Crónicas e opinião
Folha Liberal: Perder, mas insistir!
“A primeira ilação que, parece, podemos tirar é que os eleitores não valorizam assim tanto o facto de os candidatos poderem estar a ser investigados”

É frequentemente atribuída a Albert Einstein uma frase que diz, algo como, “Insanidade é continuar a fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes”. E é bem verdade! Mas, a frase só se aplica à insanidade de continuar a fazer a mesma coisa se pretendermos resultados diferentes. Se pretendermos os mesmos resultados, parece implícito que devemos continuar a agir da mesma.
Vem isto a propósito das últimas eleições na Região Autónoma da Madeira, cujos resultados podem ter surpreendido algumas pessoas. A primeira ilação que, parece, podemos tirar é que os eleitores não valorizam assim tanto o facto de os candidatos poderem estar a ser investigados. Todos nós conhecemos casos em que pessoas sob investigação, como no atual caso da Madeira, e até pessoas que foram condenadas e cumpriram penas de prisão por crimes no exercício de funções, serem novamente eleitas.
São muitos os motivos que podem levar a isso, nomeadamente o facto dos eleitores poderem sentir que não há alternativas viáveis aos candidatos com histórico duvidoso, ou então a perceção de impunidade que pode diminuir a importância do histórico dos candidatos. Parece que muitos dão prioridade às promessas e planos dos candidatos para o futuro imediato, em vez de se preocuparem com o que aconteceu no passado. A perceção de que os portugueses negligenciam a ética e a corrupção pode ser atribuída à justificação de atos ilícitos como estratégia de sobrevivência em tempos difíceis, à normalização de pequenos desvios éticos, à sensação de impunidade, à desconfiança nas instituições ou à banalização do problema pelos média.
Neste caso, parece que continuar a fazer o mesmo, apresentando as mesmas ideias e as mesmas pessoas, continua a ter o mesmo resultado que, no caso, é ganhar as eleições. Há, por isso, que dar valor ao PSD Madeira, por ter percebido isto há muitos anos e, por isso, ter ganho todas as eleições regionais na Madeira depois do 25 de Abril. Do lado oposto, temos o PS Madeira, que parece estar na situação que Albert Einstein consideraria insana… tal como o PSD, continua a apresentar as mesmas ideias e as mesmas pessoas, mas acredita que, continuando a fazer tudo na mesma, vai ter resultados diferentes.
É para mim um mistério perceber por que razão continua o candidato a ser o mesmo repetidamente. Porque razão o PS apresenta como cabeça de lista às eleições da Madeira, pela terceira vez, o Sr. Paulo Cafôfo? O que levará alguém a achar que alguém que já perdeu duas vezes vai ganhar à terceira? Qual é a variável que eles acham que mudou para estas eleições?
Se o programa, as promessas, as queixas, as pessoas são as mesmas, só poderia ter sido o povo a mudar… E alguém acha que se muda o povo num ano? Não teria sido avisado ter como cabeça de lista alguém diferente, que pudesse trazer ideias novas, que os eleitores vissem que “não era mais do mesmo”? E o mais surpreendente foi perceber que não se demite o Sr. Paulo Cafôfo, mesmo tendo caído para terceira força política na Madeira.
Pode acontecer que não haja mais ninguém no PS Madeira tão sábio, insubstituível, incomparável, determinante, essencial, fundamental, mas se os eleitores já por duas vezes tinham dito que não o queriam, para quê continuar a fazer o mesmo e esperar resultados diferentes?
Mas essa insistência no mesmo candidato em eleições sucessivas em que ele perde, não é exclusivo do PS Madeira. Parece até ser uma coisa comum no PS, é que para a Câmara Municipal da Trofa o PS apresenta também pela terceira vez o mesmo candidato. O que será que o PS Trofa acha que mudou na “equação”? Porque não acredito que achem que continuando a fazer tudo igual possam acreditar em resultados diferentes. É só por não haver mais ninguém com capacidade, aptidão e interesse para concorrer, ou acharão que, estando o atual Presidente da Câmara a concorrer contra outro candidato do PSD, a Câmara pode “cair do céu”, mesmo sem eles mudarem nada? Fico à espera para ver se é o Einstein que está errado ou se teremos mais um candidato do PS a perder três eleições seguidas.”