Ano 2011
Estamos melhor que se estivéssemos pior
O Homem, que é um ser em evolução constante, tem vindo a afastar-se cada vez mais do objetivo central da sua existência, que é ser feliz. Os agentes causadores desse afastamento são muitos, a começar pelos decisores políticos, que de tempos a tempos o “brindam” com o anúncio de cortes no seu rendimento, retirando-lhe meios que proporcionam a qualidade de vida que merece.
Com a justificação do desvio orçamental, que se situa na soma astronómica de 3 mil milhões de euros, o primeiro-ministro anunciou uma série de medidas complementares às que já tinha anunciado para este ano (corte de metade do subsídio de natal acima do salário mínimo). Todos os trabalhadores do Estado e pensionistas que recebem mais que 655 euros brutos por mês, vão ficar sem um subsídio por inteiro, pelo menos, nos próximos dois anos. Acima desse valor, o corte será maior.
Quanto maior for o salário base ou a pensão, maior será o corte. Para os funcionários públicos e pensionistas que ganham acima de mil euros por mês, ficam todos sem os dois subsídios, de natal e de férias; para os que ganham entre 485 euros não haverá corte, mas quem auferir entre esse valor e mil euros, serão sujeitos a uma taxa de redução progressiva, até atingir 100% dos dois subsídios. Com esta medida de redução da despesa pública, o governo consegue poupar 2,5 mil milhões de euros, que não chega para tapar o “buraco” do BPN – Banco Português de Negócios.
Para justificar a aplicação destes cortes nos salários, o primeiro-ministro invocou a alternativa dos despedimentos, afirmando que temos de salvaguardar o emprego e que se Portugal não cumprisse as metas definidas pela “troika”, o Estado seria forçado, em desespero, a proceder a medidas intoleráveis como os despedimentos indiscriminados de funcionários públicos.
Esta “ida aos bolsos” dos portugueses, vai originar uma maior retração na economia portuguesa, já de si muito débil, que fará aumentar a pobreza no nosso país. Portugal, que está no quarto lugar na União Europeia com maiores desigualdades sociais, tem mais de 15 por cento da sua população a receber pensões de reforma inferiores ao salário mínimo, mais de setecentos mil desempregados e mais de meio milhão de pessoas a receber o Rendimento Social de Inserção. Utilizando uma figura de estilo: «como quer que seja, estamos melhor que se estivéssemos pior», mas a verdade, é que uma em cada cinco pessoas em Portugal é pobre, sendo que 37 por cento dos agregados familiares constituídos por um adulto com uma ou mais crianças e 33 por cento dos agregados só com idosos também vivem em situação de pobreza. Em apenas quatro anos (de 2005 a 2009), Portugal passou do 17º para o 9º país com taxa de risco de pobreza mais alto da UE. Nestes tempos, sem tempo para ter tempo de sentir o social, em que a dominância é a economia e a finança, os decisores políticos terão de centrar todo o seu pensamento no Homem e na sua felicidade. Foi para isso que nascemos; é por isso que aqui estamos.
José Maria Moreira da Silva
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