões, mas é uma obra para durar séculos e séculos”, defendeu. Mas durou apenas mais oito meses.
Já Manuel Silva, vereador do Partido Socialista da Câmara da Trofa, que também defendeu, em muitas ocasiões, a preservação da ponte, explicou ao NT que a estrutura “tinha um valor material pela natureza da construção em alvenaria”, que era “símbolo de uma época e de um tempo em que o ferro já estava a substituir a pedra”. “Procurei pelo país e não encontrei nenhuma ponte com um arco daquelas dimensões, com aquele número de aduelas e dimensão de vão”.
Mas “também vale do ponto de vista imaterial”, defende, porque “fazia parte da paisagem” e “ainda podia ter uma função”. “Ela estava feita para a eternidade”, considera.
A exercer funções de vereador sem pelouro, eleito pelo PS, Manuel Silva preparava, “para setembro”, a apresentação de uma moção na autarquia para levar o executivo camarário a “rapidamente sinalizar a aproximação à ponte, dando-lhe condições mínimas de segurança” e “fazer estudos necessários como é que podia ser resolvida a situação” da circulação rodoviária. Para Manuel Silva, a demolição “foi um desrespeito pelo património, pela memória e pelas pessoas que acreditaram que se encontraria melhor solução e para isso não foi tudo feito”.
“Quem não preserva o passado, não consegue assegurar o futuro”, lamentou.

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