Edição 517
Ruy de Carvalho partilhou memórias de vida no FesTrofa (c/ vídeo)
Durante cinco dias, vários foram os nomes e filmes que passaram pela edição 2015 da FesTrofa – 1.ª Mostra de Cinema Luso-Brasileiro, organizada pelo CineClube da Trofa.
“Vou fazer de um barman maricas, coxo e mau, muito mau”. O conceituado ator Ruy de Carvalho contou sobre a próxima personagem que vai interpretar numa peça de teatro, durante a sessão de encerramento da FesTrofa – Mostra de Cinema Luso-Brasileiro, que decorreu a 29 de março, na Casa da Cultura da Trofa.
Numa conversa intimista, o ator, que apadrinhou a iniciativa do CineClube da Trofa, falou sobre a sua vida pessoal e profissional, colocando-se à disposição dos presentes para ser questionado. Ruy de Carvalho teve ainda tempo de surpreender o público, que muito o acarinhou e aplaudiu, com a recitação do Auto da Visitação ou Monólogo do Vaqueiro, de Gil Vicente, primeira peça de teatro portuguesa. Apesar de cansado da viagem e de no sábado ter trabalhado até cerca das 4 horas, Ruy de Carvalho manteve-se no jantar de encerramento, no restaurante Julinha, até às 00.30 horas, onde conviveu com quem se quis associar e deixou a promessa: para o ano estará novamente presente, pois continuará a ser padrinho da iniciativa.
Durante a sua intervenção na sessão de encerramento, Ruy de Carvalho afirmou estar “muito orgulhoso de estar na Trofa” e “gostou muito de ver o que viu, como colegas com quem conviveu e trabalhou”. Com quase 73 anos de profissão, o ator fez parte do lote de figuras ilustres que passaram pela Mostra de Cinema, como foi o caso de Melânia Gomes, Gabriela Barros, Ricardo Carriço e Rui Tendinha. De 25 a 29 de março, foram várias as exibições cinematográficas, que passaram pela Casa da Cultura, auditório da Associação Empresarial do Baixo Ave, Malte Taberna e Clube Slotcar da Trofa, que contou com homenagens aos atores Vasco Santana, Beatriz Costa, António Gracindo, Paulo Gracindo, António Silva, José Wilker e Ruy de Carvalho, assim como aos realizadores Manoel de Oliveira, Fernando Meireles e António Pedro Vasconcelos.
“Faz-se bom cinema em Portugal, mas pode-se fazer ainda melhor”
“Cinema Luso-Brasileiro: Qual o seu futuro?” foi o tema da tertúlia protagonizada por Rui Tendinha, crítico de cinema, na tarde de sábado, na Malte Taberna. A sessão foi marcada por “uma conversa informal” onde foi partilhado “o gosto pela sétima arte e pelos temas do cinema”, com o intuito de “tentar refletir um pouco sobre os caminhos do cinema português e brasileiro”. O crítico garantiu que se “faz bom cinema em Portugal”, mas que se pode fazer “ainda melhor se aliarmos forças, por exemplo, com Brasil e com África”.
“A tendência é partilharmos custos e o cinema português ficar também com um pouco de sotaquezinho e se calhar expandir-se. Esse para mim é o grande segredo do futuro do cinema nacional, assim como ter uma vertente mais internacional com países que falam a nossa língua”, adiantou.
Rui Tendinha referiu ainda que no “cinema da língua portuguesa” os “portugueses ganham uma vantagem” aos de outras línguas, porque podem “albergar uma série de outros países e de outras culturas”, o que, para si, “é a grande força da lusofonia e a nível cultural”. “O cinema é uma riqueza enorme e as pessoas em Portugal nem percebem que o cinema pode expandir-se para todo o lado, para África e para onde há emigrantes lá fora e esse é um dos valores da nossa cultura e da nossa língua. Isso é uma riqueza que muitos outros países, que se calhar têm mais poder económico, não têm”, terminou.
