Edição 531
O BE LIVE não é para todos
De regresso para animar o fim-de-semana de 16, 17, 18 e 19 de Julho, a Festa da Juventude BE LIVE está de volta pelo segundo ano consecutivo. O certame deste ano contará com as actuações de artistas de renome nacional e promete arrastar largas centenas de pessoas até à zona envolvente da estação ferroviária da Trofa. A tal zona que em tempos constituiu motivo de preocupação para destacados representantes institucionais da direita trofense, que temiam não se sabe muito bem o quê caso os grandes eventos continuassem a ser transferidos para aquele espaço, preocupação entretanto desvanecida na sequência da chegada ao poder da coligação PSD/CDS-PP. Os grandes eventos do concelho da Trofa continuam a “escorregar” para ali e ainda bem.
Relativamente ao ano de 2014, notam-se algumas evoluções positivas. O cartaz, independentemente dos gostos pessoais de cada um, é um dos melhores e sobretudo dos mais atractivos de sempre no nosso concelho, a programação é mais diversificada e as bandas locais – pasmem-se – couberam no cartaz e vão mesmo ser remuneradas pelo seu trabalho quando no ano passado tiveram apenas o “privilégio” de subir ao palco e partilha-lo com os cabeças-de-cartaz. Em boa hora o poder político percebeu que somos nós, trofenses, os privilegiados por ver os talentos da nossa terra pisar o palco desta grande festa. Apoiar os jovens músicos trofenses também passa por valorizar o trabalho árduo com que todos os dias se deparam. Remunerá-los é um imperativo moral para um evento com um orçamento superior a 60 mil euros.
Apesar de ser, na minha opinião – e aparentemente na opinião da anterior e do actual edil – a zona mais privilegiada para este tipo de eventos, entre outros aspectos pelo espaço existente, pelas acessibilidades ou mesmo pela abundância de estacionamento, o recinto do BE LIVE não é igualmente acessível a todos os jovens trofenses. Para os residentes na União de Freguesias de Bougado será mais ou menos fácil caminhar até lá. Para aqueles que vivem no Muro, Alvarelhos, Guidões, Covelas, São Mamede e São Romão do Coronado, a coisa complica-se.
A situação poderia ser facilmente resolvida caso a autarquia decidisse, à semelhança daquilo que acontece noutras paragens, disponibilizar os autocarros que possui para fazer uma espécie de roteiro pelas várias freguesias do concelho, de maneira a proporcionar transporte de e para casa a jovens que, fruto da tenra idade ou do simples facto de não terem viatura própria, não têm forma de se deslocar até ao local do evento. Infelizmente, e apesar dos apelos em sede própria, continuam a existir jovens de primeira e de segunda no nosso concelho. Porque uma festa que se diz da juventude não pode ignorar parte daqueles que gostariam de estar presentes mas não têm como.
Com alguma boa vontade teria sido possível à autarquia criar condições para que todos os jovens, sem excepção, pudessem desfrutar do BE LIVE. O dinheiro não terá com certeza sido o problema já que uns meros 2% ou 3% do valor alocado seriam mais que suficientes para pagar combustível e motoristas. A menos, claro, que os responsáveis entendam que os jovens das restantes freguesias não valem esses 2% ou 3%. No entanto, e fruto de uma opção política que não se percebe, estes trofenses confrontam-se novamente com o dilema de como lá chegar. O BE LIVE, tal como a igualdade de oportunidades neste concelho, continua a não ser para todos.
João Mendes
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