Edição 488
Trasladação em cemitério de S. Romão envolta em polémica (C/Vídeo)
Transladação ocorrida no dia 4 de setembro, no cemitério de S. Bartolomeu, está envolta em polémica. Susana Ferreira assegura que viu corpo “em decomposição e com as pernas a rasto” ser transportado pelo coveiro. Família desmente, garantindo que ossadas de senhora que faleceu “há 21 anos” estavam “cobertas por um lençol”.
Estalou a polémica em S. Romão do Coronado. O epicentro da controvérsia é o cemitério de S. Bartolomeu, onde a Junta de Freguesia está a proceder a obras de requalificação.
A intervenção já obrigou o executivo a efetuar “três transladações”, informou o presidente da Junta, mas a última, no dia 4 de setembro, ganhou projeção nacional.
Numa entrevista ao Jornal de Notícias, Susana Ferreira afirmava que, na manhã desse dia, se dirigiu ao cemitério para visitar a campa de familiares, quando se deparou com o portão fechado e, quando “estava a ver o horário” do cemitério, viu o coveiro “transportar” um corpo “dentro de uma carrela”, a descoberto, que estava “em decomposição com as pernas a rasto”.
Contactada na manhã de quarta-feira, Susana Ferreira optou por não prestar declarações ao NT, remetendo possível esclarecimentos para esta sexta-feira.
Ana Oliveira, neta da mulher cujos restos mortais foram transladados nesse dia para o geral, na parte inferior do cemitério, negou as afirmações. “A família foi contactada pela Junta de Freguesia, para se proceder à transladação do corpo e questionou se alguém poderia estar presente. Fui eu, uma tia e duas primas minhas. Eu levei um lençol para embrulhar os restos mortais da minha avó. Nem se pode falar num corpo, porque ela faleceu há 21 anos, a 10 de junho de 1993. Foi tudo feito com o máximo de respeito e sigilo possível. O cemitério estava encerrado para que ninguém fosse sujeito a ver aquela situação”, contou.
Ana Oliveira adiantou que se apercebeu que surgiu “uma senhora” que questionou o facto de o cemitério estar fechado, mas que “se meteu no carro e foi embora”. “As ossadas passaram longe do portão, eles (coveiros) atravessaram pela parte mais ao fundo do cemitério para depois descerem pela rampa”, referiu.
A tia, Maria Magalhães, corroborou esta versão, adiantando que “dizer que iam as pernas a arrastar é pura mentira”. “De rastos deve andar a língua dela ao falar dessa forma. Essa senhora (Susana Ferreira) não está a mexer só com o senhor presidente (da Junta de Freguesia), também está a mexer com a família. Diz que não consegue dormir nem comer, porquê? Só se for de remorsos do que está a fazer. Ela merece ter castigo e ser penalizada”, asseverou.
Ana Oliveira afirmou que os familiares “estão muito abalados” com “as mentiras” publicadas “nos jornais” e que o tio e a mãe, filhos da mulher transladada, “podem ter que ter acompanhamento psicológico”.
A defender a história das familiares, Margarida Santos, que vive na casa ao lado do cemitério, garantiu que estava junto de Susana Ferreira. “O que a senhora viu foi a mesma coisa que eu vi. Vimos um pano branco dentro de um carrinho de trabalhos, mas com a ordem da familiar, que eu ouvi. É mentira que ela tenha visto uma perna”, assegurou.
Margarida Santos afirmou ainda que as transladações estão a ser feitas “com muita dignidade” e “humanidade”.
