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Haver erros nos números, ou interpretar os números conforme a conveniência, acontece “todos os dias”, porque cada um tenta “puxar a brasa para a sua sardinha”. Mas este caso tem contornos muito mais preocupantes do que a simples “batalha de números”.

Diamantino Costa

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Desde que tomou posse, o novo Ministro da Educação estabeleceu como objetivo para este ano letivo reduzir em 90% o número de alunos sem aulas em pelo menos uma disciplina até ao final do 1.º período. Há alguns dias, o Sr. Ministro, juntamente com o Sr. Primeiro-Ministro, veio a público afirmar que (quase) tinha conseguido atingir esse objetivo.

Achei que este seria um bom tema para a minha habitual crónica neste jornal. Afinal, tantas vezes critiquei os governos por fazerem tão pouco para melhorar a vida dos portugueses, e aí estava uma excelente notícia, o que representava uma oportunidade de valorizar o que tinha sido bem feito, e em tão pouco tempo.

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De imediato, o anterior governo veio desmentir o Sr. Ministro, afirmando que os números com os quais ele se baseava eram falsos. No início, pensei que fosse apenas mais um caso em que o atual e o anterior governo interpretam os números de forma diferente. Mas, neste caso, a diferença era tão grande que era de desconfiar.

No fim de contas, o próprio Ministro acabou por admitir que não confia nesses números e que trabalhou com base em dados que não estavam corretos.

Haver erros nos números, ou interpretar os números conforme a conveniência, acontece “todos os dias”, porque cada um tenta “puxar a brasa para a sua sardinha”. Mas este caso tem contornos muito mais preocupantes do que a simples “batalha de números”.

O Sr. Ministro percebeu que havia um problema e comprometeu-se a resolvê-lo. Certamente terá criado um plano, que teria de ser robusto, para conseguir reduzir um problema em 90%. Terá contratado mais professores, acordado protocolos com outras entidades, etc., para que o número de alunos nessa situação fosse muito menor. É por isso, no mínimo, estranho que agora se perceba que partiu de dados errados.

Estou genuinamente curioso para perceber o que se terá passado. Ou o Ministério criou e executou esse plano, e no final achou que tinha feito um grande trabalho, reduzindo um problema que não era de fácil resolução em 90%. Achou que o seu plano tinha sido executado na perfeição, e isso seria motivo de grande orgulho e de grande apreço por parte de todos os portugueses.

Ou, afinal se partiu de números errados, muito mais baixos e que nada têm a ver com o que se pensava, tal plano passa a não ter efeito nenhum. No fim de contas, com todo esse trabalho feito, os resultados são “poucochinhos”. Os resultados são tão insignificantes, em comparação com o que o Sr. Ministro pensava, que temos de considerar este caso um absoluto e total fracasso.

Outra possibilidade é o Sr. Ministro e o seu ministério não terem feito absolutamente nada e, mesmo assim, ao verem tal redução do problema, terem achado que ele se tinha resolvido por si, apenas pelo facto de se ter mudado o Ministro. Por “obra e graça do Espírito Santo”, o problema teria sido resolvido. E, se o problema está resolvido (ou muito minimizado), nada como assumir os créditos por tal situação.

Todas as hipóteses são dramáticas para os portugueses e demonstram bem como se gere o Estado em Portugal. Olhando agora para trás, percebemos que ou houve um plano que não deu em nada, mas como o Ministro não conhecia o ponto de partida, achou que tinha “descoberto a roda”, quando afinal a roda já era redonda há muito tempo, ou então não fez nada e ficou “deslumbrado”, acreditando que, só por ser ele o responsável, os resultados seriam diferentes.

Sinceramente, não sei qual é a pior hipótese.

Como é que se pode justificar tomar medidas desta importância, partindo de dados errados?…

É como achar que é preciso construir uma ponte, contratar a construção da ponte e, no final do prazo, estarmos todos contentes porque temos a ponte. De repente, alguém nos vem dizer que aquela ponte é a mesma que já lá estava há muito tempo. Como é que se reagiria a uma situação destas?

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