Crónicas e opinião
Os bandidos do Chega
“Quando a ânsia de chegar ao poder é tal que não existe um filtro mínimo do processo de captação de militantes, dirigentes e representantes, a probabilidade de se atrair todo o tipo de delinquentes dispara.”
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André Ventura nunca foi um outsider, como outros populistas que surgiram na cena política nos últimos anos. Ou como quer fazer crer com a sua propaganda, que em termos de desonestidade está no patamar José Sócrates.
Ventura nasceu para a política no centro nevrálgico do sistema. Apadrinhado por Pedro Passos Coelho, foi o candidato do PSD à CM da Loures nas autárquicas de 2017, acabando por assumir o tacho, perdão, o lugar de vereador. Foi ainda avençado da CMTV e criou, com Rui Pereira, antigo ministro de José Sócrates, um movimento de apoio à recandidatura de Luís Filipe Vieira, em 2016, quando já se conheciam algumas maroscas do antigo presidente do Benfica.
Ventura é muito inteligente. E mais ambicioso ainda. Quer poder, quer mandar, quer ficar na história. E soube interpretar o ar dos tempos. Outrora defensor do acolhimento de refugiados, que considerava uma obrigação das nações europeias, como podemos constatar na sua tese de doutoramento de 2013, onde critica também a expansão do poder das polícias, a discriminação de minorias e o “populismo penal”, Ventura percebeu que a demagogia e o ódio o podiam levar mais rápido ao primeiro plano da política nacional.
E estava certo.
Falhada a ascensão no PSD, arrancou a espinha dorsal e criou um partido à imagem da ambição e tudo o que veio à rede foi peixe: fascistas, nazis, fanáticos religiosos, racistas, xenófobos e, fomos descobrindo ao longo dos últimos anos (e dias), burlões, caloteiros, falsificadores, assaltantes e, cereja no topo do bolo, abusadores de menores que exigem castração química para abusadores de menores.
O resultado está à vista. E, nos últimos meses, rara é a semana em que não somos brindados com delinquência vinda dos quadros e da bancada parlamentar do CH. Para quem vinha limpar Portugal, o CH é um partido sujo e com cheiro nauseabundo. E a concentração de bandidos é enorme.
Não surpreende, o rumo que as coisas estão a tomar. Senão reparem: quando a ânsia de chegar ao poder é tal que não existe um filtro mínimo do processo de captação de militantes, dirigentes e representantes, a probabilidade de se atrair todo o tipo de delinquentes dispara.
Só assim foi possível fazer eleger um deputado que queria prender meio mundo, mas que afinal era só um ladrão de malas que vendia o produto dos seus roubos na Vinted e usava o posto dos CTT na AR para despachar o fruto do assalto.
Só assim foi possível eleger um deputado municipal em Lisboa que proferia grandes sermões sobre perseguir pedófilos e castrá-los quimicamente, para depois descobrirmos que pagava por sexo com menores, juntando prostituição e pedofilia.
Existem outros casos. E não são poucos.
Se nos outros partidos também existem criminosos? Claro que sim.
Mas o CH é o único com um discurso moralista, a exigir uma justiça autoritária e a apontar o dedo aos restantes, como se de um partido de puros se tratasse. Contudo, e apesar de ser um partido recente, acumula no seu interior todos os defeitos, obscuridades e crimes de que acusa os restantes. Com uma diferença: é o único que propõe transformar Portugal numa ditadura idêntica à russa. E é por isso que é fundamental combater os extremistas de Ventura. Para ditador, criminoso e corrupto já nos chegou o regime de Salazar.