“Tem que haver respeito pelas pessoas que estão no cemitério”
Opinião contrária tem Ricardo Faria, que afirma que esteve no cemitério na tarde de 4 de setembro e viu Susana Ferreira, “nervosa e a tremer”, a “ligar insistentemente para a GNR”. “Fui ter com a menina e perguntei-lhe o que se passava e ela respondeu-me que tinha visto um corpo ser transladado. Eu contei-lhe que tinha presenciado uma trasladação, no dia 19 de agosto, por volta das 5 da manhã, quando me deslocava para o parque da CP para pôr umas grades para as festas de S. Bartolomeu. Deparei-me com muita gente no cemitério, que tinha o portão aberto. Parei e perguntei se tinha acontecido alguma coisa e disseram-me que estavam a transladar uns corpos. Por curiosidade, fui espreitar à grade e para meu espanto vi que na zona onde estavam a mexer estavam pessoas que tinham morrido em novembro”, contou, acrescentando que “estavam presentes familiares das pessoas trasladadas”, a quem questionou se a ação estava autorizada. “A resposta que me deram foi que o presidente (da Junta), por uma questão de querer vender terrenos ou fazer arranjos no cemitério, foi ter com a família para dizer que queria que se trasladasse. Se fosse a minha mãe, eu não autorizava”, sublinhou.
Ricardo Faria acusou o presidente da Junta de se dirigir a Susana Ferreira “com palavras que não são dignas” e pede “respeito pelas pessoas que estão no cemitério”. “Não estou a dizer que não se tem que fazer transladações, mas com dignidade e tempo preciso. Acho que uma pessoa que faleceu em novembro não deve estar em condições de ser trasladada”, frisou.
A história tomou tal proporção que Ricardo Faria diz ser alvo de “ameaças” nos últimos dias e que até foi “aconselhado a deixar de frequentar o café perto do cemitério, onde ia lá muitas vezes”.
Contactada pelo NT, fonte da GNR da Trofa confirmou que esteve presente no local e que, “aparentemente, não foi verificado que estivesse em causa a saúde pública”.
Presidente da Junta vai “agir judicialmente”
Em entrevista ao NT, José Ferreira, presidente da Junta de Freguesia do Coronado, afirmou que as trasladações fazem parte da intervenção da qual o cemitério de S. Bartolomeu está a ser alvo, uma vez que “a falta de dignidade é notória”, assim como “a falta de espaço nos jazigos de família”.
“Há geral misturado com jazigos de família, há sepulturas que não têm fundações e é esse o primeiro trabalho que estamos a fazer. Estamos a construi-las, por uma questão de salubridade e para isso é necessário levantar os restos mortais ali depositados, que só o são com o acordo das famílias”, afiançou.
O autarca afirmou que nas trasladações efetuadas, “as famílias estiveram presentes” e “se alguém viu e se apercebeu de alguma coisa é natural, mas da forma macabra como as coisas estão a ser descritas é ridículo e não passa pela cabeça de ninguém no seu perfeito juízo”. “Quando se diz que o cadáver vinha numa carrela com as pernas a arrastar no chão, estamos a falar de uma senhora que faleceu em 1993. Como é que isso é possível?”, questionou.
Relativamente à transladação no dia 19 de agosto, o edil do Coronado garantiu que se tratou de uma ação que já tinha sido “acordada com a família”.
José Ferreira anunciou que vai “agir judicialmente” contra Susana Ferreira e Ricardo Faria, acusando-os de “falta de respeito e consideração pela Junta de Freguesia e, sobretudo, pelas famílias”.
“Quando vem o filho do ex-presidente da Junta, a namorada dele (Susana Ferreira) e o senhor Ricardo Faria a fazer uma cena destas e criar um caso destes, quando nem sequer lá estiveram presentes, isto demonstra o tipo de pessoas com que estamos a lidar. Lamento a postura de ataque pessoal e difamação, que já vem desde a campanha eleitoral. Estas pessoas ainda não fizeram o luto pelo facto de terem perdido as eleições. Estiveram muito tempo no poder e cometeram muitas falhas e querem desta forma, também, encobrir alguma coisa que ali foi muito mal feito. Em cada caso com que vamos lidando e nos deparando, sobretudo no cemitério, surpreende-nos”, adiantou.
José Ferreira aludiu para o facto de “80 por cento das sepulturas não terem licenças de jazigo, floreiras e placas de memória, cujas receitas deixaram de ser arrecadadas”. “Houve terrenos que foram oferecidos às pessoas, supostamente, porque o dinheiro nunca entrou na Junta”, referiu.
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