Crónicas e opinião
Linha do equilíbrio: Deixem as crianças brincar!
“Os pais devem ser, ainda, elementos ativos nas brincadeiras, pois, através desta forma lúdica, passam a entender e a descobrir as suas crianças, monitorizando sentimentos e reações, atuando em cima das situações, ajudando-as na regulação das emoções.”
Estamos em pleno período de férias, em que as nossas crianças podem usufruir das tão merecidas férias escolares! Estas, além de marcarem a mudança de ano letivo e de alguns ciclos de aprendizagem, permitem também renovar energia acompanhado de um recompor do bem-estar físico e psicológico. Assim, nas férias, as crianças estão disponíveis e motivadas para novos polos de interesse e novas descobertas, mantendo o que lhes é nato, a capacidade de aprender e continuar a desenvolver o seu crescimento cognitivo, emocional e social.
Na Convenção dos Direitos das Crianças, em 1989, as crianças passaram a ter reconhecidos os seus direitos e deveres, sendo ouvidas e respeitadas como um elemento da sociedade, nomeadamente o direito, presente no Artigo 31, “ao repouso e aos tempos livres, o direito de participar em jogos e actividades recreativas próprias da sua idade e de participar livremente na vida cultural e artística”.
Pese embora o reconhecimento dos direitos das crianças, atualmente, verifica-se que estas estão assoberbadas com atividades extracurriculares, seja por prazer, pela necessidade de saúde, pela motivação desportiva, pelas atividades sociais ou escolares, ou, até mesmo; pela necessidade dos pais, deixando-lhes pouco tempo para brincar.
Brincar é uma das primeiras ferramentas usadas na infância que estimulam a aprendizagem e o desenvolvimento: das capacidades adaptativas, em caso de situações novas ou hostis; da resolução de conflitos; da regulação emocional; das capacidades motoras; do desenvolvimento da linguagem, da imaginação e da criatividade. Paralelamente, brincar promove, ainda, nas crianças o desenvolvimento do raciocínio e da atenção, bem como tem um papel importante na gestão das relações interpessoais, pois possibilita aprender, partilhar, cooperar e relacionar-se com os seus pares, reforçando o conceito e respeito por si e pelo outro, formando uma autoestima saudável.
Para alguns autores, a criança quando brinca; livremente, não o faz com a intenção de aprender ou desenvolver essas competências, fá-lo para explorar, simplesmente porque gosta, porque se envolve e relaxa. Desta forma, transforma a brincadeira em “algo sério”, sendo a aprendizagem uma “mera” consequência. Simultaneamente, através da brincadeira e do “faz-de-conta” a criança interioriza o contexto em que vive e experimenta diferentes papéis sociais (o papel de mãe, de pai, de profissões: futebolista, atriz, polícia, bombeiro, etc…), identificando-se com os adultos, exprimindo sentimentos e emoções, reconhecendo-se como parte integrante do mundo.
Mas, -se brincar é assim tão importante para as crianças, por que será que estas brincam cada vez menos?
Verifica-se que as crianças passam cada vez mais tempo limitadas às mesmas pessoas e ao mesmo espaço físico, com regras, com atividades organizadas por adultos, não raras vezes, transformando atividades lúdicas em “miniescolas”, com vista aos resultados escolares, diminuindo, desta forma, a autonomia, a iniciativa e o ritmo de cada criança. Por outro lado, numa sociedade onde se gasta bastante dinheiro com brinquedos, nem sempre o conceito brincar esta bem definido como uma prioridade, pois, muitas vezes, os adultos limitam a forma livre das crianças brincarem ou definem o tempo para o fazerem.
Cabe aos pais a tarefa de fazerem a melhor seleção quer dos brinquedos, quer dos espaços e tempo; para proporcionarem às crianças o mais adequado, consoante a idade e as preferências, possibilitando, assim, o desenvolvimento de diferentes expressões, tais como música, dança, escrita, desenho, entre outras. Os pais devem ser, ainda, elementos ativos nas brincadeiras, pois, através desta forma lúdica, passam a entender e a descobrir as suas crianças, monitorizando sentimentos e reações, atuando em cima das situações, ajudando-as na regulação das emoções.
Urge que os decisores políticos criem novas políticas de intervenção, de promoção e de prevenção em saúde física e mental: nas escolas, onde se comtemple mais tempo nos currículos para a prática livre das atividades lúdicas; nas famílias, dando-lhes condições para que se mobilizem e organizem em espaços de convívio, em locais interiores ou na natureza; e ainda nas comunidades, através de desenvolvimento de espaços para todas as atividades.
Com algumas das medidas mencionadas poderá lutar-se contra o flagelo que é o aumento do sedentarismo e da inatividade, bem como o aumento da utilização da tecnologia em excesso e de forma viciante pelas crianças e, consequentemente, se passe a respeitar mais o tempo de brincar com qualidade, fazendo jus aos direitos das crianças.
Brincar é preciso, é essencial! Deixemos as crianças brincar!
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