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Edição 455

Opinião – Alemanha. O país das maravilhas.

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Gualter-Costa

A Alemanha que nos vendem como modelo para a Europa é um rotundo falhanço. Uma inqualificável mentira. Nos últimos 25 anos o país tem sofrido uma acentuada degradação em quase tudo o que importa à cidadania e aos direitos sociais. Passou de um país relativamente equilibrado para o contexto europeu, a campeão europeu da desigualdade. Os 1% mais ricos detêm 23% da riqueza, os 10% mais ricos 53%!. À metade mais pobre da sociedade só 1% da riqueza, há dez anos eram cerca 3%.

A Alemanha, que nos apresentam como modelo, viveu um recuo sócio laboral sem precedentes desde o pós guerra. A generalização da precariedade juntamente com os contínuos ataques aos direitos sociais e laborais, contribuíram para a queda acentuada na esperança média de vida para os mais pobres e para uma das taxas de natalidade mais baixas em todo o mundo. A maioria dos alemães viu-se seriamente prejudicada com este novo paradigma sócio laboral, que só a deturpação estrutural de alguns meios de comunicação social consegue fazer passar por “modelo”.

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Esse recuo faz parte de um processo mundial mais vasto, que se iniciou no final dos anos ‘60 nos EUA e se aplicou depois com Thatcher no Reino Unido, saltando mais tarde para toda a Europa à boleia de governos conservadores ou social-democratas. O choque da atual crise está a ser utilizado para dar um impulso a esta cada vez maior desigualdade social entre países que caracteriza este sistema, cujos excessos e ideologia foram os geradores da crise.

O ilusório “sucesso” alemão na crise, mede-se pelos indicadores de desemprego e de recessão menores que na maioria dos países da Europa e sustenta-se exclusivamente nas exportações assentes nos reduzidos custos de mão de obra. A Alemanha gera metade do seu PIB através das exportações e graças ao euro, combinado com uma estratégia de salários baixos, que condiciona e prejudica os restantes parceiros europeus.

Contudo, a ilusão tem um preço. Não há na Europa uma economia mais exposta aos efeitos de um arrefecimento da conjuntura global do que a alemã. O modelo alemão de relativa boa saúde na crise, só foi possível à custa da deterioração da saúde económica dos seus parceiros.

O extraordinário superávit comercial que a Alemanha conseguiu nos últimos anos foi colocado nos mais aventureiros e imorais negócios financeiros em países como os EUA, Irlanda, Grécia ou Espanha. Os resultados de tais políticas estão hoje à vista de todos. Só entre 2005 e 2008, a banca alemã concedeu a instituições espanholas créditos e investimentos no valor de 320.000 milhões euros (mais de quatro vezes e meia o valor total do resgate a Portugal!), em grande parte para alimentar a criminosa bolha imobiliária pós franquista. Hoje, os números do desemprego em Espanha falam por si. O setor financeiro alemão lucrou, mas a Espanha lerpou … e quase afundou.

Os resgates de países sucederam-se e são essencialmente resgates de dívidas dos bancos internacionais. Por exemplo, 90% do dinheiro entregue “à Grécia” tem sido destinado aos bancos, sobretudo a bancos estrangeiros.

A Alemanha é hoje o principal exportador do recuo sócio laboral para o resto da zona euro. Em nome da austeridade, gera-se mais desemprego e mais dívida. Uma política meticulosamente desenhada para que o setor financeiro cubra integralmente as perdas dos seus maus negócios e dos seus crimes económicos à custa das classes trabalhadoras e das PME’s europeias. Políticas que se impõem com métodos opacos e autoritários e que mantêm em segredo a identidade dos bancos e instituições endividadas, que arrasam com a esperança e com a soberania dos estados.

Esta é uma política duplamente redutora e desintegradora para a Europa. As nações e os povos da Europa recusam-se a fazer parte deste clube sobre tais premissas. Os novos reptos do século XXI que ecoam pela Europa são incompatíveis com a velha metodologia imperialista. A oposição às veleidades dominantes da Alemanha – mais cedo ou mais tarde, condenadas ao fracasso – não é apenas mais um assunto da velha luta entre nações. É uma realidade do longo combate social europeu entre reação e progresso que interessa e tem movido todas as cidadanias europeias, incluído a alemã. Por vezes com avanços, por vezes com recuos, a história social europeia escreveu-se sempre assim.

Gualter Costa
Coordenador Concelhio Bloco de Esquerda Trofa.
gualter.costa@outlook.com

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