Edição 564
Da Trofa para a Grécia para ajudar os refugiados
Foi numa conversa de café que a trofense Helena Areal percebeu que, simplesmente a falar, não conseguiria ajudar as pessoas que fogem da guerra para salvar a família e procurar uma vida melhor. Face às notícias que pululavam nas televisões e jornais, decidiu agir. Largou tudo e viajou para a Grécia para ajudar os refugiados que, hoje, vivem graves problemas devido ao encerramento das fronteiras. Em entrevista ao jornal O Notícias da Trofa, esta trofense, que está em Idomeni desde 5 de fevereiro, testemunhou que “a esperança” deu lugar “à desolação”, mas não baixa os braços e até iniciou uma campanha de recolha de calçado.
Na Trofa, Helena Areal acompanhava com apreensão as notícias da situação dos refugiados na entrada para a Europa. Sentia que devia tomar uma atitude, mas foi “a reação das pessoas” que a rodeavam que serviram de incentivo extra. “Percebi o medo que tinham da vinda dos refugiados para Portugal e senti que algo terrivelmente mau estava a acontecer no mundo. Decidi que não queria ser espectadora, queria fazer parte. Quando tive oportunidade parti para a Grécia”, contou.
Instalou-se em Idomeni, último local na Grécia antes da entrada na rota dos Balcãs e onde os refugiados decidem se continuam caminho até à Europa Central ou Ocidental, se continuam a vida na Grécia ou se voltam para trás. “Não sabia se vinha ajudar ou que vinha fazer. Sabia que me ia fazer presente, dizer que me importo e que eu sei – e sinto – que são apenas pessoas como eu, que posso lutar com elas pela sua liberdade e pela sua vida”, sublinhou.
Quando chegou, Helena Areal viu um campo de acolhimento com a “capacidade normal”, ou seja, cerca de “1700 pessoas”, num sistema de chegada e partida. “Tinham acesso a refeição quente, água, roupa, um sítio para descansar e cuidados médicos. Chegavam e partiam cheias de esperança”, relatou. Mas tudo mudou quando a fronteira da Macedónia fechou e a rota dos Balcãs foi dada como encerrada, a 9 de março. Se antes, esperavam entre “três horas a três dias até conseguirem atravessar a fronteira”, agora, as cerca de “16 mil pessoas” que se concentram no campo “estão há três semanas à espera” e não há expectativas de que sejam autorizadas a atravessar a fronteira. “Não têm caminho pela frente. Estão perdidas e sem saber o que fazer”, disse Helena Areal, que sente da parte dos migrantes que “não há perspetivas de futuro”. “A União Europeia diz que há o programa de relocação, de reunificação familiar mas, a funcionar, são processos muitos lentos que não vão abranger todas as pessoas nem lá perto”, complementou.
“Só conheci pessoas boas e agradecidas”
Em Idomeni, Helena Areal integra um grupo voluntário – Aid Delivery Mission (http://aiddeliverymission.org/) – que distribui “9000 refeições por dia”, complementando a atuação insuficiente das Organizações Não Governamentais. Além disso, ainda distribui roupa e recolhe informação para ajudar os refugiados “a saberem onde se encontram e que opções é que têm ou não pela frente”. E estende o apoio a pessoas que ainda estão “no caminho para o campo”.
E às pessoas que alimentam o mito de que os refugiados vêm desestabilizar a Europa, Helena Areal responde que “precisam de abrir a mente e encarar as coisas de outra perspetiva”. “Nunca vi nada que sustentasse essa ideia. Só conheci pessoas extremamente boas e agradecidas, que apenas pedem um lugar seguro para recomeçar a sua vida. As pessoas contam a sua história a maior parte das vezes com a esperança que possamos fazer alguma coisa para lhes abrir caminho. E é isso que me parte o coração, quando não há nada que possa fazer em relação a isso. Não há nada que eu possa fazer para acabar com as fronteiras, para lhes dar a liberdade de escolher um sítio onde recomeçar a sua vida. É isso que elas precisam, e é isso que eu sonho também para elas”, afirmou.
Para Helena, “terrorismo são as regras e as fronteiras fechadas que a União Europeia implementou”.
Também a situação dos voluntários “é de chegada e partida”. Uns vêm, dão do seu tempo e, a certa altura, têm de partir. Na casa de voluntários onde Helena se encontra “já chegaram a ser 70”, mas também já se circunscreveram “a 30”. E quem ajuda vem de todo o lado: “Alemanha, Grã-Bretanha, Suiça, Suécia, Itália, Espanha, América, Australia, República Checa, Croácia, etc”.
O espírito escutista já fez Helena Areal abraçar outras causas. Em 2007 começou por ajudar no lar Lar Padre Joaquim Ribeiro, na Trofa. No mesmo ano, na Roménia, integrou o projeto de animação infantil “Um sopro de alegria”, do Corpo Nacional de Escutas, onde contribuiu para que crianças órfãs tivessem férias especiais e em 2013, em Angola, foi voluntária no Grupo de Apoio a Pessoas com Albinismo.
Helena está a recolher donativos
De regresso a Portugal, Helena Areal pediu fundos para comprar uma carrinha, que desse apoio na distribuição de refeições. Graças a um amigo, que vai emprestar uma viatura pelo tempo que quiser, a voluntária trofense virou-se agora para outra missão: angariar fundos para “financiar a viagem de Portugal à Grécia” e “comprar bens de ajuda direta aos refugiados”, como tendas e comida. Além disso, Helena está ainda a participar na campanha de recolha de calçado novo e usado em bom estado para ser transportado na carrinha até à Grécia. Para saber mais sobre a campanha de recolha do calçado, pode acompanhar o evento “A Balka”, no Facebook, mas na Trofa o ponto de recolha é na sede do agrupamento 94 dos escuteiros de S. Martinho de Bougado, no sábado, 19 de março, das 15 às 18 horas, e no domingo, 20 de março, das 10 às 12.30 horas e das 15 às 19 horas.
Os donativos em numerário podem ser feitos para o IBAN PT50 0018 000324951782020 91 (Swift code: TOTAPTPL).
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