Edição 587
E a ponte foi abaixo (c/ vídeo)
A Ponte da Peça Má foi demolida na sexta-feira (2 de setembro) por decisão da Metro do Porto que, face à recusa da Câmara Municipal de assumir a responsabilidade pela estrutura, consumou a ameaça que fazia desde 2007.
Debaixo da mesma ponte “não corre a mesma água duas vezes”, mas na Trofa escreve-se duas vezes na história a demolição de uma ponte. Depois da Pênsil – condenada pelo “progresso” – ter ido abaixo em 1935, foi a vez de a Ponte da Peça Má, erguida em 1932 entre as freguesias de Bougado e do Muro sob a Estrada Nacional 14 para possibilitar a passagem do comboio, ser destruída em nome “da segurança” e da falta de estatuto.
O veredito foi da empresa Metro do Porto (MP) que há muito – desde 2007 – tinha ameaçado com o derrube do pontão, que deixou de ter serventia desde que o comboio foi suprimido naquele canal (2002). Na sexta-feira à noite, e duas horas e meia depois de iniciar os trabalhos para os quais foi contratada, a empresa ABB fez cair a estrutura para tristeza de muitos, gáudio de outros e indiferença de alguns.
A notícia caiu que nem uma bomba um dia antes. Em exclusivo, o NT informou, através das redes sociais, que a Metro do Porto se preparava para demolir a ponte, após anúncio de corte de estrada publicado no Jornal de Notícias. As reações não tardaram e enquanto uns aplaudiam, outros gastaram energias para tentar evitar a morte da ponte.
Num ato de “desespero”, elementos da Junta de Freguesia do Muro, depois de reunião urgente com os elementos da Assembleia de Freguesia, decidiram apresentar um documento jurídico – espécie de tentativa de embargo – “ao dono da obra e empreiteiro”, mas estes “não aceitaram”, explicou Conceição Campos, que pelo facto de o presidente da Junta estar ausente do país, foi a porta-voz do executivo murense.
Antes, contou, o “presidente da Junta, Carlos Martins, esteve numa reunião na Câmara, na quinta-feira, e não se apercebeu, ou foi mal explicado, que a ponte viria abaixo hoje (sexta-feira)”, acrescentou. Já esta quinta-feira, 8 de setembro, Carlos Martins explicou ao NT que só depois de “ver gradeamento junto à ponte” é que estranhou, por isso telefonou para a Câmara Municipal, altura em que lhe disseram “a ponte era para vir abaixo”.
Por sua vez, Magalhães Moreira, vereador do Partido Socialista da Câmara Municipal da Trofa, fez saber que, na quinta-feira, ligou “ao presidente da Metro do Porto (Jorge Delgado)”, com o objetivo de “conseguir um adiamento dessa decisão” e assim ganhar tempo para “em conjunto com o presidente da Câmara Municipal, e afastando as questões político-partidárias, resolver esta situação”. “O senhor presidente da Metro disse-me que não podia adiar a obra, porque tinha lançado o concurso público há dois meses e que tinha avisado a Câmara do que iria fazer, dando um prazo para esta responder e tanto quanto eu sei não teve resposta nenhuma”, contou.
O vereador acrescentou que questionou o presidente da Metro do Porto “sobre se se podia fazer alguma coisa para evitar a demolição” e Jorge Delgado “respondeu que se o presidente da Câmara telefonasse a dizer que assumia a ponte, a empresa impedia a realização da obra e daria à Câmara da Trofa o valor que custaria a demolição”. “Depois disto, tentei ligar com o senhor presidente da Câmara e não consegui e então liguei à chefe de gabinete, Zita Formoso, e dei-lhe conta da chamada que tive com o senhor presidente da Metro do Porto”, frisou.
A reação da Câmara e as contradições
Magalhães Moreira não sabe se Sérgio Humberto ligou para o presidente da Metro do Porto depois de ter deixado o alerta, certo é que ao início da tarde de quinta-feira a autarquia já tinha reagido à notícia da demolição, remetendo responsabilidades para a Metro do Porto e justificando que “rejeitou” a proposta feita pela empresa, “no passado”, de ficar com a propriedade da ponte, porque além de “acarretar um enorme esforço financeiro para a Câmara Municipal”, esta “não encerra qualquer valor patrimonial arquitetónico ou cultural”, “não está abrangida pelo projeto de extensão do Metro do ISMAI até à Trofa”, “não é fundamental para a rede de ciclovias que está projetada para o Concelho” e “representa um estrangulamento da via e um ‘perigo eminente’ para os milhares de automobilistas que circulam todos os dias na EN14”.
