Crónicas e opinião
O ABC da negociação
Números redondos, o valor que separa um não de um sim, é 1.600.000,00€.
Em Dezembro de 2017, 400.000,00€ eram motivo para não encetar negociações. Em Maio de 2020, ficamos a saber que 2.000.000,00€ foram suficientes para garantir uma posição favorável, durante o processo de negociação do aterro sanitário de Covelas.
Vamos a factos, porque a História é feita de factos, e, se há momento que ficará para a História da Trofa, é este. Em primeiro lugar, em qualquer negócio, existe um comprador e um vendedor, condição essencial para realização do ajuste. Se a Resinorte não tivesse demonstrado vontade de vender, e se a Câmara Municipal da Trofa, não tivesse vontade de comprar, as negociações não avançariam.
Em segundo lugar, o processo de licenciamento de um aterro sanitário, moderadamente apelidado de unidade de confinamento técnico, não é um processo unilateral. Envolve várias entidades administrativas e institucionais.
Tome como exemplo, caro leitor, o processo de licenciamento para construção de uma casa. Proponho um exercício de objetividade, em ordem de grandeza. Se uma habitação, uma simples casa, precisa que o processo de licença de construção seja emitido pela Câmara Municipal, que dizer de um processo de licenciamento de um aterro sanitário? Uma unidade como um aterro passa ao lado do Executivo de uma Câmara Municipal? A Câmara Municipal da Trofa, é completamente alheia ao licenciamento de uma infraestrutura desta natureza? A Câmara Municipal da Trofa, não tem de fazer com o proponente, ao caso Resinorte, o mesmo que qualquer um de nós faz, durante o processo de licenciamento de uma habitação? Não tem de entregar documentação que suporte e sustente o processo de licenciamento junto das restantes entidades que fazem parte desse processo? Todas estas questões tiveram uma resposta que nos foi dada a conhecer pela comunicação social, não pela boca de nenhum membro do Executivo da Câmara Municipal da Trofa.
Em terceiro lugar, o senhor Vice-presidente da Câmara Municipal da Trofa, António Azevedo, no passado dia 21 de Junho, na Abelheira, afirmou diante da população que a autarquia tinha recebido um pedido de licenciamento, para construção de uma fábrica de fertilizantes. O mesmo senhor Vice-presidente, António Azevedo, garantiu que a fábrica não iria ser construída porque não teve aprovação por parte do Executivo. Tal decisão foi tomada em poucos dias, palavras do senhor Vice-presidente. Posto isto, urge uma questão.
Se o executivo camarário foi célere na resposta ao pedido de licenciamento da fábrica de fertilizantes, o que aconteceu entre Dezembro de 2017 e Maio de 2020, com o projeto de licenciamento do aterro sanitário de Covelas?
Em quarto lugar, o “inimigo” Resinorte. A Resinorte, é uma empresa do grupo EGF, integrada no grupo Mota-Engil. Para contextualização, a EGF – Empresa Geral de Fomento era uma empresa do Grupo Águas de Portugal, privatizada pelo Governo PPD-PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho. O grupo Mota-Engil, é um importante potentado industrial e comercial do nosso País.
A Resinorte, uma empresa que tem a sua atividade económica reconhecida e juridicamente constituída como sociedade anônima, limita-se a atuar naquilo que lhe compete. Defende os seus interesses, assim como o Executivo do Município da Trofa defende os nossos. Pelo menos, é esse o meu entendimento.
Numa altura do campeonato em que já se falava em passar a bola, passar a ideia de que, a Resinorte é “o inimigo”, é não ter ciência, nem decência. Se posição favorável ao aterro havia e se argumentos fortes apraziam, deveria o Executivo tê-la feito chegar de forma clara aos Trofenses, e não fazer jogos de cintura, dando o dito por não dito.
Uma Trofa de futuro, vive na ânsia do futuro passar por aqui. Não é uma Trofa que queira abraçar uma infraestrutura como um aterro sanitário. Caso se entenda o contrário e, por justa contraposição, deve haver a coragem de o afirmar publicamente.
Por último, na proximidade do local escolhido para o aterro sanitário, existem terrenos destinados à construção de pavilhões industriais, a famosa ALET – Área de Localização Empresarial da Trofa, área essa que teve, desde o início, o propósito de se tornar no segundo maior polo industrial de Portugal. O impacto negativo no preço desses terrenos e a existência do aterro sanitário na sua proximidade, com outras consequências, funcionaria como um repelente ao investimento, à atração de empresas, à criação de empregos, à criação de receita fiscal e ao desenvolvimento do comércio e indústria do concelho da Trofa. O senhor Presidente da Câmara Municipal da Trofa, Sérgio Humberto, percebeu que a sua intenção poderia castigá-lo nas urnas.
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