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Edição 580

Festas de Nossa Senhora das Dores – 250 anos!

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Parte 2: A atualidade –
“O presente nas nossas mãos”
Nos tempos mais recentes, pela viragem do século, as festas de Nossa Senhora das Dores entraram num processo de declínio, quer pela maior oferta de outro tipo de espetáculos no decurso do ano, não tendo ainda o conceito de concorrência sido assimilado pelos organizadores, quer pela cada vez maior globalização que permite às pessoas fazerem férias fora das zonas de residência habitual, procurando novas experiências. Lenta e gradualmente, a população mais jovem vai deixando de se rever na romaria, ao contrário da juventude de outrora, evidenciando-se inclusive um choque geracional já que as famílias não se deslocam em grupos fazendo do recinto o ponto de encontro. A Câmara Municipal da Trofa, em defesa da tradição, procura contrariar a tendência de perda de interesse por parte da comunidade, auxiliando as diversas comissões de festas em funções, com auxílio financeiro e logístico, mas sem qualquer regulamento claro ou plano estratégico que permita inverter o sentido de tendência que se tem evidenciando.
Num território dividido administrativamente e com uma menor influência da igreja (Paróquia), a Câmara Municipal da Trofa procura articulação com as demais Juntas de Freguesia, Bougado (S. Martinho e São Tiago), Coronado (São Romão e São Mamede), Muro, Covelas, Alvarelhos e Guidões, na tentativa de mobilização prévia de pessoas e promoção da identidade, reaproveitando um conceito nascido no início dos anos 90 do século passado, denominado de “Expotrofa” inicialmente ligado a uma expressão meramente empresarial, mas que foi adotado para fins mais amplos logo após a criação do concelho da Trofa. Este certame, que passou pelo Parque Nossa Senhora das Dores e fixou-se na zona envolvente à nova estação, local que se tem afigurado de grande adequabilidade, pretende ser uma mostra da Trofa, e conta com a participação de associações locais que se dedicam aos “comes e bebes” (nas “tasquinhas”), além de marcarem a sua presença institucional, de algumas empresas que divulgam os seus produtos, de artesãos e artistas locais, entre outros, que vindos de fora se juntam num acontecimento que dura pouco mais de uma semana, no mês que antecede as grandes festividades, e que tem o mérito de estabelecer pontos de contacto entre as pessoas e promover hábitos de sociabilização. A comissão de festas aproveita os dias do evento para angariação de verbas, sendo que depois ainda é feito um último esforço de muitos voluntários para, no dias que se seguem, colocar em funcionamento o bar da comissão de festas, agora com um novo e excelente espaço, para que no seu todo a festa não dê prejuízo e, se possível, ainda possa sobrar algum para benfeitorias em obras da capela.
Mas a verdade é que, uma vez mais pelo avanço social, cada vez tem sido menor a adesão de visitantes, muito pelo afastamento de algumas forças vivas da Trofa, que ao estilo “lusco-fusco”, marcam a sua presença (maior ou menor), ou até mesmo ausência, em função do partido que está no poder, muitas vezes não por interesses ou comprometimento, mas por força de um “seguidismo” que se instalou na Trofa, promovidas pelos principais partidos locais, e cujas lutas, atiram as pessoas para uma privação de liberdade de movimentos e relacionamentos em claro prejuízo da vivência da própria terra! As freguesias mais periféricas são as mais afetadas, porque sofrem o efeito da distância, não lhes sendo oferecido transportes regulares que convidem a uma visita ao evento! Tal nunca foi acautelado pelas comissões de festas e nunca foi motivo de prioridade por parte da autarquia que herdou obrigações administrativas, impostas pelo seu estatuto de concelho, facto que em nada abona para a aproximação da comunidade. Este processo tem acicatado um novo efeito bairrista nessas comunidades (à semelhança do que acontecia entre a Trofa e Santo Tirso), que as une no crescimento das suas próprias festividades, muitas delas igualmente históricas, e que lhes toca bem mais com a lembrança dos seus antepassados e das suas próprias tradições, ficando assim confinadas as grandiosas festas da Nossa Senhora das Dores (agora concelhias) quase em exclusivo para os habitantes de Bougado (S. Martinho Santiago).
 
Mas foram as decisões políticas levadas a cabo no ano de 2007, pela mão de Bernardino Vasconcelos, e que tinham por base a ligação dos dois parques existentes, suprimento a passagem dos caminhos-de-ferro à superfície (inicialmente com a esperança da chegada do metro, mas cujas decisões políticas dos diversos governos centrais foram negando), que deixaram a Trofa num impasse! Atrasos sucessivos na concretização de uma obra, de cerca de seis milhões e quinhentos mil euros, financiados por fundos comunitários, com processos a passar pelo crivo do Tribunal de Contas, dificuldades que se sobrepuseram às dificuldades do empreiteiro, ditaram a privação do espaço por parte dos trofenses durante largos períodos de tempo!
As constantes querelas entre os dois partidos políticos que estiveram no poder, inicialmente o PSD de Bernardino Vasconcelos, depois o PS de Joana Lima, e novamente o PSD agora de Sérgio Humberto, transformaram o espaço num lugar desadequado às exigências atuais, tendo mesmo sido ultrapassado em termos técnicos pelo arrastar da obra (2007-2015), e alguma falta de imaginação de quem arquitetou o espaço, feriu de morte as aspirações a um espaço de excelência, adequado, moderno e devidamente articulado a prestar vénias às grandiosas festas que lhe deram o ser! As tradicionais festas em honra de Nossa Senhora das Dores de que temos memória jamais voltarão a ser o que eram e terão de ser reinventadas, sob pena de perderem o destaque que gozaram noutros tempos, onde rivalizavam com cartazes das terras vizinhas.
Os atrasos das obras do Parque Nossa Senhora das Dores levaram à necessidade de utilização da zona da estação velha, no canal que servia de base aos trilhos dos caminhos-de-ferro (zona abandonada e em avançado estado de degradação), nos anos de 2013 e 2014, afastando provisoriamente as festas, ao fim de mais de 240 anos, da sua zona natural – foi o primeiro sinal de desmobilização dos hábitos que até então estavam enraizados nos trofenses.

 
O ano de 2015, foi a certeza de que o novo parque não tem condições de dignidade para a receção da procissão e dos majestosos andores, falta um percurso bem delineado e nobre, que das festas fizesse recordar durante todo o ano, ao mesmo tempo que o tradicional arraial, com carrocéis e barracas de comércio, está condenado a um afastamento que tenderá a tornar as festas menos apetecíveis para uma sociedade cada vez mais globalizada e com exigência de espaços de excelência para as suas atividades.   
Exímio é o papel das comissões de festas, em especial pela mão das pessoas mais velhas, que conseguem mobilizar centenas de pessoas que agem pelo voluntariado e pela preservação das raízes, possibilitando em cada ano, a uma aldeia diferente, uma vivência associativa que muito tem para transmitir às novas gerações e que devem continuar para que o espírito não se perca e a Trofa não regrida na sua identidade.
Com o conhecimento do passado que representa tantas histórias individuais de homens e mulheres que fixaram no mapa de Portugal a nossa terra, o esforço de quem pode e quer, no presente, honrar a memória destes antepassados – é hora de comemorarmos os 250 anos das festas em honra da Nossa Senhora das Dores da Trofa (1766-2016).
(Agradecimentos a todos os que deixaram escritos, narrando datas e acontecimentos, que permitiram fazer referências históricas de uma Trofa que não conheci)

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