Crónicas e opinião
Memórias e Histórias da Trofa: Diest – o homem que iria revolucionar o futebol do Clube Desportivo Trofense
“Uma personalidade de feitio “complexo”, habituado a outros palcos, nomeadamente mais mediáticos, era visto pelos seus pupilos como um visionário, mesmo como um revolucionário, conferindo novos métodos de trabalho ao clube, colocando-o na rota do sucesso. “
Ao longo da sua história, o Clube Desportivo Trofense teve sempre vários treinadores que se foram destacando no desempenho das suas funções, conseguindo conquistar importantes títulos para a história desta coletiva.
O primeiro treinador do grémio foi o célebre jogador do Futebol Clube do Porto, Júlio Cardoso que era natural de Lisboa e que anos antes tinha trocado o Sport Lisboa e Benfica pelo referido clube da cidade invicta e que após terminar a sua carreira assumiu o cargo de treinador do Trofense.
Os anos foram-se passando e após uma travessia no deserto que durou até aos anos cinquenta, poucos seriam os treinadores que teriam igual destaque no futebol do Trofense
Contudo, a situação mencionada no parágrafo anterior iria mudar com a chegada do treinador Diest, que tinha nacionalidade espanhola e entraria para a história desta instituição desportiva porque foi no seu comando que iria ascender o Clube Desportivo Trofense, duas vezes consecutivas de divisão, deixando de jogar na 3ª. e última divisão distrital para rapidamente atingir o patamar máximo do futebol distrital.
Uma personalidade de feitio “complexo”, habituado a outros palcos, nomeadamente mais mediáticos, era visto pelos seus pupilos como um visionário, mesmo como um revolucionário, conferindo novos métodos de trabalho ao clube, colocando-o na rota do sucesso. Os seus métodos de treino terminavam com tudo o que era realizado até ao momento e que possivelmente eram os causadores dos falhanços desportivos, até porque eram várias as tentativas de promoção que não se confirmavam.
Originalmente, Diest foi contratado para ser jogador-treinador, ocupando as duas funções caso fosse necessário, todavia, acabaria por se distinguir como treinador.
O clube anterior à sua chegada ao Clube Desportivo Trofense, foi o Sport Club Vianense que disputava a 3ª Divisão do Campeonato Nacional.
A sua contratação deveria ter sido barata, atendendo a transitar dos escalões nacionais para o futebol distrital, porém, foi uma decisão acertada dos dirigentes trofenses que conseguiram elevar o futebol da sua instituição para um nível até então desconhecido.
As suas primeiras contratações para preparar a época 1965/66 seriam as seguintes: Amarante, Cabrita e David (ex: Tirsense), Octávio (ex: Rio Ave) e Fonseca (ex: Boavista).
Um Rio Ave Futebol Clube que estava longe da realidade que nos presenteia hoje em dia, como também o Boavista Futebol Clube que caminhava pelos campeonatos distritais naquele seu momento da história.
Contudo, não deixa de ser relevante a capacidade de “roubar” jogadores a clubes de outros escalões e até mesmo aos rivais.
Os seus treinos funcionavam através do prévio planeamento, – não se tomavam decisões arbitrárias – e assentavam em dois formatos, nomeadamente os treinos físicos e os treinos com bola.
Introduzindo mais elementos relativamente aos treinos físicos que eram bastante intensos, eis que na pré-época, os atletas realizavam quatro treinos semanais, sendo que três deles privilegiavam a componente física, nomeadamente às terças, quartas e sextas-feiras, deixando o contacto com a bola para a quinta-feira.
Ouvindo alguns dos seus antigos atletas que, infelizmente, já partiram, eram comuns os reparos à carga física que incutia nos seus treinos, sendo normais os “crosses” até S. Gens, indo e vindo a correr até ao estádio. A sensação que com um treino mais intenso, ocorreria uma melhor preparação e obviamente uma melhor resposta nos jogos.
Um apontamento também deve ser referido à carga psicológica que ele colocava nos seus jogadores, um elevado nível motivacional, transmitindo sempre que possível uma dose elevada de confiança.
