Crónicas e opinião
Folha Liberal: Atendimento na Saúde é atendimento telefónico?
“Recentemente, foi relatada uma situação angustiante relacionada ao atendimento na saúde pública, envolvendo um familiar”
Recentemente, foi relatada uma situação angustiante relacionada ao atendimento na saúde pública, envolvendo um familiar. Após sentir-se doente, num sábado, recorreu ao SNS 24, onde foi orientado a deslocar-se a um centro de saúde específico, com a garantia de que teria um atendimento agendado. Contudo, ao chegar ao local, na hora indicada, deparou-se com uma triste realidade: não havia nenhum médico disponível para o atender.
Este episódio destaca uma falha significativa na comunicação entre os serviços de saúde. É incompreensível que o SNS 24, responsável por prestar informações e encaminhamentos, não tivesse conhecimento da falta de médicos naquele centro de saúde. Quando alguém procura ajuda médica, espera que o serviço tenha a capacidade de oferecer um suporte efetivo, o que inclui saber a real situação em cada unidade de atendimento.
Ao entrar em contacto com a administrativa presente no centro de saúde, esperava-se, pelo menos, um mínimo de empatia e assistência, o que aconteceu ao ter-se prontificado a emitir uma declaração de que o doente não tinha sido atendido por falta de médico (aparentemente havia uma greve de médicos nesse dia). No entanto o que foi entregue foi um documento que não refletia adequadamente a situação. A declaração limitava-se a mencionar que a pessoa esteve presente devido a uma greve dos médicos, informação que não correspondia à realidade.
A pessoa deslocou-se lá porque estava doente. O facto de não ser atendida é que foi por causa da greve dos médicos. Quando se questionou a lógica dessa declaração e a sua utilidade, a resposta foi desalentadora: não podia fazer mais nada.
Contactado novamente o SNS 24, a resposta foi que “não tinham solução para esta situação”.
Já a pessoa doente teve que arranjar uma solução: ir a um hospital privado!
Este tipo de atitude revela uma falta de responsabilidade no atendimento ao doente. A incapacidade de oferecer uma solução prática e significativa num momento de necessidade reforça a importância de um sistema de saúde que não apenas funcione, mas que trate o paciente com dignidade e respeito. O SNS 24 e os demais serviços de saúde devem ser mais do que simples canais de informação; devem ser partes eficazes de um sistema que prioriza a saúde dos cidadãos.
Este episódio não é um caso isolado. Muitas pessoas dependem do sistema de saúde pública e, ao recorrer a serviços como o SNS 24, esperam um suporte que vá além de simples instruções ou encaminhamentos. Quando algo tão básico quanto a disponibilidade de um médico não é comunicada corretamente, a experiência torna-se frustrante e desgastante.
Não basta apenas atender o telefone; é essencial que o atendimento seja eficaz e que exista uma verdadeira estrutura de suporte ao doente. A saúde deve ser tratada com urgência e eficiência, o que implica garantir que as informações transmitidas sejam sempre verídicas e que os serviços prometidos estejam realmente disponíveis. Mais do que uma questão de comunicação, trata-se de construir um sistema de saúde que realmente escute e responda às necessidades da população.
É urgente repensar a abordagem no atendimento de saúde. É fundamental investir na comunicação e na coordenação entre os serviços, para que aquilo que se espera ao fazer uma chamada não se transforme numa desilusão. O doente merece ser acolhido e tratado com respeito, com acesso real à saúde de que necessita, sem barreiras que o distanciem do cuidado adequado.
Se a saúde pública deve ser um direito garantido, então é necessário que as estruturas que a sustentam funcionem de forma integral, assegurando um atendimento claro, direto e eficiente para todos. Uma reavaliação das práticas atuais é urgente e vital, pois só assim se conseguirá garantir que cada cidadão possa contar, de facto, com o suporte necessário em momentos de vulnerabilidade. É imperativo que cada voz seja ouvida e que cada situação seja tratada com a seriedade que merece. A saúde pública não deve ser um labirinto burocrático, mas sim um caminho claro e acessível para todos.
Atenderem o telefone deve ser apenas o primeiro passo e não o único que conseguem fazer.
Aproximando-se a passos largos a época festiva do Natal, aproveito a oportunidade para desejar a todos um Feliz Natal, na companhia do que são mais queridos ao caro leitor.
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