Crónicas e opinião
Folha Liberal: Qual é melhor? Inflação alta ou juros baixos?
“Custa muito ver as taxas de juro subir, é dramático para muitas famílias verem as suas prestações aumentarem desta forma, mas o anormal era as taxas de juro estarem negativas ou perto disso. Não é possível, nem desejável, que isso aconteça.”
Nos últimos dias do mês de junho fomos brindados com uma rara unanimidade dos nossos políticos em relação às críticas a Christine Lagarde, devido à política de aumento de taxas de juro seguida pelo Banco Central Europeu. As críticas do Sr. Presidente da Républica, do Sr. Primeiro-ministro e do Presidente do PSD, seguiram-se às declarações da presidente do BCE que se mostrou particularmente preocupada com o risco de uma espiral inflacionista nos salários. Os nossos governantes ficaram muito chateados, nomeadamente o Sr. Primeiro-ministro, que afirmou: “Hoje é mais ou menos claro que sobretudo o aumento dos lucros extraordinários tem contribuído mais para a manutenção da inflação do que as subidas salariais”.
É enternecedor que os nossos governantes achem que, quando a Sra. Christine Lagarde se refere ao risco de uma espiral inflacionista nos salários, se esteja a referir aos salários portugueses. Não é certamente o aumento dos salários em Portugal que preocupa a presidente do BCE. Toda a gente sabe que, na generalidade, os salários são baixos em Portugal e até é preciso que subam. Não será, certamente o aumento de salários em Portugal que fará com a inflação na Zona Euro se mantenha alta.
O Banco Central Europeu é independente! E foi criado assim, independente, porque se sabe a tentação dos governantes em mexer na política monetária a seu belo prazer, preocupando-se mais com a gestão política corrente do que com a estabilidade dos preços. Aliás, um dos motivos que levou a este aumento da inflação, foi precisamente a falta de independência que mostrou o BCE, ao manter taxas de juro negativas ou muto baixas durante tanto tempo, mesmo com muitos especialistas a dizer que era errado e que isso se ia refletir num aumento da taxa de inflação. Aí os governantes portugueses, como muitos outros (infelizmente), diziam que não, que a inflação era passageira.
Custa muito ver as taxas de juro subir, é dramático para muitas famílias verem as suas prestações aumentarem desta forma, mas o anormal era as taxas de juro estarem negativas ou perto disso. Não é possível, nem desejável, que isso aconteça. Até porque, parece-me muito pior, ter taxas de inflação altas como temos tido nos últimos tempos, do que taxas de juro a este nível.
O Sr. Primeiro ministro atribui as culpas das altas taxas de inflação ao “aumento dos lucros extraordinários”. Já houve tempos em que dizia que era um problema de aumentos de salários, mas, entretanto, mudou de opinião. Mudou de opinião, mas continua enganado! É que o Banco de Portugal, no Boletim Económico de junho de 2023 diz que, não só os “lucros extraordinários” das empresas não aumentaram em 2022, como traduz apenas “uma recuperação parcial da queda durante a pandemia.” E que: “No entanto, este resultado não implica que tenha ocorrido uma alteração da estratégia de fixação de preços pela generalidade das empresas”. Quer isto dizer, que as empresas na sua maioria, não só não aumentaram os preços para ter lucros maiores, como ainda recuperaram apenas uma parte, do que perderam com a pandemia.
Nós sabemos que o nosso Primeiro Ministro adora queixar-se das empresas, (exceto quando vai lá fazer campanha), mas não vale a pena inventar desculpas.
Eu tenho uma ideia sobre o motivo que leva os nossos governantes a quererem juros baixos. É que é ótimo para os governantes que a inflação se mantenha alta! Continuando a analisar o mesmo Boletim Económico do Banco de Portugal, ficamos a saber que no ano passado a receita fiscal e contributiva teve um aumento de 11 156 milhões de euros, dos quais cerca de 30% (3 212 milhões de euros) resultou do aumento da inflação. É por isso que eles gostam de uma inflação alta, porque têm um aumento brutal de impostos, sem ter de fazer nada, e assim podem distribuir as migalhas como tanto gostam.
O problema é que a inflação afeta todos, mas muito especialmente os pobres, que vêm cada vez “sobrar mais mês no final do salário”.
Para os portugueses a escolha, entre inflação alta ou juros baixos, pode ser difícil, para o governo, nem tanto.
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