Não existem receitas mágicas no futebol, contudo, uma verdade deve ser bem clara, os resultados apareceram e como foi explicado anteriormente, em duas épocas apenas, ocorreram duas subidas de divisão, fazendo com que este timoneiro ficasse na história do clube.
Crónicas e opinião
O estranho caso da desagregação de Bougado
Estimados leitores, quero falar-vos sobre o estranho caso da desagregação da União de Freguesias de Bougado. Mas começo por felicitar os Alvarelhenses e Guidoenses por terem visto a Assembleia da República aprovar a desagregação, e devolver a autonomia administrativa às freguesias.
Este processo veio corrigir a injustiça que a Lei Relvas, por altura do Governo do PSD de Passos Coelho, impôs. É justo dizer-se que a luta do povo de Guidões, que nunca se conformou com a agregação feita, valeu a pena. E valeu a pena porque desde o início se percebeu que era um movimento genuíno da população que soube envolver os partidos.
Bem diferente é o caso da União de Freguesias de Bougado.
Estimado leitor, permita-me que comece por fazer uma declaração de interesses. O PS Trofa tem desde o início a mesma posição. Sempre que exista um movimento, genuíno, representativo da vontade da população, o PS Trofa apoiará o pedido de desagregação.
Nunca mudamos de posição. Foi assim no caso de Guidões, como é no caso de Santiago de Bougado. É sobejamente conhecido que existe um movimento independente, constituído por elementos dos diferentes partidos.
Em 2022, esses elementos reuniram milhares de assinaturas, para convocar uma assembleia extraordinária para se votar a desagregação. E foi aqui que começaram os números de circo da coligação PSD-CDSPP.
Em abril de 2022, uma Assembleia de Freguesia foi cancelada, para impedir que este assunto fosse discutido. Com um bilhete na porta a cancelar a assembleia, foi assim que os Bougadenses souberam.
Resultado disto, o presidente da Assembleia de freguesia, com toda a dignidade, demitiu-se. Quem conhece o Vítor Martins, não ficou admirado. A sua retidão e a forma transparente como exerce os cargos que assume não lhe permitiam dar cobertura a interesses menos claros. Sucedeu-lhe a Presidente Isabel Loureiro, a quem coube a missão de marcar a assembleia extraordinária para votação da desagregação.
Nessa assembleia, os 4 membros do PS Trofa, anunciaram o seu voto a favor da desagregação. Solicitaram também que a votação fosse feita de braço no ar, para que as centenas de pessoas que estavam presentes soubessem quem quer e quem não quer a desagregação. A Presidente Isabel Loureiro, permitiu, tal como os membros do PSD pediram, que a votação fosse secreta. Foi mais uma cobardia do PSD. A desagregação foi chumbada com 7 votos contra e 6 a favor.
O PSD local, à data, anunciou que o Presidente de Junta, Luís Paulo, não estaria a cumprir com o entendimento da concelhia, e, portanto, o PSD iria impugnar a assembleia e o seu presidente ia demitir-se. Estimados Bougadenses, o PSD não impugnou, nem o Presidente se demitiu.
Agora, em final de 2024, os 4 eleitos do PS Trofa e 5 eleitos do PSD-CDSPP, pediram outra assembleia extraordinária, para nova votação da desagregação. A Presidente Isabel Loureiro tinha 10 dias para agendar a assembleia. Não a agendou. Mas conseguiu, um mês e meio depois, agendar uma assembleia ordinária.
No final da assembleia ordinária, a 26 de dezembro, a Presidente Isabel Loureiro convidou os eleitos para uma conversa informal. Transmitiu que o documento apresentado para votar a desagregação teria erros. Solicitou que corrigissem os erros primeiro. Os eleitos do PS voltaram a afirmar o óbvio. Todos os prazos legais estavam a ser desrespeitados e a assembleia extraordinária tinha que ser marcada. Os eleitos do PS disponibilizaram-se para verificar se o documento tinha erros, mas em momento algum a assembleia extraordinária ficaria sem efeito.
