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Escrita com Norte: Sou portuguesinho

“Somos por natureza, emocionais, um pouco românticos e …inhos!”

José Calheiros

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Ainda o nosso primeiro rei não era rei e já conquistava território para sul, quando num determinado momento iniciou a conquista da Galiza, movido, não por um qualquer interesse estratégico maior, mas porque a sua mãe andava “metida” com um nobre galego da poderosa família Trava. Após um desaire militar contra os Mouros em Leiria, D. Afonso Henriques desistiu das pretensões a norte e concentrou o seu esforço militar para sul!
Independentemente do sentido da conquista, nasceu Portugal, o país mais à esquerda da Europa!

Com os Descobrimentos chegámos ao Brasil. Enquanto os espanhóis nos seus territórios da América, com violência impunham-se aos povos nativos, nós estávamos mais interessados no amor e em dar alguma paz.

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No seguimento dos Descobrimentos na Costa de África e Ásia, em vez de malfeitorias, criámos Feitorias e o grande poeta Luís Vaz de Camões ao eternizar a epopeia portuguesa fê-la em “dez cantos” em vez de “dez centros”…nunca gostámos de dar nas vistas!

Somos por natureza, emocionais, um pouco românticos e …inhos!

O despertador toca, são 7h e ainda vai tocar mais uma vez, às 7h15m. Estes dois toquezinhos são, felizmente, os meus únicos momentos de ódio ao mundo, depois, salto da cama e preparo-me para o mundo “inho”!

Quando chego ao local de trabalho, vejo a Dona Rosa, que faço questão de cumprimentar, não só porque mantém a minha secretária limpa, mas após o meu “Bom dia”, responde-me, ainda hoje, “Bom dia, menino…” seguindo-se sempre o desabafo de uma tragédia pessoal concluido com o reconfortante “Haja trabalhinho!”.

Já sentado na minha secretária ouço: – Bom dia, Calheirinhos!
Olho para a placa afixada no meu local de trabalho e vejo escrito “José Calheiros”, de seguida desvio o olhar na direcção da voz e vejo a minha colega Teresa.

– Olá Teresinha! – Respondi em concordância, não fosse eu passar por mal disposto.
Ainda o computador está a “ressuscitar” e o meu colega António já me está a convidar para no fim do trabalho irmos beber uma cervejinha. Sempre que o convite é para uma cervejinha, o próprio António sai do café “tocado” pelas várias cervejas que bebe!

Ah, já ligou! Estou a escrever a palavra-passe e toca o telefone. O número não me é estranho, mas não é das minhas relações laborais…é a minha mãe.

– Logo vens comer cá a casa?! – Pergunta como que a relembrar que é sexta-feira, dia de juntar a família.

– Claro! Todas as sextas e segundas! – Respondo, sorrindo.

– Já telefonei ao teu irmão, a perguntar se ele quer carninha ou peixinho. – Diz-me.

– E ele, o que é que escolheu?

– Ele quer peixinho. E tu? – Pergunta-me.

– Pode ser peixe, também!

– O quê???

– Peixinho! Eu quero peixinho, mamã!

Após desligar o telefone tinha que me despachar, faltam cinco minutos para uma reunião com o Carlinhos, 1,83 metros e 143 quilos. O Carlinhos é muito boa pessoa e, para não ferir susceptibilidades, costumo dizer que ele está forte, um verdadeiro atleta, mas ontem, num vislumbre de realismo, diz-me, “Estou gordinho”, enquanto penso para mim, “Carlinhos, tu estás um pote!”.

O resto do dia de trabalho foi passado a tentar fintar, sem sucesso, “inhos” e “inhas”. No final lembro-me que tenho que ir às compras e informo o António que não posso ir beber uma cervejinha com ele. – Que peninha! – Responde-me.
Depois da rusga pelas prateleiras do hipermercado, apresento-me na caixa para pagar.

– Tem cartãozinho da loja? – Pergunta-me a senhora da caixa.

– Ah, o cartão! – E passo-o à empregada.

– Este cartão parece mesmo o cartãozinho! – Exclama a senhora da caixa.

– E é! Esse cartão é o cartãozinho.

Após o esclarecimento e pagamento, saio da superfície comercial com alguma pressa. Atrás de mim vem a correr um promotor que me apanha a entrar no carro:

 – Tem um minutinho? – Pergunta-me com um sorriso luminoso.
Este senhor pregou-me uma “seca” de meia horinha!

Chego tarde a casa dos meus pais para jantar. Olho para a mesa e não vejo o peixinho.

– Olha, não consegui ir à peixaria, por isso fiz carninha! – Explica-se a minha mãe.

– Não há problema mamã! Pior era se fosse carne ou peixe! – Respondo-lhe
No final da noite, como sempre, despedimo-nos com beijinhos!

Não me importo de ser um país à esquerda (geograficamente), que a epopeia da nossa história esteja escrita em cantos e que tenhamos resquícios de pequenez no falar…sou portuguesinho com muito gostinho!

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