Trofa
Trofense leva conceito de casas sustentáveis a três continentes
Natural de S. Martinho de Bougado, concelho da Trofa, Mário Roriz é o rosto por detrás da Earthship Experience Portugal, uma organização sediada em Vila Nova de Famalicão que projeta e constrói edifícios sustentáveis com materiais reciclados e energeticamente autónomos.

Natural de S. Martinho de Bougado, concelho da Trofa, Mário Roriz é o rosto por detrás da Earthship Experience Portugal, uma organização sediada em Vila Nova de Famalicão que projeta e constrói edifícios sustentáveis com materiais reciclados e energeticamente autónomos. Com mais de 25 anos de experiência como engenheiro e bioconstrutor, Mário Roriz lidera uma equipa de 20 pessoas que trabalha a partir de Portugal para desenvolver projetos em três continentes: Europa, África e Ásia.
A Earthship Experience tem vindo a ganhar projeção internacional, sendo exemplo de um modelo de construção inovador, económico e ambientalmente responsável. Recentemente, o trabalho de Mário Roriz foi reconhecido com uma nomeação para Homem do Ano pela organização internacional Leaders of All Nations, que distingue líderes com impacto no desenvolvimento sustentável.
“Este tipo de reconhecimento é uma consequência natural do nosso trabalho diário. Mais do que um trabalho, vejo isto como uma missão”, sublinha Mário Roriz, que já participou em projetos humanitários nas Filipinas, Indonésia e Cabo Verde. “É inspirador poder ajudar comunidades que perderam tudo em catástrofes naturais e perceber que, com o nosso apoio, conseguem reconstruir as suas vidas com resiliência e autonomia”.
O conceito Earthship nasceu nos Estados Unidos da América (EUA), onde Mário Roriz recebeu formação especializada. A vontade de trazer esta solução para Portugal surgiu da necessidade de encontrar uma alternativa à construção tradicional, com menor impacto ambiental.

“Procurei um modelo de construção mais sustentável, com baixa pegada de carbono e maior eficiência energética. A formação nos EUA foi determinante para depois adaptar o conceito à realidade europeia e portuguesa, o que foi um grande desafio, sobretudo ao nível dos regulamentos e licenciamento”, explicou.
A Earthship Experience utiliza materiais descartáveis, como pneus, garrafas de vidro, garrafas PET, latas de alumínio e cartão, que são integrados nas paredes e estruturas das habitações. Para além de reduzir os custos de construção – “em média 20 a 30% inferiores às construções convencionais” –, estas casas oferecem elevada eficiência térmica e sísmica. “Os pneus, por exemplo, garantem resistência a sismos e excelente isolamento térmico. Já as garrafas de vidro permitem a entrada de luz natural, com forte impacto estético e funcional”, explicou.

A construção de uma casa Earthship segue os mesmos trâmites de uma casa convencional: inicia-se com projeto de arquitetura e engenharia, obtém-se a licença da câmara municipal e, só depois, avança-se para obra. Hoje em dia, o processo de licenciamento já decorre com normalidade, “ao contrário do que acontecia em 2013, quando projetos que demoravam anos a ser aprovados”, recorda Mário Roriz.
Estas casas são desenhadas para promover a autossuficiência energética e hídrica. Com recurso a painéis solares, turbinas eólicas e recolha e reutilização da água da chuva, a Earthship Experience propõe soluções que reduzem a dependência das redes públicas. “Nem sempre é possível desligar completamente, mas a ideia é minimizar os custos fixos e oferecer ao cliente conforto e liberdade”, detalhou o engenheiro.
Atualmente, o projeto de Mário Roriz conta com uma carteira de clientes diversificada, que vai desde famílias que querem habitações sustentáveis a investidores em ecoturismo e promotores de centros educativos ambientais. A Earthship Experience também desenvolve formações e workshops, para quem quer conhecer melhor o conceito ou mesmo preparar-se para construir a própria casa. “Há cada vez mais pessoas interessadas e projetos a decorrer. Temos propostas em curso para o Quénia, Gana e vários pontos da Europa.”
Questionado sobre o potencial deste modelo como resposta à crise habitacional, Mário Roriz não hesita: “Sem dúvida. Estas casas são mais acessíveis, e há pessoas que constroem com os próprios meios, com a nossa consultoria. É uma forma eficaz de contornar os preços cada vez mais inacessíveis do mercado tradicional”.
Com sede em Famalicão e raízes profundas na Trofa, a Earthship Experience continua com vontade de criar, impacto real em várias partes do mundo. “Queremos empoderar comunidades para um futuro mais sustentável, mais autónomo e mais resiliente”, rematou Mário Roriz.