Ano 2010
Muro ameaça não votar nas presidenciais
A população da freguesia do Muro está indignada. O início da obra do metro até à Trofa pode estar comprometido novamente e os murenses garantem não votar nas eleições presidenciais em 2011 para “chamar a atenção dos governantes”.
“Uma palhaçada”. É desta forma que António Maia, morador na freguesia do Muro, comenta a notícia do cancelamento do concurso para a extensão da Linha do Metro até à Trofa.
O prolongamento da empreitada do metro até à Trofa, em via única, estava previsto para a primeira fase da linha verde usando o corredor da linha de Guimarães e por isso em Fevereiro de 2002 a população do Muro, de Santiago e de S.Martinho viram ser-lhes retirado o comboio com a promessa de que daí a pouco tempo o metro chegaria ao concelho. À espera de ver chegar o metro, os murenses foram assistindo impotentes a um cenário desolador…os carris foram retirados, as travessas de madeira arrancadas e a estação acabou por ser emparedada em Fevereiro de 2009
Há quase uma década apenas servidos pelo autocarro, que dizem passar apenas de “hora em hora”, os habitantes do Muro estão revoltados e prometem manifestar-se. “Consta-se que vão adiar a obra outra vez, a população do Muro está mentalizada que no futuro vai ter de fazer uma acção de protesto para demonstrar ao país que a situação é triste. É um caso de abandono onde parece que somos portugueses de segunda, quando a população do concelho também paga os seus impostos”, afirmou José Lopes que se concentrou no Largo da Estação para discutir o “problema”.
Descontentes, os murenses garantem não votar nas próximas eleições presidenciais, em 2011, ou até organizar-se para uma manifestação “pacífica”. “Devíamo-nos juntar outra vez, como fizemos para ir buscar o concelho, e ir para a Assembleia da República para que o metro chegue ao Muro”, acrescentou António Maia, que acredita que se a freguesia pertencesse ao concelho vizinho da Maia “o metro já tinha chegado”. Luís Silva, a morar no Muro, dá outra sugestão: “Vamos bloquear a Avenida dos Aliados, pormo-nos em frente à linha do metro para ninguém passar”.
“Só queria fazer um apelo à presidente da Câmara, Drª Joana Lima, que olhasse para as pessoas do Muro e que fizesse alguma coisa, se for preciso ajuda para ir à Assembleia da República reclamar, que peça. Eu estou disposto a ir para Lisboa fazer barulho”, acrescentou António Maia.
Estes murenses acreditam que “a culpa vem do executivo camarário anterior”, mas Luís Silva não poupa críticas à administração central: “Acredito que ela (Joana Lima) tenha vontade de que o metro venha para cá, mas nós temos um Governo que é mentiroso”.
Luís Silva, por semana, despende “uma média de 25, 30 euros” para abastecer o depósito do veículo próprio que utiliza para ir trabalhar. Com o metro à porta, o homem acredita que poupava dinheiro e o ambiente. Os jovens que moravam na freguesia fizeram as mesmas contas e, de acordo com Luís Silva, “tiveram de sair porque não tinham condições para morar aqui”, já que em hora de ponta “é preciso no mínimo duas horas para chegar ao Porto”.
Carlos Martins, presidente da Junta de Freguesia, confirmou as ameaças de boicote eleitoral dos habitantes do Muro e garantiu que “os murenses estão a ficar desagradados” com a empreitada que “já devia estar pronta há quatro ou cinco anos”, no entanto justificou: “Não sou eu que pago a obra, nem sou eu que tenho dinheiro, senão o metro já lá estava”.
Neste momento, a Metro tem em funcionamento um serviço alternativo de autocarros usado por 400 pessoas e os 11 quilómetros onde passava o comboio desde 1930 estão sem carris e ocupados por silvas e ervas daninhas.
Obra provocaria aumento do endividamento do PEC
A obra do metro até à Trofa obriga a um investimento de 140 milhões de euros e provocará um aumento do endividamento do Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), noticiava o Público, no sábado. Tendo em conta esta situação a administração da Metro fez saber que apesar das dificuldades orçamentais está em causa um compromisso político assumido pela Junta Metropolitana do Porto e pelo anterior Governo.
Joana Lima, presidente da Câmara Municipal da Trofa, diz não acreditar neste adiamento: “A Linha da Trofa vai ser uma realidade e as obras vão começar muito brevemente”, remetendo mais esclarecimentos para sexta-feira.
Linha Verde com “sinal amarelo”
Muita tinta já correu sobre a vinda do metro para a Trofa. A conclusão da construção deste meio de transporte estava prevista para 2009 e mais tarde para 2011.
Em 2007, o Governo considerava a empreitada do metro até à Trofa como uma obra “prioritária” e, na mesma altura, uma fonte próxima do Ministério das Obras Públicas Transportes e Comunicações assegurou ao NT que se a Linha de Metro da Trofa fosse para avançar em via única, as obras poderiam “começar no espaço de poucos meses”.
Joana Lima, ainda deputada pelo Partido Socialista na Assembleia da República e vereadora sem pelouro na Câmara Municipal da Trofa, em declarações ao NT, em Março de 2007, considerou que a Trofa via “esta obra adiada há muito tempo”. “Os trofenses estão há muito a ser sacrificados já que lhes foi retirado o comboio e foi-lhes prometido que a curto prazo seria substituído pelo metro, mas até agora apenas se tem assistido a mais adiamentos”, afirmou. A deputada salientava ainda que “esta situação já atravessou vários governos, inclusive do PSD, que não resolveram a questão” e disse estar esperançada que fosse “o Governo de José Sócrates a colocar um ponto final nesta situação”.
No entanto o obra não avançou para o terreno e em 2009 a obra voltou a ser adiada. Bernardino Vasconcelos, presidente do anterior executivo trofense, afirmou que iria “defender com unhas e dentes a expansão da Linha Verde do ISMAI até Paradela”, em declarações prestadas aquando da visita da anterior Secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que veio à Trofa em Setembro de 2009, para assinalar o lançamento do concurso para a construção da linha do metro.
Nessa cerimónia a responsável pela pasta dos transportes, garantiu que aquele era o momento de “repor a justiça”, dando por certo que o metro estaria a circular pela Trofa em finais de 2011. “Por um lado tem a ver com o facto desta ser uma linha que estava na primeira fase da Metro do Porto e, como se sabe, a primeira fase está concluída e esta linha ainda não está construída. Portanto trata-se de colmatar essa deficiência, repor a verdade e assegurar esta ligação”, asseverou.
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