Edição 561
Faleceu a mãe do folclore da Trofa
Criou dois ranchos folclóricos e reuniu um acervo que vai perpetuar os usos e costumes dos antepassados da Trofa. Faleceu a mãe do folclore trofense, Maria Augusta Reis.
A Trofa perdeu uma das embaixadoras da cultura etnográfica e folclórica do concelho. Maria Augusta de Oliveira Reis, mais conhecida por Augusta “Chata”, faleceu esta quarta-feira, 24 de fevereiro, vítima de doença prolongada, a poucos dias de completar 95 anos. Esta sexta-feira, está em câmara ardente na capela mortuária da Igreja Nova, em S. Martinho de Bougado, e o funeral realiza-se às 16 horas.
A ela, o concelho deve a criação de dois ranchos folclóricos e o acervo com valor cultural inestimável, composto por trajes, instrumentos, ferramentas, livros e fotografias e que doou ao município com o sonho de ver nascer um museu etnográfico.
Filha de Manuel Dias da Costa Reis e de Maria da Costa Oliveira, Maria Augusta Reis nasceu a 5 de março de 1921, na freguesia de S. Martinho de Bougado, à época freguesia integrante do concelho de Santo Tirso.
Depois de aprender as primeiras letras com o mestre Portela, na Lagoa, Santiago de Bougado, Maria Augusta Reis frequentou a Escola Primária que existiu junto à Capela de Nossa Senhora das Dores e depois a Escola do Parque Dr. Lima Carneiro.
Após concluir a terceira classe, e face aos parcos recursos financeiros da família, teve de abandonar os estudos e iniciou uma vida de trabalho, na jorna nas casas de lavoura e ajudando a mãe na venda de lenha e carqueja para alimentar os fornos caseiros.
Com apenas 13 anos entrou na fábrica de tecelagem de António Ferreira Lima e até à sua aposentação, em 1973, passou pela indústria do conhecido Mário “Moleiro” e na fábrica de Abílio Lima.
Mas foi na recolha das tradições e na preservação dos usos e costumes do passado que Maria Augusta Reis construiu um legado que ficará, para sempre, marcado na história do concelho. Fazia rondas às casas de lavoura e, com auxílio de um gravador, recolhia cantigas, quadras populares e rezas. Este interesse levou à fundação do Rancho Folclórico da Trofa, que fez a estreia na Feira Anual da Trofa, a 1959. Divergências com elementos do grupo fê-la abandonar o projeto, mas não o folclore. Dois anos mais tarde, incentivada por várias senhoras da terra, incluindo a mãe, criou o Rancho das Lavradeiras da Trofa, que também fez a primeira grande atuação na Feira Grande, em 1962, mas que só passou a existir legalmente a partir de 1982. Para erguer este projeto, Maria Augusta empenhou-se na captação de jovens, na angariação de fundos e recolha de indumentária e até pôs mãos à obra na confeção de trajes que reproduziam modelos antigos.
Sócia n.º 1 deste Rancho, foi presidente da direção em 1982 e foi diretora artística até 27 de março de 1983. Nesta relação umbilical à cultura, Maria Augusta Reis integrou ainda a Federação Portuguesa de Folclore. Uma das muitas histórias que viveu passou-se em agosto de 1960 quando participou no Festival de Traje no Palácio de Cristal, no Porto, com um casal de lavradeiras ricas, que mereceu 1.º prémio, e com um traje do séc. XVII que ganhou o 2.º prémio.
Do ponto de vista associativo e cívico, Maria Augusta Reis participou em vários eventos com vista a angariação de fundos, um deles a favor do Clube Desportivo Trofense.
Em 2012 recebeu a Medalha de Mérito Cultural – Grau Ouro por parte da Câmara Municipal da Trofa, mas já antes tinha recebido outra pela autarquia de Santo Tirso, quando as freguesias da Trofa integravam o concelho tirsense.
Os últimos anos de vida foram passados no Lar da Santa Casa da Misericórdia da Trofa, em S. Martinho de Bougado. Na segunda-feira foi transportada para o hospital, onde faleceu.
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