CineClube satisfeito com adesão da 1.ª edição
Com um orçamento de “cerca de 17.500 euros”, angariados através de patrocinadores e da atividade do CineClube da Trofa, o presidente Joaquim Azevedo afirmou que conseguiram realizar a Mostra e já estão a pensar na edição do próximo ano. “O balanço é bom, porque conseguimos uma coisa que é difícil na Trofa: exibimos 24 filmes sempre com pessoas a ver e também tivemos pessoas a assistir às tertúlias. As pessoas que vieram cá ficaram maravilhadas com a Trofa e com o povo da Trofa. Isto é mesmo para continuar, porque tivemos propostas muito interessantes, inclusivamente de uma produtora que está interessada em fazer uma curta-metragem na Trofa e com pessoas do concelho”, declarou.
Joaquim Azevedo recordou que “há 20 anos que a Trofa não faz nada de cinema”, mas que, mesmo assim, tiveram um “ótimo feedback” dos atores e realizadores que participaram, assim como da parte de quem assistiu. “Tivemos alguém que não nos apoiou desde o princípio, que foi a Câmara Municipal da Trofa, que nos cedeu uma tenda cheia de buracos num espaço da Casa da Cultura e o senhor presidente nem sequer se dignou a vir cumprimentar as pessoas que estiveram na Trofa. O FesTrofa passou pela Europa toda, mas não é importante, a presença do embaixador brasileiro também não é importante. O que é preciso fazer para ser importante para a nossa Câmara Municipal?”, questionou.
Dos nomes anunciados só apenas um não apareceu, Mário Augusto, porque “alguém disse que isto não ia ser feito e o homem teve medo e não apareceu cá, mas vem cá brevemente”.
Ruy de Carvalho e Melânia Gomes padrinhos do FesTrofa 2016
O CineClube da Trofa já está a preparar a edição de 2016, que será feito “com apoio ou sem apoio da Câmara Municipal”. A próxima edição será um “Festival de Cultura Lusófona”, com “cinema, dança e música”, estando já garantida a “apresentação única de um filme realizado pelo António Pedro Vasconcelos”. Ruy de Carvalho continua a ser o padrinho e terá a companhia de Melânia Gomes como madrinha. Joaquim Azevedo “só” pede às “pessoas da Trofa, que para o ano adiram mais um bocadinho, para poderem ser melhores e não fiquem limitadas às pessoas que vêm de fora”.
Ricardo Carriço e Gabriela Barros falaram sobre técnicas de representação
Os atores Ricardo Carriço e Gabriela Barros foram os oradores da tertúlia de sexta-feira, 26 de março, que abordou as “Técnicas de Representação”. Ricardo Carriço declarou que a tertúlia tratou-se de “uma conversa informal”, onde se falou do “amor por aquilo que se faz e por aquilo que se tem gosto”, adiantando que “um ator é uma pessoa que se disponibiliza para atravessar processos” e “tem que disponibilizar o seu corpo e as suas emoções para que o personagem aconteça”. Já a atriz Gabriela Barros estava “expectante” com a presença de “tantas pessoas”, esperando que com o “ótimo parceiro de palco” fosse “uma boa conversa de fim de tarde”.
Para Ricardo Carriço estas mostras são “sempre vantajosas”, quando se consegue “juntar o que é feito com a língua portuguesa”, tendo sugerido à organização “a possibilidade de para o ano alargar a todos os países que são de língua portuguesa”. “Graças a Deus ainda existem teimosos no nosso país e pessoas que veem na cultura uma necessidade para que um povo seja mais sonhador, mais culto e tenha, pelo menos, uma mente mais trabalhada, mais energizada, mais desperta para outras coisas na vida que não seja só materialismo e conseguir as coisas com um objetivo rápido, eficaz e quase descartado”, asseverou.
Já Gabriela Barros agradeceu a realização desta iniciativa, que considera “muito boa” e que lhe “tocou”, porque é “luso-brasileira e uma fã incondicional do cinema brasileiro e português”. “Acho uma iniciativa ótima e já sei que a ideia é continuar a promovê-la anualmente e eventualmente. Esse promover anualmente e poder falar sobre isto anualmente é maravilhoso. Os meus parabéns a toda a equipa que se ‘atiraram’ de cabeça para começar a montar isto pouco a pouco”, mencionou.
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