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Festival Para Gente Sentada 2014 Foto-Reportagem

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No dia 30 de Março, o Europarque de Santa Maria da Feira acolheu pela primeira vez a intimidade do Festival Para Gente Sentada. Na sua 10º edição, e dada a impossibilidade de utilizar o Cine-Teatro António Lamoso, o festival apostou num espaço diferente, na sua cidade de sempre. Na parte inicial do festival, ainda durante a tarde, ouvimos os You Can’t Win, Charlie Brown e The Veils. Na segunda parte, já nocturna, subiram ao palco Walter Benjamin, seguido da grande revelação da música nacional em 2013, Gisela João.

You Can’t Win, Charlie Brown (YCWCB), grupo composto por Afonso Cabral, Salvador Menezes, Luís Costa, David Santos, Tomás Sousa e João Gil, inaugurou o palco do Festival. Seis amigos que faziam música juntos e que um dia se reuniram numa cave onde encontraram um livro intitulado You Can’t Win, Charlie Brown. Sentiram que a nostalgia da obra assentava bem no projeto e estava assim encontrado o nome pelo qual iriam ser conhecidos. Diffraction / Refraction, o segundo longa-duração dos YCWCB, que assinam também a produção, é um disco muito mais desafiador do que o anterior Chromatic. Ambos têm a marca YCWCB: harmonias vocais exemplarmente construídas, combinação entre elementos folk e electrónicos, diversidade rítmica, construção de ambientes quase sinfónicos. O segundo álbum talvez possa ser apelidado de mais sofisticado, o que será o resultado da evolução dos músicos, individualmente e no seio da banda. Ao vivo a atuação dos YCWCB caracteriza-se pela simplidade e pela singela presença dos seis elementos em palco. Existe cuidado com os pormenores sem se descurar o conjunto, e cada um dos elementos encaixa numa sintonia harmoniosa que complementa o seu contributo com as influências que traz. Green Grass, Be my World, Over the Sun / Under the Water são temas de uma beleza imensa que encantaram quem sentado no auditório do Europarque se recolheu do frio e chuva exterior para ouvir boa música. Os YCWCB foram uma bela confirmação e queremos continuar a segui-los de perto. Ficamos com a ideia que muitos que os escutaram e viram atuar no domingo de tarde partilharam esta ideia.

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Seguiram-se os The Veils, banda londrina de indie / alternative rock, conhecida pelas suas atuações semi caóticas e pela presença peculiar que o vocalista Finn Andrews por vezes encarna. Andrews já definiu a polaridade da banda da seguinte forma: “Gosto de imaginar Roy Orbison com os Stooges, a passarem um dia bizarro no meio do deserto”. Time Stays, We Go é o 4º album dos The Veils, editado pela Pitch Beast Records, etiqueta de que são proprietários. Apesar do vovalista ser apontado como um dos mais versáteis e talentosos músicos da sua geração, e da banda se ter esforçado na entrega da sua atuação ficamos a achar que talvez tenham sido a wild card do festival.

O português Walter Benjamin, um escritor de belas canções que até já viveu em Londres, lançou o seu álbum de estreiaThe National Crisis em 2007. Seguiram-se vários EP’s e o último álbumThe Imaginary Life of Rosemary and Me de 2012. Walter Benjamin já colaborou com nomes internacionais como os Geffin Brothers e Jakob Bazora e nacionais, como B Fachada, Noiserv ou You Can’t Win, Charlie Brown, tendo produzido o álbum de estreia da cantora Márcia. Em Dezembro de 2013 foi convidado das noites Black Baloon para executar na íntegra o álbum The Queen Is Dead, dos britânicos The Smiths, perante uma plateia esgotada na discoteca Lux em Lisboa. No Europarque elegemos o português como a revelação da noite. Gostamos de ouvir Twenty Four, Airports and Broken Hearts e Mary. Vamos continuar atentos ao seu percurso, pois acreditamos que vai crescer bem.

O álbum de estreia homónimo de Gisela João foi eleito disco do ano por vários meios de comunicação social (Público, Blitz, Time Out) e a fadista entrou no palco do Europarque depois de há poucos meses ter esgotado o CCB em Lisboa e a Casa da Música no Porto. Natural de Barcelos, Gisela João passou pelo Porto para estudar design de moda mas acabou por se mudar para a Mouraria. Sou Tua, (A Casa da) Mariquinhas, Malhões e Viras, Maldição, Bailarico Saloio, Sei Finalmente, Meu Amigo Está Longe, Madrugada sem Sono e Vieste do Fundo do Mundo foram temas que escutamos com um enorme arrepio na pele. Como canta, nas palavras finais da música que encerra o seu disco de estreia: «Não é fadista quem quer, mas sim quem nasceu fadista». E Gisela nasceu fadista. Uma voz fenomenal e uma entrega enorme na hora de cantar o fado. Ficamos um pouco surpreendidos com o evitar excessivo e forçado das câmaras dos fotógrafos que a artista assumiu em palco.

Texto: Joana Vaz Teixeira
Fotos: Miguel Pereira

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