Crónicas e opinião
Memórias e Histórias da Trofa: Atestados de pobreza em 1882, em Alvarelhos
Os atestados de pobreza pelos motivos evidentes são importantes ferramentas históricas para compreender a realidade socioeconómica de um território em um determinado momento.
O cenário nefasto da pobreza é transversal a várias épocas da história nacional e global, não se cingindo apenas à época contemporânea como alguns discursos tendenciosos tentam transparecer, todavia, este fenómeno social esta bastante detalhado neste período da história, atendendo à diversidade de fontes existentes.
Um leque de temas e subtemas que ainda vai causando algum afastamento em muitos historiadores, até porque, sempre foi mais fácil e motivador estudar o grandioso, o pujante, aquele ou aqueles que dão cartas e não os miseráveis que não vivem, mas, que vão sobrevivendo.
Quem estuda a história das autarquias, nomeadamente o poder local e a sua política ao longo de várias décadas, ou mesmo séculos irá se deparar sem grandes dificuldades nestes atestados que eram passados que eram uma simples tentativa de proteção económica para quem tinha menos recursos financeiros.
O final do feudalismo não fez surgir a pobreza, mas, acabou por realçar a sua existência e não vai longe no tempo, concretamente no período temporal em análise (final do século XIX) que ainda se trabalhava para comer, com o pagamento do soldo a ser executado em quantidades de cereais. A base da alimentação do comum cidadão.
Os atestados de pobreza nesta freguesia eram comuns, demonstrando evidentemente as fraquezas económicas da região em que a agricultura da autossuficiência, o trabalho à jeira, entre outras condicionantes eram uma realidade bem vincada.
Num dos atestados justificava-se a realização do mesmo porque o requerente tinha apenas uma pequena terra, em que essa terra estava penhorada por dívidas, estava doente com vários filhos para alimentar, vivendo do salário de um dos filhos que era oficial de sapateiro.
Um outro caso era bastante parecido, apenas que era apoiado o requerente pelo seu genro através do salário de oficial de pedreiro.
Assistimos nos parágrafos anteriores a uma rede familiar de apoio, próxima da realidade que se vive na atualidade em que as famílias tentam manter os seus orçamentos capazes de responder às várias necessidades do seu dia a dia, muitas vezes sem sucesso como recentemente ficou comprovado pela Cruz Vermelha da Trofa que alimenta uma grande quantidade de trofenses.
Discutia-se o avanço económico da região nomeadamente da instalação de uma central postal em Guidões para servir a freguesia de Alvarelhos porque alegavam que a distribuição postal para a dimensão económica daquele território, não podia continuar a ser feita desde o lugar da Carriça, na freguesia do Muro, mas, esse progresso económico continuava a ser uma miragem para alguns.
Novamente, como em tantas outras crónicas assistimos a um paralelismo com a atualidade, alegava-se que o crescimento económico iria ser sinónimo de progresso, todavia, ainda é uma miragem para alguns.
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