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O bougadense que foi Ministro do Trabalho após a Revolução

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No dia em que o Partido Comunista Português assinala cem anos de existência, o NT recupera uma reportagem realizada sobre um destacado membro do PCP, natural de Santiago de Bougado, que foi ministro do Trabalho após a Revolução de Abril.

Nasceu em Santiago de Bougado em 1939 e, apesar de lá ter saído aos dez anos para ir viver no Porto, ainda hoje alimenta nostalgia pela terra natal. Como contou ao NT, a ligação foi mantida “com visitas” só para recordar ou para “para comemorar os anos de alguém”.
É conhecido por muitos trofenses e desconhecido de outra grande parte, mas este bougadense tem no currículo uma função que mais ninguém teve em Portugal. Avelino Gonçalves foi o ministro do Trabalho do primeiro Governo Provisório após o 25 de Abril.

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O reconhecimento feito pela terra natal aconteceu 44 anos depois, na sessão solene evocativa da efeméride, que se realizou na manhã do feriado, no Fórum Trofa XXI, no Parque Nossa Senhora das Dores e Dr. Lima Carneiro.
O NT entrevistou-o antes do regresso à Trofa e constatou o “nervosismo” que antecede à aparição pública que fará. “Fico sempre nervoso”, confessou, antes de recordar as duas visitas anteriores, uma a representar o Partido Comunista Português (PCP) em comícios decorridos em pleno “Verão Quente” de 1975 e outro como membro da Assembleia Municipal de Santo Tirso – onde exerceu funções durante nove anos como eleito da CDU -, “a convite de uma associação”, mas da qual “não” guarda “as melhores recordações”.
Avelino Gonçalves tem uma ligação profunda aos movimentos sindicais antes da Revolução e foi exatamente quando cumpria mais uma atividade no Sindicato dos Bancários do Porto que soube que o golpe militar estava prestes a acontecer. Para Avelino, “o 25 de Abril não foi uma surpresa completa”, dado que fazia parte da estrutura nuclear do PCP e soube “com antecedência” das intenções do MFA (Movimento das Forças Armadas).
Com a queda do Governo de Marcelo Caetano, não tardou a criação de um novo executivo, aprovado pelo Presidente Spínola. Cinco dias após a Revolução, Avelino foi “consultado” sobre a escolha de Álvaro Cunhal para a pasta do Trabalho. “Eu disse que achava muito mau, porque haveria gente que tentaria de tudo para voltar os trabalhadores contra o PCP e que o lugar dele como secretário-geral do partido o contraindicava para o lugar”, contou.
Cunhal, assim como Francisco Sá Carneiro e Francisco Pereira de Moura integraram o executivo, mas sem pasta, enquanto Avelino Gonçalves foi indicado pelo PCP para ministro do Trabalho e validado por Spínola.

“Houve trabalhadores que viram o salário multiplicado por três”

Tomar conta de uma pasta com tamanho significado no rescaldo de uma Revolução não o atemorizou. “Seria uma desgraça se, porventura, me passasse pela cabeça queixar-me das dificuldades. Fossem quais fossem, era uma situação que encarávamos e com grande contentamento e confiança”, revelou.
Desses tempos, Avelino recorda reuniões acesas com delegações de trabalhadores, “às vezes justamente indignados com este e aquele problema ou com a melhoria das condições de vida”. Nas auscultações, assegura, “tudo foi sendo discutido numa relação de grande confiança e, no geral, de respeito mútuo”. “Houve concentrações com milhares de trabalhadores junto ao Ministério e quando chegava a altura de ir almoçar, nunca deixei de sair pelo meio das pessoas que lá estavam”, lembrou.
A medida mais importante que tomou, diz, foi a criação do salário mínimo nacional, fixado em 3300 escudos. Avelino Gonçalves está convicto de que esta deliberação, em maio de 1974, “representou uma melhoria de ordenado para 56 por cento dos trabalhadores: “No concelho de Santo Tirso, por exemplo, com a predominância do setor têxtil, os salários eram bastante mais baixos. Uma mulher ganhava à volta de mil escudos, às vezes menos. Houve trabalhadores que viram o seu salário multiplicado por três, famílias que pela primeira vez puderam encarar a compra de eletrodomésticos, mobilar a sua casa, etc.”.
Ora, no reverso da medalha, Avelino Gonçalves teve de lidar com a réplica dos patrões. Recorda que também trabalhou muito na “convergência de posições”, para a negociação de “novas contratações coletivas e fixação de novas condições de vida, como o alargamento do tempo de férias e fixação do subsídio de férias”. Pressão dos empresários? “Houve de tudo”, respondeu. Se por um lado, houve quem não criasse problemas, por outro lado, “houve tentativas de sabotagem”, protagonizadas “pelas empresas gigantescas”. “Nesse caso sim, houve claramente a tentativa de perturbar a vida económica e social do país”, acrescentou.
Das ilhas também vinham sinais de alerta: “Da Madeira, chegou-me a preocupação dos patrões, que consideravam que não iam aguentar com a prática do salário mínimo. Hoje, vemos que a Madeira, não só se aguentou como até aplica um salário mínimo mais elevado que no continente. Afinal não houve o desastre económico que as pessoas receavam”.
Avelino Gonçalves esteve à frente do Ministério cerca de dois meses, os mesmos que durou o 1.º Governo Provisório, até à demissão do primeiro-ministro Adelino da Palma Carlos. Depois de uns tempos de atividade sindical – à qual se incluiu a direção do jornal “Alavanca” -, voltou à profissão de bancário e, mais tarde, dedicou-se à atividade política no PCP, exercendo “funções de organização no distrito do Porto e concelhos do interior”. Foi membro do Comité Central do partido durante 20 anos, até 1996, até abraçar o novo projeto como professor no Ensino Profissional, por duas décadas, até à reforma.
Politicamente, foi candidato pelo PCP nas eleições autárquicas de 2005, 2013 e 2017 à Câmara Municipal de Cinfães, onde vive atualmente.

Artigo publicado na edição 668 do jornal O Notícias da Trofa, de 26 de abril de 2018

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