Ano 2006
O Poder e a Comunicação Social
Por muita regulamentação, códigos de conduta, ética e até legislação que se faça, para que a Comunicação Social seja isenta do poder politico e económico, a verdade é que nunca se viu uma classe, a dos jornalistas, tão encostada ao poder politico, como a actual que nos “brinda” todos os dias com verdadeiras peças de militância politico/partidária em órgãos de comunicação social, que juram a sua independência de qualquer tipo de poder.
Este tipo de informação que os diversos poderes manipulam a seu belo prazer faz com que os leitores tenham cada vez mais de saber fazer a seriação daquilo que é a verdadeira informação e afastar dos seus hábitos de leitura as informações veiculadas pelas agências de informação. É bom recordar que mais de 2/3 das notícias dos jornais são veiculadas pelas agências e centrais de informação. Hoje, os jornalistas quase não saem da redacção. Hoje, pouco ou nenhum jornalismo de investigação se pratica no nosso país.
Os jornais nacionais e também, como é óbvio e com mais gravidade, nos jornais locais, a adulteração e a manipulação da notícia tem vindo a agravar-se com o actual governo que para além das “trapalhadas” que tem sido uma constante, necessita de uma propaganda agressiva daquilo que não faz mas diz que vai fazer. Nisto de propaganda, com a ajuda da comunicação social, o actual governo tem sido um campeão.
Senão vejamos alguns, poucos, exemplos:
Se um qualquer ministro dos governos de Durão Barroso ou Santana Lopes, se deslocasse em missão de serviço, ao estrangeiro, num avião “Falcon” a imprensa anunciava o custo diário do aluguer do avião e que se estava em crise mas o governo não… etc. No actual governo, se o primeiro-ministro, ou qualquer ministro, que se desloca nas suas viagens ao estrangeiro, num avião “Falcon”, o que tem acontecido, ou não é notícia para os jornais ou houve a necessidade de alugar tal meio de transporte para o governante se deslocar com urgência.
Se o governo de Durão Barroso ou Santana Lopes tivesse mexido no critério da avaliação da quantidade de desempregados, a comunicação social diria, sem qualquer dúvida, que o governo tinha feito “manigância” com os números. O actual governo, altera o critério da contabilização do desemprego que toda a gente sabe que tem vindo a aumentar cada dia que passa, e assim anuncia, com a ajuda da comunicação social, que o desemprego diminuiu no último mês, contrariando a realidade de perto de meio milhão de portugueses que não têm trabalho.
Quando no governo de Durão Barroso e também no de Santana Lopes, não foram colocados perto de 35.000 professores, “aqui D’el-rei” que era uma catástrofe social. O governo de José Sócrates deixa de fora mais de 60.000 professores que se candidataram mas que não vão ser colocados e com a ajuda da comunicação social, a mensagem que passa é que esses professores não são professores mas sim candidatos a professores.
O actual governo que tem o recorde das trapalhadas, tem tido também os seus ministros ou secretários de estado a afirmarem uma coisa, para no dia seguinte outro ministro, ou mesmo o primeiro-ministro, desdizer o que foi dito na véspera, sem que a comunicação social faça disso notícia de primeira página. Outros tempos, outro governo, outra forma de (não) fazer notícias.
É esta a comunicação social que temos. Merecíamos bem melhor!
José Maria Moreira da Silva
moreira.da.silva@sapo.pt
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