Edição 466
Cruz Vermelha quer novas instalações para cantina social
Delegação da Trofa da Cruz Vermelha Portuguesa quer novo espaço para a cantina social e novas valências: posto de alojamento urgente e banhos públicos.
Nos primeiros dois meses do ano, foram servidas 1910 refeições na cantina social. Os dados, divulgados pela presidente da delegação da Trofa da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), mostram que, se 2013 foi um ano difícil, mas também 2014 não se adivinha fácil para as famílias trofenses.
Em entrevista ao NT e à TrofaTv, Daniela Esteves, presidente da instituição trofense, afirmou que, mensalmente, o refeitório social “Porta dos Sabores” está a servir uma média de 955 refeições, num gráfico que teima a desenhar-se com uma linha ascendente. Só para efeitos de comparação, em janeiro de 2013, a cantina social serviu 619 refeições, e no mesmo mês deste ano serviu 962.
Os pedidos crescentes têm obrigado a CVP a encontrar meios para dar uma resposta adequada às necessidades. E se, por um lado, as campanhas de angariação de alimentos e o apoio das voluntárias têm-se revelado um sucesso, por outro, as atuais instalações da cantina revelam-se cada vez mais “exíguas”. No início do projeto, eram cerca de 20 os utentes apoiados, hoje, são mais de 50.
Para “dar dignidade” à ação, a direção da instituição vai ampliar a resposta, com a garantia de um espaço maior, permitindo, igualmente, apostar em novas valências. “Queremos ter um pequeno posto de alojamento urgente, para pessoas que, por motivos imprevistos, fiquem desalojadas. É uma resposta muito temporária, mas que ainda constitui uma lacuna no concelho. Também tencionamos ter um dispositivo para banhos públicos”, revelou Daniela Esteves.
“Centralidade” e “privacidade” são os requisitos que pesam na avaliação dos locais que a direção está a estudar, ao mesmo tempo que tenta apoios junto de “entidades privadas e públicas”, para implementar que o dispositivo esteja a funcionar “ainda em 2014”. O objetivo não é “fazer obra de betão”, porque “não há dinheiro”, mas sim “canalizar as poucas verbas disponíveis” para a ação junto da população carenciada. “Juntamente com essas entidades públicas e privadas locais, estamos a fazer todos os esforços no sentido de arranjar um espaço que sirva para dar dignidade à nossa ação. Estou certa que quando o projeto estiver muito bem solidificado, as pessoas vão querer associar-se e sem dúvida vão apoiar esta obra que dignifica todos os trofenses”, sublinhou.
Daniela Esteves convidou “todos os que queiram visitar a cantina” para perceber o porquê da necessidade da evolução do projeto que, enfatizou, “não conta com apoio nenhum”. “As refeições não são financiadas, são servidas apenas com a generosidade das pessoas, quer pela doação de géneros, quer pelo trabalho dos voluntários que cozinham as refeições”, acrescentou.
Um ano de mandato
A 15 de março completou um ano que Daniela Esteves assumiu a presidência da direção da delegação. Ficou com uma herança pesada, fruto de problemas financeiras que poderiam ter colocado em causa a continuidade do trabalho da CVP na Trofa. Um ano depois, a responsável afirma que a situação financeira está controlada: “Há um ano encontramos situações de funcionários com dois meses de salários em atraso e de dívidas a fornecedores. Hoje em dia, ninguém pode dizer que a Cruz Vermelha deve o que quer que seja. Mantém-se apenas o compromisso que fizemos na reformulação do pagamento de 75 mil euros (da sede) e que representa uma prestação mensal bastante grande”. Daniela Esteves aproveitou para “sensibilizar as pessoas” para que deem apoios financeiros, no sentido de a delegação conseguir fazer face à despesa mensal que anda à volta de “cinco mil euros”.
A instituição foi ainda “obrigada” a adquirir uma carrinha, com o apoio de privados, uma vez que a anterior “não estava em condições para circular”.
Em contrapartida, revela, a Cruz Vermelha, que “não tem apoio da Segurança Social e, às vezes, até a substitui”, dá resposta “a todas as solicitações que lhe chegam, quer a nível da alimentação, de vestuário e até mesmo financeiro”. “Acompanhamos 300 processo de RSI (Rendimento Social de Inserção), em 2013 demos 432 apoios alimentares de emergência e em 2014 já demos 57 e em termos de excedentes alimentares demos 2108 apoios, em 2013, e 685, nos primeiros dois meses deste ano”, frisou. A CVP atua ainda na gestão de processos da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, em consultas de psicologia e outras ajudas técnicas.
Apoio alimentar com “regras” de atribuição
O facto de a delegação orgulhar-se de responder a todas as solicitações alimentares não faz com que esse apoio seja indiscriminado. Daniela Esteves revelou que “foram criadas regras”, uma vez que da parte dos beneficiários “há direitos e deveres que devem ser respeitados”. “Há pessoas que não vão ser contempladas, uma vez que não tiveram uma postura correta. Por exemplo, houve quem se recusasse a participar em ações de formação e, por isso, tiveram um corte no apoio alimentar. As pessoas têm de ser merecedoras e mostrar que estão envolvidas na recuperação da estabilidade familiar e financeira”, explicou.
A presidente da delegação da Trofa da CVP aproveitou para “agradecer às empresas e particulares que vão ajudando, pontualmente, sobretudo em géneros alimentares”, assim como “aos voluntários que tornam possível a ação da instituição, às pessoas que cedem o espaço da Loja Social e do armazém para guardar os alimentos e à Unicer que reformulou a Loja Social”.
Projeto Outra Face termina em junho
“Está a ser uma ação brilhante”. É desta forma que Daniela Esteves caracteriza o projeto “A Outra Face”, que visa a promoção da igualdade de género. O projeto financiado termina em junho, mas a presidente considera que “ainda há tanto para fazer nesta temática”. A “semente” foi lançada e para regá-la, a CVP vai tentar apoio junto de “privados” para continuar a desenvolver ações junto da população.
A próxima iniciativa inserida no projeto passa pelo lançamento de um livro, sobre uma história que remete para o tema da igualdade de género e que foi inspirada nas ilustrações da agenda, também publicada pela instituição.
Outro projeto que envaidece a CVP é o “Cross Stars”, que integra 27 jovens pelo desporto, através do kickboxing, num trabalho feito em parceria com a escola LifeCombat. “Alguns destes jovens já tinham registos de comportamentos desviantes e pusemos mãos à obra”, recordou.
O ano passado, sete atletas foram campeões nacionais e há duas semanas seis venceram na Taça de Portugal. “Os resultados são muito positivos e pretendemos dar continuidade ao projeto, que neste momento precisa de um apoio maior, porque não conseguimos melhorar o material que existe”, frisou.
No dia 3 de maio, a Trofa recebe o Campeonato Regional de Kickboxing, que terá lugar no pavilhão da Escola Básica e Secundária do Coronado e Covelas.
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