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Edição 546

“Há solução” para prosseguir com a gravidez durante um cancro

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Hospital Privado da Trofa reuniu grupo médico e científico que debateu “A doença oncológica na mulher grávida”, tema escolhido para as sétimas Jornadas Materno-Infantis, realizadas a 7 de novembro.

Maternidade e doença oncológica não são incompatíveis. O primeiro encontro médico-cientifico português sobre a doença oncológica na mulher grávida, que reuniu “mais de uma centena de profissionais do setor”, procurou evidenciar, através da apresentação de casos, que o diagnóstico de uma doença oncológica na mulher grávida ou em idade reprodutiva já não é motivo para adiar o início dos tratamentos ou a gravidez.

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O obstetra Joaquim Saraiva, membro da comissão organizadora das Jornadas Materno-Infantis do Hospital Privado da Trofa, afirmou que um cancro durante a gravidez “não é um drama” e que agora “há solução para prosseguir com a gravidez”, uma vez que a grávida “não fica com pior prognóstico por não ter nenhuma inibição ou suspensão de terapêuticas recomendadas para a sua doença”. Contudo, Joaquim Saraiva referiu que este era “um desafio clínico e terapêutico”, porque têm “duas entidades: a mulher e o feto” de quem têm de “cuidar do bem-estar dos dois”.
Os cancros da mama, do ovário e do colo do útero na gravidez, as implicações da doença oncológica na saúde reprodutiva, a cirurgia conservadora para carcinoma do colo na mulher em idade reprodutiva, o papel do enfermeiro no acompanhamento da doença oncológica e a criança nascida de mãe com doença oncológica são alguns dos principais temas em debate.
Maria Adelaide Matos, enfermeira especialista na área da obstetrícia e pediatria no Hospital Privado da Trofa e elemento da comissão organizadora das jornadas, recordou que ao longo dos seus 38 anos de experiência nesta área acompanhou “alguns casos de grávidas com cancro”.
A enfermeira recordou o internamento de uma grávida no Hospital Privado da Trofa, que teve “um cancro da mama há sete anos”, que a marcou de tal maneira que “não quis viver este momento” do parto, por estar “muito preocupada e ansiosa”. “Quando a piquei com o soro, disse-me que só se lembrava do IPO. Já foi há sete anos, mas foi um trauma tão grande que manifesta-se em tudo”, adiantou.
Pelo “antecedente” e por ter feito reconstrução mamária, a jovem mãe, que já tinha “uma filha de 12 anos”, optou por “não dar a mama” por ter “medo” da amamentação. “Esta senhora foi muito especial para mim. Mesmo a dormir, pôs o bebé em contacto com a pele da mãe desde o primeiro momento, para que tivesse o cheirinho da mãe e colocasse a mão no peito da mãe”, recordou.

Cancro da mama obriga a interromper a gravidez “é uma ideia obsoleta”

O diretor do Serviço de Oncologia Cirúrgica do IPO do Porto, Joaquim Abreu de Sousa, foi orador nas jornadas com o tema “Cancro da mama associado à gravidez”. Joaquim Abreu de Sousa afirmou que o número de cancros da mama na gravidez é “muito baixo”, porque “a incidência na mulher com menos de 40 anos também é muito baixa”. “Esta é uma doença rara, mas acontece e está a acontecer cada vez mais, sobretudo devido ao facto de o início da primeira gravidez ser mais tardia no mundo ocidental. A idade média da primeira gravidez passou de 21 anos, nos anos 90, para 28. Muitas mulheres são surpreendidas com o diagnóstico do cancro da mama quando ainda não completaram o seu plano parental, uma vez que o cancro da mama na mulher jovem, com menos de 40 anos, também está a aumentar lentamente a sua incidência”, referiu.
Para o diretor é “uma ideia obsoleta” pensar que ter um cancro da mama durante a gravidez “obriga a interrompê-la”, porque “não há nenhuma razão biológica que justifique a interrupção da gravidez para tratar um cancro da mama”. “No passado e se calhar ainda hoje, estima-se que cerca de 30 por cento das mulheres, em que é detetado o cancro da mama durante a gravidez, são aconselhadas a interromper a gravidez. No entanto, este é um estigma que é preciso eliminar”, completou.
Por ser um assunto que, pela “sua raridade e pela sua gravidade”, a “maioria das vezes as pessoas não tenham experiência suficiente e também porque a evidência científica é escassa”, Joaquim Abreu de Sousa considera que é “muito oportuno” que este tema esteja incluído nestas jornadas, sendo seu objetivo “disseminar o conhecimento”. “Ou seja, partilhar algumas das certezas que temos e discutir e alertar para as incertezas que também temos. Porque hoje, o cancro da mama numa mulher grávida também está rodeado de muitas incertezas. Há muitas áreas cinzentas em que as coisas não estão claras, porque não há evidência científica”, terminou.

“As inscrições esgotaram”

Jorge Pedrosa, diretor clínico do Hospital Privado da Trofa, recordou que quando as jornadas materno-infantis começaram eram “muito pequeninas”, mas que agora têm “uma dimensão mais razoável e conta com a colaboração de vários médicos que trabalham em hospitais centrais de referência e que estão ligados à investigação”. Quanto ao tema – “A doença oncológica na mulher grávida” -, o diretor clínico afirmou ser “pouco usual vê-lo em eventos médicos”, por ser “raro”, mas que “tem tendência a aumentar”. “O cancro na gravidez tem uma coisa em comum, que é a luta pela vida. Na gravidez, o bebé luta para sobreviver e nascer saudável e a grávida, quando apanha o cancro quer seja na gravidez ou após ou antes da gravidez, também luta pela vida porque vai fazer tratamentos que são violentos”, asseverou.
Jorge Pedrosa mencionou que “por cada médico passarão poucos casos de cancro na gravidez, de maneira que este intercâmbio de experiências é muito importante para o desenvolvimento médico e aprendizagem dos próprios médicos”. “Àmedida que vamos evoluindo, as drogas utilizadas no tratamento das neoplasias têm menos efeitos secundários e cada vez mais eficácia, logo o índice de sobrevivência é cada vez maior. Há 20/30 anos era obrigatório abortar se tivesse uma neoplasia, agora tem que ser analisado caso a caso e tenta-se salvar sempre o bebé”, terminou, completando que “as inscrições esgotaram” e que “muitos mais quiseram inscrever-se mas já não puderam”.

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