Crónicas e opinião
Guerra Civil no PSD Trofa?
“O clima de aparente guerra civil no PSD Trofa não começou ontem. E nem sequer é preciso ter espiões no interior do partido para perceber que o verniz estalou há muito e que os tempos de unidade entre os Unidos da Trofa já não são o que foram.”
O clima de aparente guerra civil no PSD Trofa não começou ontem. E nem sequer é preciso ter espiões no interior do partido para perceber que o verniz estalou há muito e que os tempos de unidade entre os Unidos da Trofa já não são o que foram.
Claro que isto é apenas a minha interpretação dos factos públicos que vou presenciando. Corro, naturalmente, o risco de estar enganado. Como correm todos os que arriscam dar a sua opinião sobre o instável fenómeno político.
Mas é um risco que estou disponível a correr: a razão por trás deste estado de sítio em que se encontra o partido dominante na Trofa resulta da cada vez mais próxima sucessão de Sérgio Humberto.
E se essa sucessão parecia ter data marcada para o final de 2025, a queda do governo Costa e a proximidade de Sérgio Humberto com Luís Montenegro colocou o presidente da CM da Trofa na fila de espera para ocupar um ministério ou secretaria de Estado. Ou até para rumar à Europa. Disso mesmo fez eco o presidente da Junta de Alvarelhos e Guidões, Lino Maia, quando, em plena última sessão da assembleia municipal, afirmou que Sérgio Humberto “pôs um pé do outro lado” e que já não está tão disponível para receber os eleitos locais como antigamente.
Ora, o que sucede, na minha opinião?
Sucede que, por um lado, existe uma intenção clara de fazer Sérgio Araújo suceder a Sérgio Humberto. A promoção pessoal nos canais da autarquia é evidente, supera a dos restantes vereadores, todos juntos, e seria a solução mais conveniente para o actual autarca, que teria o seu delfim no seu lugar, perpetuando a sua influência no concelho.
Por outro, existe a estrutura do PSD, que tendo dentro de portas perfis mais competentes, não estará muito interessada – pelo menos parte dela – em entregar o poder a um jovem inexperiente sem percurso político relevante. E, nessa estrutura, pontuam nomes como Luís Paulo ou Isabel Cruz, mais experientes, preparados e com percursos profissionais incomparavelmente superiores ao de Sérgio Araújo.
E porque referi os nomes de Luís Paulo e Isabel Cruz?
Porque são presidenciáveis e porque são, precisamente, as duas pessoas que, na minha opinião, estão a ser saneados pela ala dominante do partido. E isso é visível na forma como vêm sendo tratados pela guarda pretoriana do regime e como começaram a ficar fora das fotografias da comunicação camarária. Qualquer pessoa minimamente atenta percebe isso.
Mais recentemente tivemos o caso de Sofia Matos, cabeça-de-lista pelo Porto nas últimas Legislativas, relegada para um inelegível 37º lugar em 2024.
Porque é que isto interessa para as contas da Trofa?
Porque o líder da distrital do PSD é Sérgio Humberto. E Sérgio Humberto tem primazia no processo de elaboração de listas. Por isso, se há alguém que está directamente ligado ao chuto dado na ainda deputada, esse alguém é o presidente da CM da Trofa. E isso contrasta com a escolha de outro político próximo de si, Alberto Fonseca, que ocupa agora o lugar elegível que perdeu em 2022.
A pergunta que se coloca, a meu ver, é esta: porque decidiu a distrital do Porto do PSD, controlada por Sérgio Humberto, correr com Sofia Matos?
Será ela uma potencial aliada de Luís Paulo e/ou Isabel Cruz numa hipotética corrida à sucessão do actual presidente?
Ou mesmo na construção de uma lista alternativa para tomar o poder na estrutura trofense?
Ou até, quem sabe, na criação de um projecto “independente” para tomar o poder no concelho?
É cedo para saber. Até porque a perspectiva de uma vitória da AD é cada vez mais ténue e o sonho ministerial de Sérgio Humberto poderá ser adiado.
Mas as peças estão na mesa e as movimentações são evidentes demais para serem ignoradas.
E nós já vimos este filme.
Da última vez que aconteceu, o PSD partiu-se ao meio e o PS ganhou as autárquicas.
Uma coisa é certa: onde há fumo costuma haver fogo.
E certas pessoas já não conseguem sequer disfarçar.
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