Edição 599
Trofense constrói casas com material reciclado
E se a sua casa fosse construída com garrafas de vidro, lata e outros materiais reciclados? E se lhe dissessem que esse método de construção existe mesmo e foi um trofense o primeiro português a estudá-lo e a trazê-lo de um estado americano para Portugal? Mário Roriz é nome por de trás da Earthship Biotecture, em Portugal.
Mário Roriz é mais um trofense a dar cartas pelo mundo. Faz de cada aventura, num recanto diferente do globo, o seu escritório. Licenciado em Engenharia Civil e a residir em Vila Nova de Famalicão,
Mário dedicou-se a um novo conceito de construção, Earthship Biotecture, que recorre a materiais reciclados de forma eficiente para construir edifícios.
Em 2012, depois de 20 anos ligado à construção civil, Mário Roriz teve conhecimento deste conceito, “através de várias pesquisas” que fez, “porque acreditava que haveria um conceito de construção alternativo ao convencional”. Identificou-se e partiu à procura de mais formação. Conheceu Michael Reynolds, impulsionador da Earthship Biotecture no New Mexico, um estado americano. “Fui o primeiro português a fazer a formação”, afirmou o trofense. Voltou para Portugal e iniciou alguns projetos. Michael Reynolds convidou Mário para “ir, como instrutor, a outros países para construir edifícios”.
“A base da construção deste conceito são materiais reciclados”, como “pneus, garrafas de vidro e de plástico ou latas de refrigerantes”, dependendo do que cada local tem. “Nós temos que trabalhar sempre com os recursos locais, para minimizar o impacto económico”, Por exemplo, com as “energias renováveis, o sol e a água da chuva, produz-se a própria alimentação através da terra e tratam-se os resíduos”, explicou. “O nosso edifício não deita nada fora, daí vem a redução das contas ao fim do mês”, detalhou Mário Roriz. Além disso, há outras vantagens que o trofense identifica neste tipo de construção: “É um sistema construtivo antissísmico, que tem a ver essencialmente com os pneus, porque têm um peso associado e com terra dentro têm um peso muito grande”. Além disso, “após o tsunami nas Filipinas, em 2014, o edifício não colapsou”, por isso é também considerado anti-tsunami. Embora não esteja provado cientificamente, os edifícios resistiram intactos às catástrofes naturais e isso permite aos arquitetos e engenheiros acreditar na segurança associada a este tipo de construção.
Neste momento, Mário Roriz, acompanhado por uma equipa, leva a cabo um projeto na Indonésia, de onde regressou este fim de semana. “Estamos neste momento a desenvolver um projeto numa ilha que não tinha nada, não era habitada e estamos a criar tudo”, explicou e, continua, “essa ilha é um protótipo que estamos a fazer para ecoturismo, a pedido do Governo indonésio, com 46 habitações”.
O objetivo, “além de apoiar ações humanitárias, é testar o edifício nos limites máximos”. Procuram bons resultados de construção através dos materiais utilizados e a forma como são aplicados. No terreno, ensinam a população local a construir “através deste método”. “Fui para as Filipinas algum tempo depois do tsunami e, do lixo, 80 pessoas construíram uma casa em dez dias”, agora a população está “a replicar aquilo que foi feito”, resumiu.
Novo método de construção é mais barato e rápido
Por cá, pode aplicar-se o provérbio “primeiro estranha-se, depois entranha-se”, uma vez que, segundo contou Mário ao NT, “as pessoas de fora são mais abertas ao conceito”. “Os portugueses, lentamente, estão a abrir-se, porque é um conceito de construção mais barato que o convencional”, comentou.
Mas já há obra feita em Portugal. “Temos uma casa feita em Vale dos Prazeres, que é entre o Fundão e Castelo Branco, e, neste momento, temos projetos em Guimarães, Mafra, na costa alentejana, na zona de Odeceixe e Odemira, e no Funchal”, contou o trofense.
Quanto ao custo, podemos falar de “30 por cento mais baixo do que o convencional”. Supondo “que uma casa convencional custa 100 mil euros, nós conseguimos fazê-la com este conceito por 70 mil”, exemplificou Mário Roriz. “O tempo normal de construção é, para uma casa T2/T3, de cinco a oito meses”, estando dependente da quantidade de pessoas que integram a equipa e das condições atmosféricas. Portanto, um método mais barato e rápido do que o convencional.
Mário Roriz foi pioneiro neste tipo de construção em Portugal. Agora, já tem ao seu lado uma equipa de “cerca de 10 a 20 pessoas” e até uma Academia, a “Academia Earthship Bietcture Portugal”. De momento, estão a “trabalhar mais em projetos de ecoturismo e educativos” do que residenciais e dão “formação a pessoas, escolas e universidades”.
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