E é aqui que entra mais um número de circo do PSD-CDSPP. A um email que a Presidente Isabel Loureiro enviou, a pedir que se marcasse uma reunião para corrigir os erros, dizendo que assim a assembleia extraordinária ficava sem efeito, os eleitos do PS responderam dizendo que nunca a assembleia extraordinária poderia ficar sem efeito, estando ainda assim disponíveis para analisar eventuais erros do documento.
A Presidente Isabel Loureiro respondeu, assumindo que teria sido um erro seu de interpretação o que a levou a considerar que a assembleia extraordinária ficava sem efeito, e transmitiu que tinha enviado ao Presidente Luís Paulo o email com essa informação, porque já lhe tinha solicitado a demissão por não permitir a interferência de terceiros.
Até hoje o PS Trofa e os seus eleitos não sabem quem são os “terceiros”, mas sabem que a assembleia tem que ser marcada.
O PS não admite que o Presidente Luís Paulo minta para dar cobertura aos seus interesses.
Não, os eleitos do PS nunca propuseram cancelar a assembleia extraordinária, e isso mesmo assumiu a Presidente Isabel Loureiro. O que sabemos é que, a confirmar-se, é a segunda demissão de um presidente da assembleia de freguesia.
Crónicas e opinião
O padrão Elon Musk
“Para Musk, a ideologia é uma ferramenta. Isso explica porque apoiou Obama em 2008 e 2012, Hillary – surpresa! – em 2016, Joe Biden em 2020 e Trump em 2024.”
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Ninguém votou em Elon Musk.
No entanto, il consigliere tem neste momento mais poder e exposição mediática que JD Vance.
E ombreia com Trump.
Aliás, a saudação nazi – sim, foi uma saudação nazi, e foi intencional, mas já lá vamos – roubou claramente o protagonismo a Donald Trump. No dia seguinte ao mais importante da vida do outra vez presidente dos EUA, o maior comeback da história da política americana, o tema não foi Trump. Foi a actuação do Adolfo de Pretoria. E Trump, dono do mais pedante ego à face da Terra, não deve ter ficado nada contente. A Soberba é pecado mortal, mas Donald é muito cristão. Enviado por Deus.
Esta é uma das minhas esperanças: que os gigantescos egos de Trump e Musk colidam. Sem retorno. A seguir abasteço-me de pipocas e vou assistir ao combate entre nativistas e broligharcs no octógono, com Joe Rogan a comentar e Trump a tirar selfies com Dana White na fila da frente. Se tivesse que apostar, apostava nos segundos. Na América, mais do que em qualquer outro sítio, é o dinheiro quem mais ordena.
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Não é preciso ter a fortuna de Elon Musk para se viver rodeado por um pequeno exército de assessores, assistentes, secretários, relações-públicas, community managers, estrategas, psicólogos (e ele bem precisa deles por perto) e outros especialistas mais que agora não me ocorrem. Musk não é um tolinho com ideias doidas. Pode ser antissocial, mas não ficou estupidamente rico por ser um idiota qualquer. Musk calcula cada movimento. E tem uma equipa à sua volta para garantir que cada gesto conta.
Isto para vos dizer que me parece que Musk tem um plano pós-Trump.
Um plano de poder libertário levado ao extremo, focado em reduzir o estado abaixo do mínimo tolerável, destruir direitos laborais, desregular ao máximo a economia e, no limite, ilegalizar sindicatos.
Não é por acaso que Trump o colocou no DOGE.
Ou que Musk comprou o lugar com os 277 milhões de dólares que colocou na máquina de campanha.
E os quatro anos que se seguem serão o tubo de ensaio perfeito para testar os limites da população e a resistência do que restará das instituições, que já não estavam particularmente saudáveis. E Biden fez questão de lhes cuspir em cima antes de sair, com os seus vergonhosos perdões, estendendo ainda mais o tapete aos abusos do seu sucessor.
Ironicamente, Musk recebeu milhares de milhões de financiamento público da administração Biden. Em breve saberemos quanto pensa o DOGE cortar aí.
