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Rui Pinto está preso, porque descobriu “maroscas” de poderosos

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Foi um jovem nortenho (Rui Pinto de 30 anos, natural de V. N. Gaia, fundador do site “Football Leaks”), que há cerca de dois anos (abril de 2016) passou a um consórcio europeu de investigação jornalística cerca de 70 milhões de documentos e 3,4 terabytes de informações, incluindo e-mails pessoais de algumas das figuras mais influentes e poderosas do mundo de futebol. Esses documentos puseram a descoberto contratos ilegais, comissões dissimuladas, negócios proibidos e esquemas de evasão fiscal.

Este ato de pura Cidadania praticado por Rui Pinto originou um maremoto que atingiu as “águas revoltas e tumultuosas” do mundo do futebol, só que foi considerado pela justiça portuguesa “uma prática dos crimes de extorsão qualificada na forma tentada, acesso ilegítimo, ofensa a pessoa coletiva e violação de segredo”. Foi esta a fundamentação da acusação para justificar a prisão preventiva do jovem português, em 22 de março de 2019, depois de ter estado em prisão domiciliária em Budapeste (Hungria), onde vivia, antes de ter sido extraditado para Portugal.

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Provavelmente, Rui Pinto está preso, porque descobriu “maroscas” de poderosos, que dominam o futebol, em diversas partes do mundo, incluindo Portugal. Uma pergunta se impõe: será que Rui Pinto seria preso se tivesse posto a descoberto “maroscas” do “Zé pedreiro” ou de clubes de futebol da dimensão do clube de Alguidares de Baixo? Certamente que não!

A justiça portuguesa anda muito desfasada de outras justiças europeias e até do Parlamento Europeu, que têm uma visão muito diferente deste tipo de denunciantes de crimes. Enquanto a justiça portuguesa prende Rui Pinto, a justiça francesa tem uma parceria com o jovem português.

Desde 2016, a justiça francesa, através da “Parquet National Financier”, que é a unidade do Ministério Público francês de combate aos crimes económicos tem tido o apoio de Rui Pinto, num processo que investiga “associação criminosa, evasão fiscal agravada e branqueamento de capitais”.

O Parlamento Europeu votou, em 16 de abril deste ano, a favor da adoção de um acordo histórico sobre a proteção dos denunciantes (“whistleblowers”), com uma diretiva comunitária, que deverá entrar em vigor ainda este ano, destinada a proteger os “whistleblower”, os cidadãos que divulgam abusos de confiança e abusos de poder.

A iniciativa do Parlamento Europeu tem por finalidade proteger todos os indivíduos que revelam informações fundamentais de interesse público, como é o caso do jovem português. É neste sentido que também vai uma carta aberta que assinaram cerca de 50 jornalistas, diretores de jornais, eurodeputados, diretores e fundadores de organizações não governamentais a pedir apoio para o “whistleblower” dos “Football Leaks” e para que haja maior proteção para denunciantes, como é o caso do português Rui Pinto.

Crónica escrita em 25/05/2019, para ser publicado no jornal “O Notícias da Trofa”, tendo em atenção as regras do novo acordo ortográfico.

moreira.da.silva@sapo.pt
www.moreiradasilva.pt

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