Ano 2010
José Sócrates e a Imprensa / Joana Lima e a Estação
O processo “Face Oculta” para além de trazer a público os nomes do universo “rosa”, implicados num esquema de corrupção e tráfico de influências junto do Governo e de empresas públicas, que o próprio Departamento de Investigação e Acção Penal da Polícia Judiciária apelida de “rede tentacular”, desmascarou os planos que o Primeiro-ministro, José Sócrates, engendrava com o administrador do BCP, e ex-dirigente socialista, Armando Vara, para “condicionar e constranger” a actuação do Presidente da República, controlar os meios de comunicação social e usar verbas de empresas públicas em benefício do PS, conforme relata o “Correio da Manhã”.
O semanário “Sol” noticiava a existência de “indícios muito fortes” do envolvimento do Primeiro-ministro no negócio da compra da TVI pela Portugal Telecom, para condicionar a informação da estação de Queluz, assim como afastar Manuela Moura Guedes e José Eduardo Moniz.
O “Jornal de Notícias” recusou publicar um texto de opinião de Mário Crespo, que aqui é, em parte, transcrito:
«O Fim da Linha. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de “ir para o manicómio”. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. (…) Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro-ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada».
Ah! É verdade. Contra a vontade da maioria dos trofenses das oito freguesias, Joana Lima, a Presidente da Câmara da Trofa, anunciou a sua decisão de construir o edifício dos Paços do Concelho na estação dos comboios, para gáudio de poucos e para tristeza de muitos. Deve ter sido uma decisão muito difícil. Não podia ser mais a Norte, senão tinha de ser em cima do poluído Rio Ave.
José Maria Moreira da Silva
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