Ano 2010
“Demos corpo, alma e devoção à Nossa Senhora das Dores”
As Festas em honra de Nossa Senhora das Dores já se realizam há 244 anos. A organização sempre esteve a cargo do povo e este ano não foi excepção. Manuel Dias, Fernando Ribeiro e Manuel Carvalhal contaram ao NT como se organiza a grande romaria do concelho.
O projecto para a organização das Festas em honra de Nossa Senhora das Dores nasceu como nasce todos os anos. O padre fez a convocatória através do boletim paroquial, convidando os chefes de família dos lugares para uma reunião em Janeiro. “Aparecemos lá, timidamente, entretanto foi-se passando a palavra e chegámos a uma altura em que juntámos cerca de 30 elementos que constituíram a Comissão de Festas”, esclareceu Manuel Dias, coordenador geral das Festas em honra de Nossa Senhora das Dores.
Desde o início foi criada uma Comissão Administrativa e os membros estão divididos por vários departamentos, mas no final “todos se misturam nas funções que têm para fazer”. Isto porque quando chega a hora de ajudar “todos estão prontos”.
Em tempos de crise os membros da Comissão acreditam que a tradição da Festa ser organizada pelo povo e não pela autarquia é para continuar. “Se um dia a festa cair nas mãos da Câmara, eu fico um bocadinho triste, porque deixa de ter a raiz popular e o empenho das pessoas da Trofa”, afirmou Manuel Dias.
Enquanto se faz a contagem decrescente para a semana rainha das Festas, os obreiros mostram-se preparados para “dormir muito poucas horas”. Tudo porque garantem: “Demos corpo, alma e devoção à Nossa Senhora das Dores”.
“Um programa a pensar no povo da Trofa”
“O que é que vamos fazer?”. Esta foi uma das primeiras questões colocadas pelos membros da Comissão de Festas. O tempo é de crise e não permite grandes gastos, por isso as actividades foram preparadas ao pormenor para que não surgisse nenhum imprevisto.
“Pedimos a um empresário que nos fornecesse um naipe de artistas para vir cantar à Trofa”, contou Manuel Dias. A lista era apelativa, os valores é que nem por isso. A primeira sugestão era o cantor que arrasta multidões: Tony Carreira, cujo empresário pedia pela sua actuação ao ar livre “47 mil euros”. “Mas se fosse para actuar em recinto fechado era 75 mil euros”, acrescentaram. Esta hipótese ficou desde logo de fora. “Os valores eram incomportáveis, não havia hipótese nenhuma e entretanto fomos vendo outros artistas”, disse.
Seguiu-se a proposta do filho Mickael Carreira que “pedia muito menos”, adiantou sem querer avançar com valores. No entanto, a Comissão de Festas acabou por optar por Marco Paulo, “que ainda pediu menos”. “O Marco Paulo há três anos pedia o triplo do que pede este ano”, frisou. Mas esta escolha não se resumiu aos valores. Isto porque “ainda há muito fã do Marco Paulo” e uma vez que este “é devoto da Nossa Senhora”, esta foi a escolha que reuniu mais consenso.
As únicas exigências de Marco Paulo, para a noite de 20 de Agosto, serão a fruta fresca no camarim e silêncio no terrado, ou seja “os carrosséis vão ter de funcionar com o volume baixo”.
Destaca-se ainda a actuação do grupo Myllenium, no dia 16 de Agosto, escolhido por ser “adequado à juventude” e de Augusto Canário no dia 17.
Este é, de acordo com a Comissão de Festas, “um programa a pensar no povo da Trofa”. “A festa não é nossa, é do povo, da classe mais favorecida e da mais desfavorecida”, confessaram.
“Qual é o dia em que passam os andores muito altos?”
“As festas da Senhora das Dores já são conhecidas no país e temos recebido telefonemas de Coimbra e de Lisboa até, a perguntar qual é o dia em que passam os andores muito altos, porque querem cá vir”. Esta é a fama que leva os membros da Comissão de Festas a sentir orgulho na sua organização. No dia 22 de Agosto a majestosa procissão sai para a rua.
Os andores altos estão a ser montados a todo o vapor e a Comissão de Festas já tem sido questionada quanto ao percurso da procissão, uma vez que a sua altura não permite a passagem em algumas ruas em que a iluminação colocada é imponente. “Todos os anos se mexe na iluminação, principalmente na Rua Conde S. Bento”, garantiu Manuel Dias. Este ano, nesse local, “a estrutura vai ser levantada e vai rodar para um dos lados”.