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O plano de Musk tem um lado ideológico, apesar da natureza duvidosa das suas convicções, como o provam as muitas bandeiras trumpistas que se encontram em profunda contradição com o seu historial: apoio a candidatos democratas (dois deles contra Trump), carros “verdes” que ameaçam o bom velho petróleo, visitas à Ilha de Epstein, família negligenciada, o desejo de abrir portas a mais imigrantes qualificados para cargos de topo em empresas americanas, enfim, não saíamos mais daqui.
Para Musk, a ideologia é uma ferramenta. Isso explica porque apoiou Obama em 2008 e 2012, Hillary – surpresa! – em 2016, Joe Biden em 2020 e Trump em 2024. E mesmo em 2024, apoiou primeiro DeSantis, e só quando este caiu se virou para Trump. Elon está há mais de 15 anos a tentar comprar o acesso directo ao poder. Desta vez conseguiu. 277 milhões bem investidos. Já lucrou bem mais que isso desde a vitória de Trump.
Ainda assim, a ideologia está lá. Não porque crê necessariamente nela, mas por ser o meio mais eficaz para atingir os seus fins. E é possível identificar um padrão. Podemos optar por ignorá-lo, mas ele está lá na mesma.
Conquistada a Casa Branca, Musk decidiu interferir na política europeia. Decidiu ajudar extremistas a chegar ao poder, para depois fazer com eles o que parece estar a fazer com Trump. Musk é como aquele ratinho dos bonecos, o Brain, que quer dominar o mundo. Oxalá tenha o mesmo destino do parceiro do Pinky: falhou sempre e foi descontinuado ao fim de 4 temporadas.
Musk tem inclusive um histórico de favores a regimes de extrema-direita. Quando Erdogan mandou censurar a oposição turca, na recta final da campanha para as eleições de 2023, o “absolutista da liberdade de expressão” bateu continência ao sultão sunita e censurou a oposição secular. O mesmo aconteceu a opositores de Narendra Modi, na Índia. E nos Emirados Árabes Unidos.
O argumento?
Tinha que cumprir a lei.
Mas quando um tribunal australiano condenou o Twitter a remover vídeos de um bispo a ser esfaqueado numa igreja, Musk alegou que a justiça australiana não tinha autoridade para decidir que conteúdos os utilizadores da plataforma podem ver. O que me leva a concluir que o problema de Musk não é com a lei. É com as democracias. Líderes autoritários são infinitamente mais úteis para o atingimento dos seus objectivos.
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Agora, porém, king-tech broligharc quer a Europa.
Na Alemanha, que vai a eleições daqui a um mês, e onde existe um partido conservador sólido, Musk defende que só a AfD pode salvar o país. A AfD que alberga nazis legítimos, e que é tão extremista que até Le Pen e Abascal quiseram distância e mudaram de grupo no Parlamento Europeu.
No Reino Unido, a coisa fica mais bizarra. Aparentemente, Nigel Farage, cérebro do Brexit e protótipo mais avançado e competente do populista oportunista sem espinha dorsal, não é facho que chegue para Musk. il consigliere considera o hooligan Tommy Robinson mais adequado. Farage toma chá e é demasiado polido. Facho que é facho bebe álcool e anda à porrada.
Em França, o cenário não é menos insólito. Eric Zemmour foi convidado para a inauguração de Trump e Le Pen parece só ter recebido o convite através do PfE. Foi na comitiva do nosso Ventura. Ficaram a ver ao longe.
A lista continua e isto já vai longo. A minha conclusão é esta: para Musk, partidos de extrema-direita de matriz mais popular não servem. Elon quer a malta hardcore. Quer as coisas à bruta.
Portanto se ele aparece em palco, no dia em que festeja o ponto mais alto em que o seu dinheiro o colocou, e faz duas saudações nazis perfeitas, com uma convicção firme e a expressão de quem está a sentir aquilo ao máximo, não me venham com tretas. Até Nick Fuentes, o mais proeminente influencer nazi dos EUA, saudou a perfeição da saudação no seu podcast. Musk pode não ser convictamente nazi, mas usou intencionalmente uma simbologia que vai ao encontro do padrão que define a sua interferência na política europeia. Quem não quiser que não veja. Mas que se prepare para o que vem aí.