Ano 2007
Guerra e Paz
Desde que o principal actor da guerra do Iraque foi assassinado, rapidamente para não ser questionada a sua legitimidade, os jornais começaram a abrandar o interesse sobre a situação neste martirizado país. Começou a esquecer os vários milhares de mortos, as torturas e as discriminações que todos os dias vão aumentando.
Os principais mentores desta guerra iníqua vão deixando a cena politica internacional (Aznar, Blair, Rumsfeld) procurando que ninguém questione os seus verdadeiros motivos para o deflagrar deste conflito. Depois de se verificar que os motivos apregoados eram ou falsos ou habilmente manipulados, deixa-se "correr o marfim" e tudo passa ao esquecimento.
Penso que ninguém defenderia o Regime de Saddam mas questiona-se se os motivos verdadeiros não seriam os mesmos de sempre: petróleo e armas, e não os tão apregoados motivos de segurança e humanitários. Não podemos esquecer que os principais produtores de armas são exactamente os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e que o petróleo iraquiano estava a ser, maioritariamente, explorado por empresas europeias, maioritariamente francesas, e agora é o que se sabe. Nunca se alcançará a paz enquanto este estado de coisas se mantiverem, enquanto os interesses dos grandes grupos económicos se sobrepuseram aos das populações, sendo mais importante a venda de armas do que o desenvolvimento sustentado dos países em vias de desenvolvimento, criando, muitas vezes artificialmente, conflitos para que se invistam montantes elevadíssimos em armamento, descurando o investimento na educação, cultura e saúde das populações. É sintomático que o custo médio para localizar e retirar uma Mina Terrestre seja cerca de 400% mais caro que a sua aquisição, e que as empresas especializadas de desminagem aparentem, muitas vezes, ligações às empresas produtoras… e não podemos esquecer que, anualmente, cerca de 20.000 pessoas são vitimas destas minas.
Actualmente já mais de 1.8 milhões de iraquianos deixaram o seu país, e este número não para de aumentar, juntando-se aos muitas dezenas de milhar de deslocados internos, criando um drama humanitário que é continuamente abafado pela comunicação social. Estas deslocações internas sem apoios e sem cuidados criam uma maior tensão nas zonas mais afastadas das de maior caos, levando a insegurança para lá das principais cidades.
Neste momento a situação de insegurança vivida faz questionar o futuro deste povo martirizado, primeiro por um ditador sanguinário e depois por uma guerra que não pediram e que descambou numa quase guerra civil e numa violência sectária étnica e religiosa.
Mesmo os mais acérrimos críticos da intervenção militar no Iraque estavam longe de imaginar uma situação como a hoje vivida neste país, onde quase tudo deixou de funcionar, questionando-se agora como se fará a reconstrução. Reconstrução essa que está a ser feita, imagine-se por quem, pelos invasores, ou seja, começaram a guerra, venderam as armas, destruíram o pais, ficaram com a exploração do petróleo, governam o país através das marionetas que lá puseram e estão a fazer a reconstrução, e tudo isto longe de sua casa. E ainda se arrogam como humanitários e solidários.
Será por tudo isto que não aceitam a autoridade do Tribunal Internacional de Haia ? Será que é por terem a certeza que seriam julgados por crimes contra a Humanidade?
Ou será que esta actuação terá outro nome ?
Paulo Queiros
pauloqcruz@netcabo.pt
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