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Escrita com Norte: I have a dream

Chegámos atrasados, os pugilistas, Eça, o Queiroz e Adel, o Tunisino, já estão no centro do ringue…

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Estava com pressa, e notava-se na velocidade, quase em cima do limite permitido, 39 Km/hora. Dou pisca, para ultrapassar um condutor atento, e ouço, “Bi-bi-Bi-bi”. Parei, e do outro carro vociferam-me:

– MIL PERDÕES PELA POLUIÇÃO SONORA, MAS BUZINEI PARA ALERTAR PARA O CHOQUE QUASE IMINENTE, ESTIMADA PESSOA! – diz-me o condutor, que circulava na outra faixa.

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– Fez bem em alertar para a minha desatenção, sua Excelente Pessoa… é um Anjo! – respondi.
Como resposta recebi um gesto, com as mãos juntas o condutor dirigiu-me um “coração” e desejou-me – “Um excelente dia!”
Segui viagem e aparquei em frente ao quiosque da “Tina”, entro e espero na fila para ser atendido.
Momentos depois, entra outra pessoa, parecia-me ter 49 anos, mais velha do que eu…dei-lhe prioridade.

– Tenho 45. – diz-me.
Hãããã, eu tenho 48. Mantemos o alinhamento da fila por ordem decrescente de idades? – perguntei.

– Não lhe dava essa idade, está com excelente aspecto e nota-se que em boa forma, também!
Perante tamanha lucidez, desisti da “ordem decrescente de idades “ e insisti que passasse à minha frente.
Depois desta desordem natural, acabou por chegar a minha vez de ser atendido, como sempre, de forma educada, bem disposta e cavalheiresca pelo meu amigo de infância, o Pedro. Entregou-me os bilhetes, que estavam reservados, e, demasiado em cima do evento, dirijo-me apressado para o carro. Nas proximidades ouço uma discussão, em que meia dúzia de pessoas trocavam elogios de forma acessa…todos com garrafas e garrafões de àgua, já devidamente consumida.
Bem, com os bilhetes na mão, ainda tinha que ir buscar o meu sobrinho, o Gonçalo, para assistirmos a um espectáculo de “Homens”, um combate de boxe.
Chegámos atrasados, os pugilistas, Eça, o Queiroz e Adel, o Tunisino, já estão no centro do ringue…Afonso de Albuquerque é o árbitro do combate e anuncia:

– Senhores atletas, pede-se que o combate seja limpo, não digam bem de quem não gostam e não usem cábulas de “bem dizer”.
Cada um vai para o seu canto do ringue e Afonso de Albuquerque vai a uma lateral fazer soar o sino para o início do combate.
“Bonnngueee”…começa o combate, os dois atletas dirigem-se para o centro da arena, “dançam” em frente um do outro, com uma troca de pés constante, Eça tropeça e Adel aproveita para aplicar o primeiro golpe:

– Qué flô?!
Eça aguenta atordoado e ainda zonso, sofre ataques repetidos de Adel.

– Qué flô, qué flô, qué flô, qué flô, qué flô, qué flô…
Eram os primeiros momentos do combate e já ninguém acredita na recuperação de Eça.
Adel revelava-se muito bom neste golpe rápido e curto e assim chegámos ao final do primeiro assalto. “Bonnngueee”…e ainda no mesmo, “Bonnngueee”, Afonso de Albuquerque dá início ao segundo assalto, sem os atletas terem tempo para recuperar!
Os dois estão novamente no centro do ringue, e sentindo que tinha ficado em desvantagem, Eça, o Queiroz, entra forte no segundo round:

– Ó excelente pessoa, a tua mãe é uma santa!
Adel, o Tunisino aguenta o ataque e, poderoso, responde:

– Qué flô, qué flô?
Os dois “bailam” em cima do ringue, como se estivessem num salão de dança, e Adel tenta novo ataque – “Qué flô?” – Eça esquiva e contra ataca:

– Ó bondoso, tu dás a camisa a um pobre! A tua irmã é que é boa para casar!

– Parou, falta técnica contra o atleta Eça! – anuncia o árbitro e explica – o Adel não tem nenhuma irmã. Podem recomeçar.
Adel e Eça juntam-se ao centro e desferem um ataque em simultâneo:

– Qué flô?

– Devia-te sair o euromilhões!
“Bonnngueee”. Termina o segundo assalto.
Eça dirige-se para o seu canto, seguro de que tinha ganho este assalto e que tudo se iria resolver no terceiro e derradeiro round, e Adel vai para o seu canto a pensar que deveria começar a vender rosas na sua banca.
“Bonnngueee”. Começa o último assalto. Eça, sem tempo a perder:

– Tens um coração de ouro!
Adel aguenta o golpe e Eça continua:

– Tens a inocência de uma criança, és tão fofinho!
Adel continuava a defender-se como podia, sem conseguir reagir , e Eça continuava o massacre:

– Trocava a minha mãe pela tua! Trocava o meu farrusco pelo teu gato! Merecias um prémio pela paz! ÉÉSSSS LINNNDOOOOO!
O massacre era tal, que tapei os ouvidos ao Gonçalo e a vitória de Eça parecia certa, até que Adel, vazio de energia, inexplicavelmente foi descobrir força, ninguém sabe aonde, e:

– QUÊÊÊÊÊÊÊ FLÔÔÔÔÔÔÔÔ?!
Eça perante a falta de reacção de Adel durante o terceiro assalto, descurou a defesa e levou com este golpe em cheio no seu coração, ficando em KO amoroso. Afonso de Albuquerque inicia a contagem:

– 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, Adel, o Tunisino é o campeão!

Deixei o Gonçalo em casa e disse o quanto gostava dele… deitei-me a desejar que esta não fosse a única parte do dia que não foi sonho!

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