Folha Liberal: Para a Câmara não há “silly season”

Tradicionalmente os meses de julho e agosto, sendo meses de férias, acabam por ser uma época em que não acontece muita coisa digna de registo, em que não se tomam grandes decisões. Esta altura do ano é até, noutras paragens, apelidada de “silly season”.
Geralmente, nesta época do ano, têm lugar as festas religiosas e populares. Na Trofa não é diferente e, na segunda metade de agosto realiza-se a festa em honra de Nossa Senhora das Dores. Uma festa feita pelos trofenses, que, com muita dedicação, espírito de sacrifício e de missão levam a cabo uma das mais populares e bonitas festas da região.
Este ano houve outra festa na Trofa. Para além da Senhora das Dores, tivemos a inauguração da novíssima praça do município. Mais de meio ano depois da inauguração dos paços do concelho, lá foi inaugurada a praça. Mais vale tarde que nunca!
A praça está muito bonita, assim como a zona envolvente, pelo que parece ter valido a pena a espera.
Por falar em zona envolvente, corre por aí a informação de que a Câmara Municipal terá pagado a renovação da fachada de um prédio privado, nas redondezas, para que não “destoasse” da beleza da praça.
A primeira reação a esta informação foi de incredibilidade. Parece difícil aceitar que a Câmara Municipal ande a pagar obras em edifícios privados. Mas, pode ser que seja uma forma da Câmara compensar os trofenses pelo facto de cobrar o máximo que pode de IMI. Cobra muito IMI, mas depois paga as obras nas casas dos trofenses… É uma hipótese.
Mas para a Câmara Municipal da Trofa, não há “silly season”, nem nada que se pareça! Trabalha-se e muito. Pelo menos fizeram-se vários concursos públicos (como o concurso para “Aquisição de serviços de inauguração da Praça do Município” – 74.500,00 € +IVA) e muitos ajustes diretos. (Só em agosto foram perto de 200.000,00€ + IVA em ajustes diretos).
Em pouco mais de um mês a Câmara fez um ajuste direto para “AQUISIÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO” (praticamente vinte mil euros + IVA), um outro, com uma estação de rádio para “AQUISIÇÃO DE SERVIÇOS DE PUBLICIDADE INSTITUCIONAL POR RADIODIFUSÃO” (pouco mais de quatro mil euros + IVA) e ainda um outro ajuste direto, com um grupo editorial, para “Aquisição de Serviços de Promoção do Concelho” (também de, praticamente, vinte mil euros + IVA).
Estes últimos chamam-me mais a atenção, por se relacionarem com publicidade, comunicação e promoção. Todos sabemos que a promoção, a publicidade e a comunicação são essenciais para se divulgarem os produtos ou serviços que se querem “vender”, e não há nisso mal nenhum, antes pelo contrário! O problema é quando o que se promove, ou publicita, não é exatamente aquilo para que se fez o ajuste direto. Vem isto a propósito de um suplemento especial que saiu no Jornal de Notícias no dia 18 de agosto cujo título levava a crer que era sobre a festa em honra de Nossa Senhora das Dores e, afinal, a maior parte era uma entrevista ao Presidente da Câmara Municipal. Tinha uma pequena introdução sobre a festa, uma minúscula referência à Comissão de Festas, uma página sobre a Banda de Música da Trofa, e o resto… promoção à Câmara e ao seu presidente.
As centrais de comunicação estão em alta. Já todos ouvimos falar da enorme central de comunicação do Governo, e há dias ficamos a saber que a Câmara de Lisboa criou uma por ocasião da vinda do Papa a Portugal, que, ao que parece, é tão boa que causou ciúmes ao governo… Não admira, por isso, que a Câmara da Trofa queira também criar a sua central de comunicação, para poder passar a sua mensagem como bem quiser e de forma o mais eficaz possível…
Vamos esperar para ver como vai correr. A primeira impressão é que é mais para promover a Câmara do que o Concelho, mas, pelo menos agora é um jornal que tem audiência, não no nome, mas em leitores.