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Edição 577

Literária mente

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Num recente evento literário na nossa cidade da Trofa, apresentaram-me a questão, a propósito do meu livro “Nevoeiro”: para quem escreve?
É uma questão interessante, à qual qualquer escritor deve dedicar algum tempo de reflexão. Felizmente, tenho a sensação de que as respostas não podiam ser mais diversificadas. O que é, na minha opinião, um fator positivo.
A versão mais simples da minha resposta é que escrevo para quem quiser ler. Qualquer pessoa que se interesse minimamente pelo tempo que dedico a escrever, merece a minha atenção. E até mesmo quem não tem esse interesse merece a minha consideração. Pois, por vezes, na crítica aprendemos mais do que no próprio elogio.
Apesar de tudo isto, há um grupo de pessoas que eu tenho em mente quando escrevo. Os inquietos. As pessoas que nunca estão satisfeitas com a vida, que querem sempre mais, que querem acordar de manhã repletas de sonhos, de objetivos.
É óbvio que eu não sei quem são estas pessoas. Elas são, para mim, como “nevoeiro”. Mas o meu desejo é encontra-las. Saber que ainda há gente no mundo que não se contenta com aquilo que a vida nos dá. Porque essa é a maior crise. Mais grave que a crise económica de que tanto se fala, é a crise de valores, a crise de felicidade, a crise de sonhos.
Eu visito várias escolas e pergunto muitas vezes aos jovens se são felizes. O número de braços levantados é pouco, mínimo, um número demasiado pequeno para ser verdade. Quantas vezes perguntamos aos nossos jovens se são felizes? Se acordam com um propósito?
Não sei dizer se esta filosofia nasceu da escrita, da leitura, das vivências. É provável que tenha nascido de tudo um pouco. Não digo que sou quem sou porque li este livro ou aquele. Mas sim porque, um certo dia, me obriguei a colocar a questão: porquê? Porque é que as coisas são como são? Porque é que temos que aceitar tudo o que nos dizem, sem questionar, apenas porque sempre foi feito assim?
Devemos cada vez mais incentivar os jovens a pensar. A terem as suas próprias ideias, as suas próprias filosofias, as suas próprias maneiras de ver o mundo. A saírem da formatação que a sociedade atual lhes impõe e a terem consciência de tudo aquilo que é a vida que os rodeia. Eu não sou da opinião de que haja filosofias certas ou erradas, boas ou más. Simplesmente penso que devemos ter consciência plena do que fazemos, do que dizemos, do que vivemos. Se o caminho que seguimos é o que nos faz feliz, então devemos persegui-lo com toda a vontade e com toda a felicidade estampada no rosto.
Por isso… É para essas pessoas que eu escrevo. Para os inquietos, os rebeldes, para aqueles que ousam ser diferentes e têm a coragem de assumir que não concordam com os poderes instalados. A escrita é o meu veículo de transmissão. Mas qualquer um é viável. Desde que cumpram a velha máxima: Sejam Felizes!

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