Fique ligado

Edição 599

Que viva Fidel

Publicado

em

Os mesmos que classificam Fidel Castro de ditador, com aquele ódio habitual, são os mesmos que nunca falam da ditadura de Somoza na Nicaragua, de Pinochet no Chile, ou da ditadura militar brasileira de 1964 a 1985. Que nunca relatam a ingerência dos EUA em todas as repúblicas latino-americanas, derrubando e aniquilando todas as tentativas patrióticas de instauração de verdadeiras independências. Quando falamos de Cuba, referimo-nos a um país jovem, que conta apenas 57 anos pois até aí, praticamente, nunca passou de uma colónia norte americana que sucedeu à colónia espanhola. É com a revolução de 1959 que derrubou a ditadura de Baptista que Cuba conquista a verdadeira independência. O processo revolucionário inicia a recuperação das riquezas nacionais, das minas, das terras, das indústrias, dos serviços fundamentais como a eletricidade, o caminho-de-ferro, os bancos, o comércio, que estavam nas mãos de empresas estrangeiras. O processo revolucionário determina uma melhor distribuição da riqueza, o desenvolvimento de programas de educação, de saúde, de construção, de apoio social. Com altos e baixos, com avanços e recuos, e apesar do bloqueio dos EUA, Cuba consegue uma sociedade de justiça social, onde não há famintos, não há crianças sem escola, doentes sem médico, famílias sem emprego, onde inexiste discriminação da mulher e racial, onde foi erradicado o analfabetismo e a prostituição. Cuba não é uma país rico, não tem um nível de consumo como um país europeu, mas avançou no sentido de satisfazer as necessidades fundamentais da população e foi a um nível que quase nenhum outro país da América Latina chegou. E podemos dizer que em todo o processo que conduziu ao triunfo da revolução em 1 de Janeiro de 1959, durante seis anos, nunca foi usada violência contra um prisioneiro. Durante a guerra de libertação não houve um só prisioneiro torturado. Prisioneiros que até eram rapidamente libertados. Este facto, conferiu a Fidel e aos revolucionários um grande prestígio e autoridade perante os soldados inimigos. Ajudou os revolucionários a ganhar a guerra. Os soldados inimigos passaram a confiar em Fidel. Ao princípio, não se rendia um. Ao fim rendiam-se em massa. A revolução triunfou pelas suas ideias e valores e por uma profunda consciência do povo cubano do repúdio pelo crime e pelas torturas.
Desde então, a história de Cuba é a de uma resistência permanente para fazer falhar os planos de intervenção e para fazer frente às ingerências tramadas pelos EUA, que com a intervenção contínua da CIA, fomentam o encorajamento de grupos opositores e inúmeras tentativas de assassínio de dirigentes cubanos, incluindo de Fidel. Perante este assédio ininterrupto, os persistentes atos de sabotagem e o já citado embargo dos EUA, Cuba tinha, tem e terá de se defender. E com um Trump à cabeça dos EUA, terá de redobrar a defesa. Por falar em Trump, repare-se nas suas declarações sobre a morte de Fidel: “ditador brutal que oprimiu seu próprio povo por quase seis décadas”. Isto, vindo de quem vem, só por si, faz de Fidel Castro extamente o contrário: «um homem, um comandante, que libertou o seu povo por quase seis décadas».
A Cuba de Fidel, teve e tem igualmente, uma dimensão claramente internacionalista, solidária, intrinsecamente cristã. Cede temporariamente voluntários para povos e nações em dificuldade. Foram 30 000 professores cubanos para os locais mais afastados e recônditos da Nicarágua Sandinista. Tem médicos cubanos espalhados pelos quatro cantos do Mundo. Da Etiópia a Moçambique, de Angola ao Vietname, passando pelo Laos e pelo Combodja, do Haiti ao Iémen do Sul. A força solidária militar cubana no sul de Angola na derrota infligida ao exército do apartheid da África do Sul contribuiu não só para a independência de Angola mas também se traduziu num duro golpe no regime racista.
E, se morreu um grande homem, morreu também um homem bom. Veja-se apenas os casos, já divulgados pela imprensa e televisões de Elian Gonzalez e de Diego Maradona. Aí se nota o profundo humanismo de Fidel.
Não esqueço aquela noite longa de Outubro de 1998 em que, ao vivo, ouvi o discurso de Fidel Castro no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos. A Península Ibérica convergiu para o Porto. O Coral de Letras da Universidade do Porto, o grupo Quadrilha, Manuel Amorim, os galegos Teixadura e Uxia, Luís Represas e Manuel Freire animariam o pavilhão. Jorge Palma dedicou uma das suas mais bonitas canções aos cubanos: «Enquanto houver estrada para andar / a gente vai continuar / enquanto houver ventos e mar / a gente não vai parar». Fidel entrou acompanhado por José Saramago, Carlos Carvalhas, Aleida Guevara, filha de Che Guevara, e Narciso Miranda, presidente da Câmara local. «O Prémio Nobel 1998 está com a Revolução Cubana.» Foi desta forma que José Saramago iniciou a sua intervenção. «Com Cuba o socialismo não morrerá», afirmou Fidel. «O milagre da multiplicação dos peixes e dos pães foi o que quisemos fazer e o que continuamos a querer fazer»», acrescentou, entre vivas a Cuba e palavras de solidariedade.
E já me esquecia…por mais de uma vez, Fidel, sempre disse gostar muito de Portugal e dos portugueses…e do nosso vinho do Porto, de que era confrade. Que viva Fidel!

Continuar a ler...
__________________

Edição Papel

Vê-nos no Tik Tok

Comer sem sair de casa?

Farmácia de serviço

arquivo

Pode ler também...