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Escrita com Norte: (Im)perfeição literária

“No Ocidente, com principal incidência nos Estados Unido e Inglaterra, regressou-se à proibição de livros, sob a forma de correcção.”

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A estupidez ou o medo, ou as duas coisas juntas, ao longo dos séculos fizeram com que se deitassem pessoas e livros à fogueira. Ultimamente, no Ocidente, com principal incidência nos Estados Unido e Inglaterra, regressou-se à proibição de livros, sob a forma de correcção.
Tenho a dizer, que do meu ponto de vista, quem faz isto, tem o mesmo espírito inquisitorial com que se queimavam pessoas, caracterizado pelo ódio ao que não é meu, pelo ódio ao que não é emanado por mim, pelo ódio ao que não pertence à minha tribo…porque tudo em mim é o bem!
É um espírito de ditadura que se vive, em que uma minoria se impõe aos outros, a História se reescreve e os livros são reeditados com partes retiradas e outras adulteradas, como em todas as ditaduras, para um bem comum, para um mundo melhor, onde ninguém é ofendido.
Mas a realidade acaba sempre por ser mais forte do que tudo, o gordo nunca deixará de ser gordo só porque nos livros esse adjectivo é trocado por “enorme”.
O gordo deixará de ser gordo, quando deixar de consumir mais calorias do que as que gasta.

Neste momento vivo num futuro não muito distante daquele, em que o/a leitor/a está a ler esta crónica. Existe um “Ministério da Correcção Literária”, que examina todos os livros e correspondência, para garantir que todas as palavras e frases que sejam ofensivas e micro agressoras, sejam substituídas… se a correspondência ou a obra perderem o sentido original ou beleza poética, não interessa.
Neste mundo, pertenço à resistência, continuo a usar as palavras que devo usar, para passar a leveza ou a gravidade da mensagem que quero transmitir, mas a minha última carta, enviada para o Ministério da Justiça, foi apanhada e sujeita a correcção. Entre parêntesis, as correções efectuadas:

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“Venho por este meio denunciar, que a Ana, bela mulher…
(Declaro que Ana, bela pessoa com útero…)
…minha amiga desde criança, em que ambos éramos balofos…
(…amigos desde a infância, em que ambos éramos enormes…)
…casada com Luís, cinco anos mais velho…
(coabita com Luís, pessoa com próstata…)
…é agredida, amiúde, ao murro, sendo visíveis as pisaduras na cara.
(…é acarinhada, amiúde, com festinhas amorosas, deixando-a com um rosadinho púrpura nas faces).

Após sentença, Luís regressou a casa com um louvor da parte do juiz, de como uma pessoa com próstata deve tratar uma pessoa com útero.
Neste meu tempo, num futuro não muito distante daquele, em que o/a leitor/a está a ler esta crónica, nos livros de História ensina-se que os campos de concentração nazis e os Gulags soviéticos, eram colónias de férias, onde se faziam provas de vinhos…na literatura o mundo ficou perfeito.

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