Crónicas e opinião
Folha Liberal: Sociedade Civil e 25 de Abril
“Neste 25 de Abril aconteceram muitas coisas curiosas, mas vou referir apenas algumas que me parecem mais preocupantes”
Celebramos, há alguns dias, os 49 anos do 25 de Abril! Uma das maiores conquistas do 25 de Abril foi a possibilidade de a sociedade civil intervir na resolução de problemas concretos, do dia a dia, da vida das pessoas. Não somos apenas sujeitos passivos na gestão da vida política, mas somos, ou devemos ser, parte ativa, porque essa é a base da Democracia. E de facto, muitas vezes a sociedade civil não exerce esse direito (e essa obrigação) de intervir e o poder político sente e tentação de deixar andar.
Vem isto a propósito do Parque das Azenhas, que estava (pelo menos parcialmente) fechado há meses, sem que se percebesse muito bem o porquê, até porque os danos causados pelas inundações de janeiro não eram assim de tão grande monta.
Há dias, começamos a ver espalhados pela cidade da Trofa uma série de cartazes a dar conta duma atividade, precisamente no Parque da Azenhas, organizada (ou coorganizada) pelo “Team Lantemil”.
Rapidamente percebemos que, pelo menos nessa data, o parque voltaria a estar aberto a todos, o que viria a acontecer.
Ainda bem que esta atividade foi organizada no Parque das Azenhas, porque assim a Câmara Municipal sentiu-se na obrigação de fazer o que era necessário para reabrir, na totalidade, o parque.
Outra das grandes conquistas do 25 de Abril foi a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e o fim da censura, o que parece não ter sido ainda entendido por muita gente, entre os quais alguns dos nossos governantes.
Neste 25 de Abril aconteceram muitas coisas curiosas, mas vou referir apenas algumas que me parecem mais preocupantes:
Tendo sido o Sr. Presidente da República Federativa do Brasil convidado para uma sessão na Assembleia da República, os Senhores deputados tinham a obrigação de o deixar discursar.
Não me parece que haja o direito de impedir alguém de discursar num evento para o qual foi convidado. Ao mesmo tempo, ninguém é obrigado a ouvir esse discurso. Um tem a liberdade de o fazer, outros têm a liberdade de o ouvir ou não.
Mas houve dois outros pontos que me deixaram “com a pulga atrás da orelha”:
O Sr. primeiro-ministro disse, por alturas do 25 de Abril, que a culpa do Chega estar sempre nas notícias era da comunicação social, referindo que não tem nenhuma televisão, ou nenhuma rádio ou nenhum jornal. Não sei se tem algum meio de comunicação social ou não, mas nós sabemos como ele tenta controlar todos os meios de comunicação social. Ainda nos lembramos dos milhões investidos e adiantados em publicidade institucional… conhecemos também a vasta equipa que compõe a central de comunicação do governo e que é maior que alguns jornais…
Vimos o Sr. Presidente da Assembleia da República mandar apagar um vídeo em que aparece a tecer comentários deploráveis sobre partidos com representação parlamentar, com a desculpa de ter sido captado ilegalmente. Os Srs. Presidentes da República e da Assembleia da República e o Sr. primeiro-ministro podem dizer o que quiserem, quando quiserem e onde quiserem, mas se depois se envergonharem do que disseram, não podem querer fazer de conta que não aconteceu nada.
Vimos também o Partido Socialista queixar-se de fugas de informação de documentos da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP…
49 anos depois do 25 de Abril, percebemos que há demasiados atores políticos, entre os quais os mais altos representantes do Estado, que acham que o problema não é a forma como agem, não é o facto de mentirem descaradamente, de mostrarem que se acham acima de tudo e de todos, de se comportarem como miúdos no recreio da escola. O problema é isso se tornar público…
Chegamos a um ponto em que não é mais possível, a estes políticos medíocres, continuarem a enganar o Povo…
Tivemos conhecimento nos últimos dias, de algumas boas noticias relacionadas com o crescimento do PIB e com o abrandamento da inflação. Se conseguimos isto com um governo que nos (des)governa desta forma, imaginem o que seríamos capazes de fazer com um governo a sério.
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