Crónicas e opinião
Escrita com Norte: Crente na profecia
Joel, amigo de infância e feio como um bode, depois de ouvir nos meios de comunicação social teorias da conspiração sobre tudo e todos como se fossem factos, relembra-me, cheio de esperança, quando no Verão de 88 uma cigana lhe leu a mão a troco de cem escudos e dize-lhe o que ele queria ouvir, “Um dia vais namorar com uma morena de olhos cor de avelã!”.

Joel, amigo de infância e feio como um bode, depois de ouvir nos meios de comunicação social teorias da conspiração sobre tudo e todos como se fossem factos, relembra-me, cheio de esperança, quando no Verão de 88 uma cigana lhe leu a mão a troco de cem escudos e dize-lhe o que ele queria ouvir, “Um dia vais namorar com uma morena de olhos cor de avelã!”.
– Joel, Joel! – repeti-lhe o nome de forma condescendente e contei-lhe a minha estória, quando, factualmente, o “Fim do mundo” esteve para acontecer…voltemos ao passado!
Dezembro, 2012
Nos últimos dias desse mês, falava-se tanto no fim do mundo, que eu próprio, pouco ligado a profecias e a ditos sem fundamento, cheguei a acreditar!
Eram as notícias dos jornais e telejornais que falavam do “Fim do Mundo” de forma ambivalente. Por um lado apresentavam o dito como uma profecia, mas por outro como sendo um cálculo com as bases científicas conhecidas há séculos atrás por essa civilização impressionante, os Maias, deixando espaço à dúvida!
Trazemos às costas a carga cultural de um povo que há poucas décadas era pouco ou nada instruído e que assistia a missas em latim. O obscurantismo e o medo eram dominantes, abrindo espaço amplo para o duvidoso e tomando-o como certo, sem sentido crítico.
E nesses últimos dias de 2012 as notícias pouco claras criavam mais receio. Lembro-me de ouvir algumas pessoas afirmarem com toda a segurança, “O fim do mundo…tretas!”, mas depois terminavam a sua dissertação com um, “E se for?!”.
Nesse mesmo mês de Dezembro, foi transmitido um programa no “National Geographic” sobre o Fim do Mundo e como algumas pessoas se preparavam para o mesmo, entrei em choque. No momento convenci-me que ia mesmo acontecer! Pensei no que recusei, deixei de fazer, deixei de dizer…mas nem tudo seria mau, como é o “Fim”, poderia ser excêntrico sem me ter saído o euromilhões!
O tempo escasseava, o Fim do Mundo era já no dia 21/12. Sem perder tempo telefonei para um portista, bom amigo, com quem tinha discutido por ele ter dito que o meu Sporting até jogava bem!
– Trim, trim,…
– Estou sim?! – pergunta o amigo portista.
– Sou eu! Desculpa ter discutido contigo por causa do Sporting!
– Deixa lá, já passou! Agora concordas que o teu Sporting até joga benzinho? – pergunta o amigo portista.
– Queres trocar? – respondo com outra pergunta.
(Esta minha postura relativamente ao meu clube fazia sentido na altura)
O amigo portista desligou sem me responder! Chateado, enviei-lhe uma mensagem a dizer que nunca mais lhe falava! Marquei a minha posição a poucas horas do Fim do Mundo.
Estabeleci novo contacto. Liguei ao meu amigo Joaquim.
– Quim, amanhã vou jogar!
– Mas…mas tu já estás bom da tua rotura muscular?!
– Não! Mal consigo andar, mas amanhã vou! – respondi-lhe.
Três semanas antes, depois de fazer uma rotura na coxa num jogo de futebol, rasguei-me completamente no dia seguinte, noutro joguinho de bola! Fui obrigado a parar!
Mas não queria perder a oportunidade de praticar a atividade desportiva que mais gosto antes do mundo acabar!
Depois de conversar com o Quim, voltei-me para o discurso que tinha preparado para dissertar nessa noite, numa cerimónia de gala, onde estariam colegas de trabalho e administração, e mudei algumas palavras!
Nessa noite, as palavras trocadas pareciam tiros disparados em todas as direções. Houve muito murmurinho e nenhum aplauso. Nessa noite mais ninguém me falou, mas também não me preocupei, porque no dia seguinte ia jogar à bola e depois seria 21/12, o Fim do Mundo!
O dia 21/12 chegou. Passei-o em casa, a lesão piorara no dia anterior aos trinta segundos de jogo e não me permitia uma locomoção independente! “Não tem importância”, pensei, e aproveitei para empanturrar de tudo o que eu gosto até que o “Fim” chegasse!
Passou a meia noite, estávamos no dia 22/12, o Fim do Mundo não chegou e sentia a barriga a rebentar!
Devido a medos e crenças, o que acabou foi o meu mundinho, zanguei-me com um amigo, piorei a minha lesão, quando fui trabalhar fui despedido e estava prestes a ter uma congestão!
Após ouvir a minha lição, Joel apurou o seu sentido crítico e já coloca em causa que a sua morenaça poderá não ter olhos cor de avelã!