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Edição 582

O dom de salvar os outros (c/video)

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Corporação dos Bombeiros Voluntários da Trofa procura por novos voluntários. Interessados, dos 18 aos 35 anos, podem alistar-se no quartel e fazer parte desta missão de socorrer a população, zelar pelo ambiente e preservar o património do concelho.
Em 1980, Manuel Costa passou por um momento difícil, quando um incêndio deflagrou na casa da mãe. O papel dos bombeiros para salvar o imóvel não lhe passou despercebido e dois anos depois decidiu alistar-se na corporação da Trofa. “Fi-lo para socorrer os outros, fazendo o que tinham feito por mim”, recordou o bombeiro n.º 50. Hoje, mais de três décadas depois, perdeu a conta às situações marcantes que viveu ao serviço dos Bombeiros Voluntários da Trofa. Uns que o fizeram “sofrer muito” e outros felizes, como o salvamento de uma criança, que tinha caído do primeiro andar de um prédio, em Paradela. “Passados uns meses, essa criança deu-me um diploma como forma de gratidão, que eu guardo até hoje com muito carinho”, contou. Bem mais novata nesta vida é Cátia Gomes, bombeira n.º 62, que se alistou há cerca de cinco anos e que já viveu momentos inesquecíveis, como ter assistido a um parto, aos 18 anos. “Por incrível que pareça, nos tempos de formação, disse que isso seria uma situação que nunca conseguiria encarar, mas um dia fui mobilizada para um caso de parto iminente. Foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Fiquei extremamente feliz, porque consegui ultrapassar esse meu limite”, sublinhou. E extravasar limites é mesmo uma das capacidades dos soldados da paz que, diariamente, se deparam com diversos cenários. Nuno Campos era criança e morava perto do quartel. Contou-lhe a mãe que, sempre que via as ambulâncias, “corria atrás delas e dizia que um dia queria ser bombeiro”. Aconteceu há 18 anos e a vocação confirmou-se: “Gosto de ajudar o próximo e de estar sempre disponível para a população”. A “camaradagem” com os colegas do corpo voluntário e os “bons momentos” vividos quando uma operação de salvamento tem sucesso recompensam o tempo que Nuno não pode dedicar à família que, ainda assim, “compreende e o apoia muito” quando está ao serviço da população. Alguns conseguem ter mesmo familiares na mesma situação. Cátia Gomes já conhecia bem o ambiente dos bombeiros, uma vez que cresceu com o pai, o avô e a tia na corporação. Já Manuel Costa partilha a vocação com o filho e dois cunhados. Eduardo Cruz, bombeiro n.º 14 e chefe corporação, é acompanhado pela esposa e pela filha. O filho também se alistou, mas acabou por não ficar, porque “não tinha espírito de bombeiro”, contou. É que para se ser bombeiro não basta querer. “É um dom que nasce connosco, é a vontade de salvar e de servir a comunidade onde estamos inseridos”, explicou. Pedro Ferreira, bombeiro n.º 121, comunga da mesma premissa: “É uma paixão que temos dentro de nós esta de ajudar os outros. As palavras de carinho que recebemos da população ficam guardadas na memória para sempre”. A capacidade de manter o controlo em situações de grande stresse e perigo é uma das grandes aprendizagens adquiridas. Samuel Rodrigues, bombeiro n.º 150 e há três anos na corporação, salienta que a função de um soldado da paz “é completamente diferente vista de dentro”. “A maneira de estar e de intervir em situações familiares não tem nada a ver com o que imaginava antes de entrar nos Bombeiros. Temos outra perspetiva e ânimo. Como pessoas, evoluímos bastante”, asseverou.

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