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Fotografia da assinatura da fundação do PS há 50 anos foi registada António Diniz

Naquele 19 de abril de 1973, militantes da Acção Socialista assinaram a criação do Partido Socialista, num congresso assistido por cerca de 30 pessoas, um deles um fotógrafo bem conhecido da Trofa e de Vila Nova de Famalicão.

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A 19 de abril, assinalaram-se 50 anos da fundação do Partido Socialista. Aquele que é o partido com mais tempo de governação no País até foi criado fora das fronteiras, mais concretamente os Bad Münstereifel, nos arredores de Bona, na Alemanha.

Naquele 19 de abril de 1973, militantes da Acção Socialista assinaram a criação do Partido Socialista, num congresso assistido por cerca de 30 pessoas, um deles um fotógrafo bem conhecido da Trofa e de Vila Nova de Famalicão.

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António Diniz, atualmente a residir em Ribeirão, era emigrante na Alemanha e dois dias depois de o filho nascer, aceitou o convite de um professor português com quem tinha alguma confiança e partiu para Bad Münstereifel, de carro, numa viagem de mais de 200 quilómetros, para assistir a uma cerimónia onde estariam presentes militantes da Acção Socialista Portuguesa.

António Diniz “não tinha a noção” de que o momento que iria testemunhar ia virar efeméride, mas como já gostava de fotografar, levou a máquina para registar o que lá se passaria. Quando viu Mário Soares e outros militantes da Acção Socialista Portuguesa a assinar “uns documentos”, António Diniz fotografou. Estava oficializada a fundação do Partido Socialista. António Diniz percebeu, então, que era uma das poucas testemunhas de um dos momentos mais importantes da história da política portuguesa.
A fotografia, pensa, foi “publicada na revista Século Ilustrado”, da qual era assinante, mas hoje não sabe se ainda a tem guardada. “Não a valorizei, mas terá sido a única imagem registada do momento da assinatura. Se a tivesse, teria um valor histórico incalculável”, afirmou em entrevista.

Os tais “documentos” que os congressistas assinaram eram prova do que tinha acontecido naquela sala. Em congresso, “ponderando os superiores interesses da Pátria, a atual estrutura e dimensão do movimento, as exigências concretas do presente e a necessidade de dinamizar os militantes para as grandes tarefas do futuro, deliberou transformar a Acção Socialista Portuguesa em Partido Socialista”. Estava concluído o projeto político iniciado a 1964 por Francisco Ramos e Costa e Manuel Tito de Morais.
Mário Soares, que estava exilado, foi eleito secretário-geral de imediato e desempenhou o cargo durante 13 anos, até 1986.
Em Portugal, já se preparava a revolução que despontou a 25 de abril de 1974. Mário Soares recebeu a notícia do golpe de Estado e regressou ao país naquele que ficou conhecido como o “comboio da liberdade”.

Aquele episódio, no entanto, acabou por encaixar num espírito revolucionário que António Diniz já alimentava desde jovem, contra a opressão e as dificuldades financeiras vividas por uma população sob a liderança de um regime ditador. Natural de Oliveira Santa Maria (Vila Nova de Famalicão), o fotógrafo recordou que um dia, a pouco tempo das eleições de 1958, a troco de “umas coroas”, pintou “Viva Humberto” na estrada em paralelo junto à Igreja onde ajudava à missa como acólito.

“Havia missa todos os dias por volta das seis da manhã e nesse dia lembro-me bem de ter acordado mais cedo, ainda de noite, e saí com a lata de tinta branca escondida. Pintei a frase e depois fui ajudar à missa. No dia seguinte, o padre veio ter comigo, pôs a mão no meu pescoço e com uma das unhas a cravar-me na pele perguntou se eu sabia quem tinha pintado a frase. Eu neguei, mas acho que ele sabia que tinha sido eu”, relatou.


Mais tarde, com cerca de 20 anos, desafiou novamente o regime quando pegou num título do jornal da JOC (Juventude Operária Católica), da qual fazia parte, e afixou na fábrica têxtil Sampaio Ferreira. Dizia “Todo o mundo fala de paz. E a guerra quando começa?”. Passado pouco tempo, foi chamado pelo “mestre”, que retirou o papel e o preparou para o pior. “Na fábrica havia um velho guarda, que revistava os funcionários e espalhava o medo entre as pessoas, que pertencia à PIDE.

O mestre disse que eu estava tramado e, logo no final do dia de trabalho, fui pedir ajuda ao padre, que intercedeu por mim e evitou que eu apanhasse uma porrada. Ainda hoje, quando vou ao cemitério da minha freguesia faço uma vénia junto à sepultura dele”, relatou.

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