O executivo camarário escreveu ainda no comunicado, na proposta feita à Câmara, que a Metro do Porto tentou “a passagem do ónus da salvaguarda da responsabilidade civil sobre o Pontão, bem como a responsabilidade da manutenção, conservação e limpeza da estrutura para a Câmara Municipal da Trofa, sem qualquer contrapartida”.
Ora, esta explicação é contrária à informação dada por Conceição Campos, elemento da Junta de Freguesia do Muro, que afirmou ao NT que, quando o presidente da Junta, Carlos Martins, esteve na reunião de Câmara, “foi referido que a Metro do Porto ofereceu o valor da demolição para ficar com a Ponte da Peça Má e que o presidente Sérgio Humberto não aceitaria”. Esta versão foi, esta quinta-feira, confirmada por Carlos Martins.
Sérgio Humberto garantiu que “população” é que decidiria futuro da ponte
O próprio presidente da Câmara garantiu, em dezembro de 2015, numa Assembleia Municipal, que a demolição da ponte era “uma decisão que a Metro do Porto não vai tomar sem antes ouvir a Câmara Municipal”. “A decisão não vai ser do executivo municipal, essa decisão vai ser da população”, acrescentou na mesma intervenção, abrindo a porta à criação de uma comissão ou à realização de um referendo.
Mas essa comissão não chegou a ser criada e o referendo também não foi mais que uma palavra dita.
Conceição Campos atribui culpas da demolição “a todos os executivos que passaram pela Câmara Municipal até agora” e até “à Junta de Freguesia”. “Quando isto acontece, a culpa é de todos”, sublinhou, sem deixar de referir que o Muro “está de luto”.
Projeto alternativo à demolição custava “entre 30 a 40 mil euros”
Não foi possível apurar qual o valor exato do custo da demolição. Uma fonte afirmou ao NT que terá custado aos cofres da Metro do Porto cerca de 35 mil euros, mas Carlos Martins, presidente da Junta do Muro afirmou que “seriam 60 ou 70 mil euros”. Porém, há quem assegure que, por valores similares, era possível solucionar o problema da circulação dos camiões naquele local. Fontes confirmaram ao NT que, há um ano e meio, o empresário trofense Eurico Ferreira custeou a elaboração de um projeto de correção da estrada, uma intervenção que custaria entre “30 a 40 mil euros”. O mesmo tinha afirmado na Assembleia Municipal de dezembro de 2015 ter uma alternativa que garantia “espaço e altura para fazer duas faixas de rodagem”, que permitissem a passagem simultânea de camiões em sentidos contrários: “Duas faixas de rodagem de três metros e meio” e “altura mínima no ponto mais crítico de 4,81 metros”.
Esse mesmo projeto chegou à Junta de Freguesia que, segundo Conceição Campos, até contou com a colaboração do murense e historiador Moutinho Duarte que “ofereceu o terreno (junto da ponte) para que, se fosse necessário, se fizesse o alargamento da estrada”.
“Estávamos à espera que houvesse uma comissão, conforme foi decidido numa Assembleia, e fôssemos chamados à Câmara para mostrar o estudo, para falar desse projeto e explicar que os custos não são assim tão grandes e teríamos quem nos ajudasse se a Câmara não tivesse dinheiro”, contou.
Reações políticas
Não foi possível apurar qual o valor exato do custo da demolição. Uma fonte afirmou ao NT que terá custado aos cofres da Metro do Porto cerca de 35 mil euros, mas Carlos Martins, presidente da Junta do Muro afirmou que “seriam 60 ou 70 mil euros”. Porém, há quem assegure que, por valores similares, era possível solucionar o problema da circulação dos camiões naquele local. Fontes confirmaram ao NT que, há um ano e meio, o empresário trofense Eurico Ferreira custeou a elaboração de um projeto de correção da estrada, uma intervenção que custaria entre “30 a 40 mil euros”. O mesmo tinha afirmado na Assembleia Municipal de dezembro de 2015 ter uma alternativa que garantia “espaço e altura para fazer duas faixas de rodagem”, que permitissem a passagem simultânea de camiões em sentidos contrários: “Duas faixas de rodagem de três metros e meio” e “altura mínima no ponto mais crítico de 4,81 metros”.
Esse mesmo projeto chegou à Junta de Freguesia que, segundo Conceição Campos, até contou com a colaboração do murense e historiador Moutinho Duarte que “ofereceu o terreno (junto da ponte) para que, se fosse necessário, se fizesse o alargamento da estrada”.
“Estávamos à espera que houvesse uma comissão, conforme foi decidido numa Assembleia, e fôssemos chamados à Câmara para mostrar o estudo, para falar desse projeto e explicar que os custos não são assim tão grandes e teríamos quem nos ajudasse se a Câmara não tivesse dinheiro”, contou.
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