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Edição 536

Parque Nossa Senhora das Dores – “7 pecados mortais”

Publicado

em

João Pedro Costa


Um dos poucos ex-líbris da Trofa é o Parque Nª Srª das Dores. Gerações atrás de gerações de trofenses viram o seu aspeto alterado gradualmente ao longo de décadas, em nome do “progresso”, sendo que, a mais radical teve a sua génese em 2007 e foi protagonizada por opção do executivo social-democrata, liderado por Bernardino Vasconcelos querendo o destino que o seu “discípulo”, Sérgio Humberto o fosse inaugurar.

A pergunta que se impõe, numa altura em que se sucedem múltiplas festas de inaugurações, de uma obra orçada em cerca de seis milhões e meio de euros (http://www.base.gov.pt/Base/pt/Pesquisa/Contrato?a=706237) é qual o real valor do renovado parque, para os trofenses, e a sua sustentabilidade futura? Em termos estéticos, e olhando numa ótica urbanística simples, direi que gosto – o parque é bonito e acredito que, quando estiver mais arborizado ainda ficará mais agradável!

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Em termos funcionais, o arrastar do processo (2007-2015) e a incapacidade de negociação, quer do executivo socialista, liderado por Joana Lima que apenas conseguiu, ao projeto inicial, alterar a localização do edifício que inicialmente estava previsto para a face da EN14 (em frente ao centro comercial D. Pedro V), passando-o para a parte lateral, aliado à passividade evidenciada pelo atual executivo, liderado por Sérgio Humberto, que se limita a executar atos de mera gestão, faz com que a meu ver a obra esteja condenada por “7 pecados mortais”:

1º – Sendo o Parque Nª Srª das Dores construído à volta de uma capela e dele fazendo parte integrante não foram devidamente acauteladas as históricas e grandiosas festas em sua honra! Se, na parte profana sempre se poderá ocupar alguns terrenos contíguos para os “carrosséis” mas que, certamente, tirarão envolvência ao certame, já no que ao religioso diz respeito estão criadas dificuldades (desnecessárias)! A receção da procissão, para a qual falta dignidade, à passagem dos tradicionais andores é a primeira grande evidência.

2º – Foi designado de “Concha Acústica” o espaço destinado a espetáculos. Uma concha com forma retangular colocada ao ar livre?! Se a essência de ser “Concha” tem como objetivo facilitar a comunicação entre os elementos em palco, garantindo uma melhor qualidade e propagação do som, porque foi designada de “Concha” quando o que se vê construído não passa de um palco? A sua localização de forma permanente, em frente à porta principal da capela (quando há mais espaço), parece-me desajustado e, uma vez mais, relega a capela, principal “emblema”, para segundo plano!

3º – O sistema de iluminação de todo o Parque é inteiramente composto por lâmpadas florescentes, descartando por completo a tecnologia led. Os argumentos de que “o projeto é de 2007, e dado que é financiado por fundos comunitários, tem de ser respeitado na íntegra o que inicialmente foi apresentado”, quanto a mim não colhe, pois se foi possível deslocar o edifício da parte da frente para uma parte lateral acho impossível que um mero sistema de lâmpadas não pudesse ser alterado! Terá alguém estado distraído com o avanço da tecnologia e esquecido que era responsável por este projeto? Não sei, apenas fico com a certeza que o custo energético será enorme (o quadruplo do desejado) e desajustado às dificuldades vividas atualmente.

4º – O edifício principal é sustentado por enormes barras de ferro, que dada a sua arquitetura, estão expostos ao tempo e às suas intempéries. Essas barras deveriam ser muito bem galvanizadas garantindo menores manutenções (pintura) e durabilidade do edifício para lá de meia dúzia de décadas (não confundir com as entradas, ao “estilo ferrugem”, que são de embelezamento e que levam um tratamento adequado). A julgar pelo estado das barras de ferro fica a dúvida, passaram estas barras pela galvanização? A ver vamos, mas confesso-me preocupado!

5º – O aspeto mamarracho das casas de banho a ferir de morte a vista sobre a capela e de todo o Parque Nª Srª das Dores, revelador da falta de imaginação de quem projetou o parque, e que não endereça aos que passam na estrada um convite à paragem! Outros atropelos do que prometia ser um espaço completamente harmónico sucedem-se numa visita mais atenta ao recinto.

6º – A zona desportiva com a colocação de tabelas para basquetebol, mesmo face à estrada nacional, que coloca em perigo quem vá a correr atrás de uma bola perdida e dos próprios veículos em circulação! Mas, ainda mais estranho, num desporto cuja uma das essências é bater com a bola no chão, foi colocado um piso em paralelos! Já a zona do parque infantil está despido de árvores, e o argumento de que “as arvores vão crescer”, não me convence – as crianças querem lá brincar com condições, pelo que não deveriam ter de esperar pelos próximos anos…! Penso que, neste espaço, deveriam ter sido colocadas desde o início árvores de grande porte, para garantir a existência de sombras.

7º – O estacionamento subterrâneo com acessos estreitos, ao estilo bunker, que não acredito vá ser massivamente utilizado pelos trofenses não só por questões de hábito, mas também pela completa desarmonia deste espaço ao resto da cidade. Por exemplo a falta de um acesso a meio da rua Conde de S. Bento, em frente ao Centro Comercial da Vinha, que facilitaria o acesso dos peões às poucas zonas comerciais que nos restam. Ainda a privação de entradas mais largas, condiciona a recolha de veículos de maior porte, até os que estão ao serviço da Câmara Municipal da Trofa (recolhidos em espaços alugados).

Termino com a lembrança do tempo de privação do espaço por parte dos trofenses, de uma obra que prometeu ser “tudo para nós” e onde foram gastos cerca de 6 milhões e meio de euros. Passaram 8 anos, o projeto apresenta erros crassos e com os quais teremos de conviver nos próximos “50 anos” mas, surpreendentemente, é defendido por alguns como sendo uma obra fantástica representativa do tal “Orgulho Trofense”! Um projeto transversal a governos PS e PSD, não há responsáveis políticos, não há responsáveis técnicos e até me parece que estão todos convidados para as centenas de iniciativas de “inauguração” que lá estão a acontecer… Viva a Trofa! Votos de boas férias para todos.

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