Isto porque as luzes foram pensadas “ao pormenor e baseada nas cores da Nossa Senhora das Dores”.
Fogo-de-artifício “vai ter uma inovação”
Para além das luzes, a Trofa será iluminada com as já conhecidas e apreciadas sessões de fogos-de-artifício, capazes de estremecer a região.
Este ano as empresas a cargo deste espectáculo são a Douro Pirotecnia, de Amarante, responsável pelo fogo de artifício no dia 21 de Agosto, durante o dia, o responsável “é o fogueteiro Melro, já há muitos anos conhecido” e na noite de domingo (22) a sessão de fogo preso cabe à Pirotecnia do Ave, de Guidões.
“O fogo de artifício vai ser mais ou menos como nos anos anteriores”, mas com “uma inovação”. A Comissão de Festas não quis adiantar pormenores, mas garantiu que o espectáculo “não será inferior ao do ano passado”. “Tentámos que o fogo de sábado à noite fosse melhorado, pode ter menos foguetes, o tempo pode ser o mesmo, mas há fogo que morre um pouco no ar e nós tentamos trazer outro tipo de fogo”, explicou Manuel Dias, sem adiantar mais sobre o assunto.
Os membros da Comissão de Festas aproveitaram ainda para informar que a passagem por algumas ruas será condicionada para facilitar o trabalho dos fogueteiros e “cumprir as normas de segurança”.
“A Avenida do Parque Dr. Lima Carneiro e a Avenida de Mosteirô vão ser cortadas para evitar acidentes”, frisaram.
“A maior fonte de receitas é o peditório”
Mas para poderem organizar as Festas é necessário o financiamento. E como sempre, a maior fatia do dinheiro que paga as grandes festas do concelho continua a vir do povo. De acordo com Fernando Ribeiro, secretário/tesoureiro, “a maior fonte de receitas é o peditório”, mas é também “o que dá mais trabalho”. “Se não for bem feito não rende, daí a nossa insistência de passar em todas as portas que estejam habitadas para conversar com as pessoas e tentar recolher o donativo”, explicou.
“A Comissão começou a trabalhar do zero”, mas com a ExpoTrofa, “que também deu bom rendimento”, os Cortejos e o aluguer do terrado os membros começaram a juntar o dinheiro para organizar as Festas.
Apesar da crise económica, “para a Senhora das Dores há sempre dinheiro” e as pessoas “já têm o valor estipulado e sabem que têm de dar para a festa, para o cortejo e para o andor”, confessou Fernando Ribeiro. “Algumas pessoas até vinham ter connosco para dar o dinheiro”, corroborou Manuel Dias, que confessou sentir-se comovido com “estes gestos das pessoas”.
Com um orçamento previsto de 140 mil euros para gastar nas Festas, os membros da Comissão estão apenas a sentir dificuldades na recolha de dinheiro nas empresas. Comparando com os valores do peditório de 2009, “há uma quebra acima dos 50 por cento”, adiantaram. “Umas fecharam, outras não dão tanto como davam e outras há ainda que não dão nada”, afiançou Manuel Dias.
Falta concluir apenas “o peditório para o andor de S. Martinho, Corôa, Real e Carqueijoso”. “Estamos praticamente a iniciá-lo e também pedimos a compreensão das pessoas”, frisaram.
Depois de todas estas iniciativas realizadas para a recolha de fundos terem terminado, os membros esperam recolher o dinheiro que falta da receita do Bar da Comissão de Festas, instalado junto à Capela de Nossa Senhora das Dores. Agora, em vez de pedirem à Nossa Senhora, viram-se para o S. Pedro pedindo bom tempo para que todas as noites as esplanadas se encham de pessoas.
“Apelamos às pessoas que depois de trabalhar passem algumas horas de lazer connosco porque ao mesmo tempo ajudam a Comissão de Festas consumindo no bar”, sugeriu Manuel Carvalhal, vice-presidente adjunto.
No dia 13 de Agosto, dia da finalíssima do primeiro Festival da Canção, organizado pela Comissão espera-se festa rija. A Comissão de Festas já preparou um porco que será assado no espeto, para que as pessoas possam jantar e assistir às actuações dos cantores de cada freguesia do concelho.
No final, mas não menos importante, ficou o agradecimento à Câmara Municipal da Trofa e à Junta de Freguesia de S. Martinho de Bougado pela colaboração. A Comissão de Festas aproveitou ainda para agradecer a todos os que colaboram na organização das festas, aos Ranchos Folclórico da Trofa e das Lavradeiras da Trofa e aos elementos do júri do Festival da Canção.
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