Ano 2010
PS dividido, lá como cá
Em Portugal, o Partido Socialista sempre foi mais uma federação do que uma organização política, em que a ideologia se sobrepõe aos interesses dos diferentes grupos instalados dentro do partido. Já se passaram 35 anos depois do 25 de Abril e o Partido Socialista governou este país mais de 20 anos. Nos últimos 15 anos, Portugal teve 12 anos de governação socialista. Foram “soaristas”, “guterristas”, “gamistas”, “sampaístas”, “alegristas”, “socratistas”, e outros “ístas”, que agora não vem à lembrança. Foram muitos “ístas” a governarem Portugal e deu no que deu: O PS enterrou Portugal!
A herança de tantos anos de governação socialista esta aí: O PS deixou Portugal nas mãos dos credores internacionais. Em 1996 Portugal tinha uma dívida externa de 10% do PIB e em 2009, essa dívida era de 111%. Sempre que o PS (des) governou o país, a política foi sempre a mesma: endividar Portugal para fazer obras públicas que originam o alargamento do raio de acção do Estado dentro da sociedade, através dos grandes projectos megalómanos, cujos resultados são por demais conhecidos: enorme dívida, défice gigantesco e reduzido, ou nenhum, crescimento. Sempre foi assim o “evangelho” socialista.
Perante o caos que eles próprios provocaram, muitos socialistas estão contra o PEC – Plano de Estabilidade e Crescimento, que tem pouco de estabilidade e nada de crescimento. A federação de interesses retomou o seu papel principal e muitos “istas”, alguns novos, outros já mais velhos, “saltaram para a praça pública”, a criticarem um plano que deveria ter a prioridade de equilibrar as contas públicas, ou seja, a redução do défice das contas públicas e a recuperação da economia portuguesa que eles próprios, os socialistas, destruíram ao longo dos anos em que foram governo.
A imprensa anuncia que dentro do PS há muitas vozes dissonantes, sem receio de desobedecer ao silêncio estipulado pelo Governo de José Sócrates: Mário Soares, Pedro Adão e Silva, deputados como João Galamba, Ana Catarina Mendes, Sérgio Sousa Pinto, Vera Jardim, Maria de Belém, Paulo Pedroso e Ministros como Vieira da Silva, da Economia, Alberto Martins, da Justiça, Ana Jorge, da Saúde, António Mendonça, das Obras Públicas, Dulce Pássaro, do Ambiente, mostram-se reticentes quanto ao PEC. O candidato socialista a Presidente da República, Manuel Alegre, criticou duramente o Programa de Estabilidade e Crescimento apresentado pelo Governo do PS, que considera “um escândalo para a saúde da República”. João Cravinho, paladino da luta contra a corrupção, afirmou que até Paulo Portas está “a dar lições de esquerda a Sócrates”, acusando o Partido Socialista de ter entrado numa “deriva à direita”, que só poderá ser evitada com “grandes alterações na própria direcção do PS” e lamentou que o PS se tenha “assumido nitidamente como um partido que punha acima de tudo as mesmas medidas que um partido de direita poderia tomar e deixou cair, sem salvaguarda, sem cuidado, bandeiras de esquerda, que aqui há dois meses ainda afirmava e que eram parte integrante do seu programa”, afirmou o antigo dirigente socialista, partilhando assim com Mário Soares a crítica ao esvaziamento ideológico do partido.
Lá como cá, assim vai o Partido Socialista, na Lisboa macrocéfala e centralista, mas na Trofa também não vai melhor. Para as eleições à Comissão Política Concelhia da Trofa apresentou-se, contra Joana Lima, o candidato Luís Cameirão, que decidiu romper com o passado recente de apoio incondicional à actual Presidente da Câmara e congregar a seu lado “boucistas”, “afonsistas”, “fernandesistas”, “otilistas”, “quelhistas” e muitos “basistas”, para além do líder da Federação Distrital do Porto, Renato Sampaio. É uma nova facção em movimento, os “cameironistas”, que têm em comum, não quererem ser os “progenitores” de uma nova Fátima Felgueiras, afirmam eles. Para que o PS obtenha maiorias nas votações na Assembleia Municipal, já não basta os votos dos dois eleitos do CDS/PP, é preciso também garantir os votos de todos os eleitos nas listas do Partido Socialista.
Assim vai o PS dividido, lá como cá!
José Maria Moreira da Silva
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