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Escrita com Norte: Super Homem

Neste ambiente cinéfilo, em plena vida real, pensei no meu dia e nas minhas incoerências.

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Na adolescência, um dos livros marcantes que li, chama-se, “Assim falou Zaratustra”, de Friedrich Nietzsche. Nele aparece o conceito de “Super Homem”, definido como um estágio superior, do qual o Ser Humano é apenas um estágio intermédio entre o macaco e este “Super Homem”. Com o avançar da leitura, rapidamente nos apercebemos que não é o herói de capa e fato azul e vermelho, nem o meu sobrinho, que diz ter super poderes , que como qualquer verdadeiro super herói também tem as suas limitações, e a do Gonçalo é não conseguir arrancar árvores do chão!

– Olá, Sr Manuel!

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– Olá Calheirinhos!…

(É desta forma carinhosa, que o Sr Manuel, da idade do meu pai, me trata. Diz que é uma forma inteligente de em conversa me distinguir do meu pai)

– …Estou lixado!

(O termo utilizado foi outro, saído do dicionário coloquial de tasca)

– Não parece! – respondo, mentindo.

(Olhava e via-o como sempre o vi desde que o conheço, acabado e atordoado pela bebida)

– Mas estou! Tenho que deixar a bebida e já reduzi no tabaco. – diz-me de cigarro na boca.

Uma voz vinda do fundo do café de trás do balcão faz-se ouvir:

– Ó Nel, não tenho Super-bock. Queres Cristal ou de pressão?

Desviando a cara da nossa conversa, o Sr Manuel responde:

– Traz-me uma Cristal e depois uma cerveja de pressão.

De volta à nossa conversa:

– São os médicos, dizem para ter cuidado! O que vale é que a minha bexiga funciona bem. Por cada cerveja que bebo vou à casa de banho descarregar…já lá fui quinze vezes. Enquanto vou à casinha e volta para a mesa, caminho. O médico aconselhou-me a andar.
Parvo a olhar para o Sr Manuel, vejo-o a dar uma última “passa” e a acender um novo cigarro com a beata do cigarro acabado de fumar, e prossegue:

– Agora tomo medicamentos para dormir. Estando mais horas no ronco, é menos tempo que tenho para fumar!

A cena que se apresentava à minha frente fazia-me pensar que o Sr Manuel tentava recuperar os cigarros não fumados com o tempo a mais dormido.

Levanta-se e vai à casa de banho.

À mesa do lado chega um individuo, onde já estão outros dois.

– Aldrabei agora um gajo e ganhei 200 €.

– És o maior! – dizem os outros, com palmadas nas costas.

(Enquanto o Sr Manuel se satisfazia, libertando a bexiga para mais uma cerveja, eu assistia à  glorificação do chico-espertismo)
Felizmente, o Sr Manuel rouba-me à cena do “chico-esperto” com o seu regresso. Ao mesmo tempo, chega à mesa o empregado com a Cristal e uma francesinha.

– Pedi uma francesinha, Calheirinhos. É que quando chegar a casa a Amália vai-me fazer um peixinho cozido…o médico!

Enquanto come a francesinha com alegria e a saúde com tristeza, observo a Ritinha, uma gorda, ex-obesa, com uma ligeira passagem pelo estado de elegância após a colocação de uma banda gástrica, besuntada de molho que escapava do cachorro que comia.

Neste ambiente cinéfilo, em plena vida real, pensei no meu dia e nas minhas incoerências.

O “Super Homem” de Nietzsche é a liberdade para sermos melhores (pelo menos um pouquinho), para connosco e para com os outros, do que fomos no dia anterior.

Apesar do Homem ter vergonha de descender do macaco, ele por vezes (muitas vezes) é mais macaco do que o próprio macaco!

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