Ano 2009
«…e tudo seria natural sem mendigos nas ruas nem casas de penhores.»
Natal deveria ser apenas aquela cidade irmã situada entre Fortaleza e Recife, capital do Rio Grande do Norte, no Brasil, e nada mais do que isso. Em Natal é verão, faz calor. A outra versão de Natal, o Natal – época festiva que atravessamos – não passa de testemunho do fracasso humano. Apesar de todas as revoltas, lutas e conspirações. Apesar das grandes figuras libertadoras – Spartacus, Jesus, Maomé, Guevara, Gandhi, Bolivar, etc…
Apesar das altas tecnologias, do avanço das ciências, dos progressos da Humanidade, aqui está o Natal – prova insofismável do fiasco. Tantas campanhas de solidariedade e de caridade que levam um Natal mais aconchegador a muitas famílias… é verdade. Mas não resolvem a desgraça. São milhões no mundo a viver na mais profunda miséria, mesmo no Natal. Que interessa a tecnologia se ela não é posta ao serviço do ser humano e do planeta? De que servem as campanhas de solidariedade se são apenas os pobres menos pobres a dar alguma coisa aos pobres mais pobres. De que servem as caridades senão para os ricos comprarem um lugar no reino dos céus. Será cristianismo alguns terem tudo e de tudo e a muitos tudo faltar? Será humanismo haver gente a necessitar de medicamentos? Será cristianismo haver cidadãos com fome? Existirem meninos que nunca serão meninos? D. Manuel Martins disse recentemente uma coisa muito interessante. «A Deus directamente não se pode ofender. Por isso é que Deus é Deus. Mas ofende-se a Deus ofendendo-se o seu semelhante – o homem».
Para mim existe um culpado para as coisas serem como são e não de outra maneira: este sistema económico, quase da mesma idade do homem, que se baseia na ganância e na exploração do seu semelhante. Este sistema, que depois de passar por muitas fases, se chama hoje de capitalismo. Se eu mandasse, destruiria completamente o capitalismo, e essa, como diria o grande poeta Manuel da Fonseca «…seria uma das coisas mais belas que um homem poderia fazer na vida…».
Da mesma forma pensa o realizador cinematográfico Michael Moore. Aconselho vivamente a quem não viu que o faça. Apreciar esse extraordinário documentário intitulado ” Capitalismo, Uma história de Amor” que ainda anda nos nossos cinemas. Nele podemos constatar e aprender muito: Como os bancos, com o apoio do poder político, aliciam as pessoas primeiro com empréstimos e exturcam depois as casas e outros bens a essas pessoas, levando-as completamente à miséria. Apuramos também os casos de corrupção entre o poder político e o poder económico e até a dependência daquele em relação a este. Confrontamos a manietação e censura na imprensa. O caso mais evidente é o do piloto de aviação civil que dirigia um Airbus A320 da companhia aérea «US Airways», que conseguiu amarar sobre o Rio Hudson, salvando centena e meia de vidas. É realçado pelo poder e pela imprensa o seu papel de “herói”. Mas escamoteiam deliberadamente a sua intervenção no Congresso americano, no sentido da denúncia dos parcos e miseráveis salários que as grandes empresas de aviação civil pagam aos pilotos: entre 16 000 e 20 000 dólares por ano. No filme constatamos outra coisa. Que nos E.U.A. também existem empresas em auto-gestão e cooperativas. E nestas ganham todos o mesmo, dos trabalhadores da linha de produção ao gestor: cerca de 60 000 dólares por ano, três vezes mais do que as empresas capitalistas pagam aos pilotos da aviação civil. No filme observa-se também um bispo e dois padres a assumirem-se deliberadamente contra o capitalismo.
Na solução, na alternativa a este estado de coisas a que chegamos, também estamos de acordo. Que sistema alternativo ao capitalismo poderá devolver a felicidade que a humanidade e o planeta merecem? A Democracia claro. A Democracia efectiva. A Democracia da igualdade, da fraternidade e da liberdade. A Democracia económica, social e cultural. O que nós temos e vivemos hoje não é democracia, é capitalismo. Sim, capitalismo, embora com roupagem democrática. Para a sua sobrevivência o capitalismo consegue anestesiar completamente os cidadãos. Lavar-lhes o cérebro. Para esse fim tem a televisão, as revistas cor-de-rosa, os hipermercados, os concursos, o futebol, o jogo de fortuna e azar, os horocóspios, a cartomancia, o centro comercial, milhentas coisas. Usa a ilusão de felicidade que vende às pessoas. No entanto, para o capitalismo não há homens e mulheres, apenas números. Para o capitalismo não há igualdade, só o lucro. Não há saúde, unicamente exploração. Não existem direitos, simplesmente obrigações. Não há fraternidade, apenas mendicidade. O Capitalismo não gera felicidade, apenas ganância e miséria. Se mandasse destruiria o capitalismo e «…esta seria uma das coisas mais belas que um homem poderia fazer na vida…». E continuando com Manuel da Fonseca: « …e tudo seria natural sem mendigos nas ruas nem casas de penhores.»
Guidões, 21 de Dezembro de 2009.
Atanagildo Lobo
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