Ano 2007
Desconfiados
"Quando a esmola é grande o pobre desconfia". Este é um de entre muitos ditados populares onde se afirma uma das "qualidades" do povo português: A desconfiança. Segundo os mais recentes estudos somos um povo muito desconfiado. Desconfio que somos os maiores (nalguma coisa teremos que ser).
Desconfiamos de tudo e de todos. Se alguém promove alguma iniciativa tendente a elevar os padrões culturais da população, desconfiamos que é para se auto promover. Se alguém fomenta um grupo de jovens, é porque se quer mostrar. Nunca damos crédito a quem o merece, temos sempre alguma dúvida acerca das intenções de toda a gente (excepto da nossa).
Muito do trabalho que é feito em prol da comunidade é desvalorizado promovendo o desencanto de quem o impulsiona, e que leva, a maior parte das vezes ao abandono de novos projectos.
Cada vez mais a sociedade portuguesa, e a trofense, carecerá destes "carolas" para fazer tudo aquilo que as entidades públicas vão deixando de fazer. As últimas noticias são uma ilustração disso mesmo.
É o abandono dos alunos com necessidades especiais, são os doentes crónicos, o desemprego e as dificuldades do dia a dia, os sem abrigo, os toxicodependentes, os idosos, toda uma panóplia de necessidades que o Estado, e as autarquias, vão, cada vez mais, esquecendo.
Temos que aprender a confiar em quem se dispõe a gastar o seu pouco tempo livre em prol da comunidade, mas também temos que ser firmes a exigir responsabilidades a quem tem obrigação de apoiar e incentivar a pratica de desporto, a cultura, o recreio e o lazer das populações.
Mas depois surge o reverso de tudo isto que vimos referindo. Quando é necessário desconfiar somos crédulos, acreditando em tudo o que nos põem à frente. E Não é uma vez, é sempre.
Acreditamos que este seria o concelho maravilha deste Portugal.
Acreditamos que os jovens teriam espaços para praticar desporto e passar os seus tempos livres.
Acreditamos que a construção seria equilibrada no respeito pela sustentabilidade, e que teríamos mais espaços verdes (já nem sabemos o que se vai passar com o Parque Sra. Das Dores).
Acreditamos que o desenvolvimento do concelho seria no respeito pelo Plano Director Municipal, que seria aprovado nos 3 primeiros anos (já passaram 9…).
Acreditamos que teríamos o Rio Ave despoluído e a servir de sala de visitas da nossa terra.
E o pior é que continuamos a acreditar. È aqui que devíamos desconfiar daqueles que tudo prometem e, uma vez no poleiro, tudo esquecem. É aqui que temos que justificar o nosso "título" de mais desconfiados da Europa, e passar a acreditar naqueles que, apesar de muito pressionados, tem uma opinião na Trofa e em Lisboa, não mudando de opinião conforme os seus líderes partidários, governos ou interesses pessoais.
Paulo Queirós
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