Edição 589
Trofa perde mais uma parte da sua história. E onde fica a democracia? – Parte III
Na última edição da minha crónica dei a conhecer a todos os que assim quiseram, que o tema da manutenção/demolição da Ponte da Peça Má tinha sido levada à Assembleia Municipal duas vezes, tendo sido sempre assegurado que a decisão passaria pela Câmara Municipal da Trofa e pela sua população. Cito afirmações do Sr. Presidente da Câmara, Dr. Sérgio Humberto:
«(…) não houve absolutamente mais dado nenhum relativamente de há 1 (um) ano e meio para cá, e portanto, essa decisão a “Metro” não vai tomar sem antes ouvir a Câmara Municipal, e essa decisão não vai ser do executivo municipal, mas sim da população! É uma decisão que tem que ser tomada, que tem que ser ponderada, muito bem ponderada, independentemente das informações que possam existir do ponto de vista histórico e patrimonial. Pode passar por um referendo, pode passar pela criação da comissão, referida pelo Senhor Carlos Martins, para encontrar uma alternativa da manutenção da ponte, sendo que não há decisão nenhuma, o senhor comendador será ouvido, o Prof. Moutinho Duarte, o Dr. Manuel Silva, bem como todas as pessoas que se preocupam com a questão da segurança daquela ponte! (…)»
Fonte: Ata n.º 18 da Assembleia Municipal de 28 de dezembro de 2015, aprovada na Assembleia Municipal de 26 de abril de 2016 com a Presença do Dr. Sérgio Humberto.
Mas se bonito o disse, contrariamente atuou. O Sr. Presidente da Câmara Municipal da Trofa, não ouviu, de acordo com os próprios, nenhum dos nomes citados, e mais do que isso reservou-se a um silêncio comprometedor de quem assinou a certidão de óbito da sua destruição. Afirma não ser responsável pela decisão, mas permitiu sem HONRAR os compromissos assumidos, que outros decretassem a sua “morte”, como se fosse um assunto menor ou desconhecesse as preocupações de vários Trofenses.
Mas e a Assembleia Municipal? Foi informada destes desenvolvimentos? Na passada edição comentava a ironia de na Assembleia Municipal de 24 de abril de 2014 o tema ter sido alvo de alerta por um munícipe. Então, onde ficou a “Sra Democracia” na Trofa? Após o compromisso público do Sr. Presidente da Câmara, em Assembleia Municipal, de permitir o instrumento máximo da participação, um referendo popular, que informações foram partilhados com este órgão?
Pois bem, como alguns saberão tenho a responsabilidade e honra de fazer parte da Comissão Permanente da Assembleia Municipal da Trofa, onde por inerência da minha posição e eleição democrática tenho assento. No próprio dia 2 de setembro, dia da demolição, foi-me solicitada opinião sobre a pertinência de ser convocada uma reunião extraordinária, para esse mesmo dia, face a um conjunto significativo de contactos realizados para a pessoa da Sra. Presidente da Assembleia Municipal a solicitar uma tomada de posição sobre o assunto, segundo esta, tendo assumido posição absolutamente favorável à sua pretensão.
Nesse mesmo dia, no período que antecedeu a hora de jantar, a supra citada comissão, composta pelos elementos da mesa da Assembleia Municipal da Trofa e representantes de cada um dos agrupamentos políticos com assento na mesma, reuniram com carácter excecional e urgente para tomar posição sobre o assunto.
Escusando-me a transcrever na íntegra a ata da reunião deste órgão, embora considerando que a ata deve ser um documento público, porque se trata de coisa pública, esta foi enviada ao Sr. Presidente da Câmara em exercício. Nessa reunião deu-se a discussão sobre os diferentes pontos de vista das forças políticas presentes no que toca à decisão assumida para implementação poucas horas depois, a demolição, partilhando apenas um breve parágrafo da conclusão unanime de todas as forças políticas presentes: «(…) tendo este assunto sido debatido em sede da Assembleia Municipal e face ao compromisso nela assumido pelo Presidente da Câmara, os membros presentes nesta reunião entendem que no respeito pelos membros da Assembleia Municipal deveria a Câmara ter feito uma comunicação institucional do abate da ponte à Assembleia Municipal.»
Cada um saberá o que pensar, mas não vos escondo o que eu penso. Vivemos nesta democracia oca e propagandeada, uma profunda falta de respeito pelo órgão e pelos cidadãos, com ocultação estratégica do tema, para que rapidamente este assunto fosse parte do passado, sem nunca ser tema do presente ou de debate fundamentado. Assim se atua, quando a democracia não funciona.
No próximo número partilharei ainda algumas informações históricas.
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